19/11/2016

NIGHTCLUBBING

Amazing Grace

Quando eu era pivete de uns dezenove, vinte anos, torcia o nariz para os tiozões de trinta, quarenta, que frequentavam as boates da petizada. Hoje, que sou eu mesmo um tiozão, honro meu passado e fico em casa. Aproveitei na hora certa, hoje não tenho mais a mínima paciência para noite, boate, fila, molecada...

Então quase desisti do show da Grace Jones, que aconteceu ontem no Tom Brasil. Fazia parte do aniversário da D-Edge, e semanas depois de ter comprado o ingresso comecei a imaginar que seria mais balada do que show, pensei que ela poderia cantar só meia hora em live P.A. e entregar para o DJ, achei que seria mais proveitoso vender o ingresso para comprar remédios para a gripe, manta para o sofá, botar feijão na mesa. Felizmente respirei fundo e fui.

Dificilmente haverá outro show desses; Grace Jones está com quase setenta anos, mas em plena forma. No curto e intenso show de ontem ela foi de pole dance ao bambolê, com corpo todo pintado à la Keith Haring, aparentando estar se divertindo muito. Verdade que a voz não está tão potente, e ela errou e esqueceu diversas vezes as letras, mas, se ela se lançou com uma cantora de disco com vozeirão, sua marca registrada nos anos 80 foi mesmo a sonoridade cool do dub, mais declamada do que cantada, então a maior parte de seu repertório não exige muito da voz, e a banda excelente manteve o alto nível musical, com baixo, guitarra, bateria, percussão, teclados e duas backing vocals.

Grace Jones é mesmo uma presença, e parece que a maior parte do público estava lá por isso, pela imagem (talvez pela "influência" dela em cantoras mais novas) sem conhecer muito das músicas- nas diversas vezes que ela entregava versos à plateia, ouvia-se apenas respostas esparsas. Mas ela levantava o público o tempo todo, interagindo, divertindo a todos, totalmente entregue ao show. Foi emocionante.

Cantou os sucessos indispensáveis, pouco mais. Foi um show curto, com poucas músicas em versões que se alongavam em jam sessions deliciosas. Nisso ela mata a pau as cantoras pop da atualidade: é música de verdade; eu mesmo fui anos atrás num show da Lady Gaga (para citar uma influenciada óbvia) e achei uma coisa pop cafonérrima, overproduced, com a banda sempre em segundo (ou terceiro) plano.

Fora o show, a festa teve um punhado de DJs bacanas, mas não fiquei para assistir - o Tom Brasil tem estrutura mais para show mesmo do que balada. Assim valeu muito ter saído de casa, desbravado novamente a noite, encontrado tantos amigos queridos das antigas. Tem sido um ano funesto, mas esses respingos de felicidade deixam meu suicídio para o dia seguinte.

Set list foi mais ou menos isso, sem bis (esqueci alguma?)

Nightclubbing
This Is
Private Life
My Jamaican Guy
Nova (Shenanigans?)
William's Blood
Amazing Grace
Libertango
Love Is the Drug
Pull up to the Bumper
Slave to the Rhythm

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