21/01/2016

NIGHT THOUGHTS

Já contei incansavelmente aqui como Suede é a banda mais importante da minha vida, formadora da minha adolescência, como já troquei ideias com eles e assisti a shows pelo mundo, Inglaterra, Rússia, Brasil. etc.

Agora eles lançam o sétimo álbum de estúdio - segundo desde a reunião da banda em 2010 - e a (minha) expectativa estava grande, pelas faixas ao vivo que pipocaram, resenhas entusiasmadas dos últimos dias e a ideia do disco em si. Foi pensado para ser um álbum conceitual, com faixas interligadas, que formam a trilha de um média metragem, encartado junto em DVD, sobre um casal suburbano em crise de DR.

A ideia do álbum conceitual é sedutora, e vai na contramão da tendência de se ouvir faixas soltas, em shuffle e playlists. (Mas se vanguardistas eletrônicos como Röyksopp anunciaram o fim do formato álbum - lançando The Inevitable End como uma despedida -, Bowie se despediu do mundo em grande estilo, com um álbum absurdamente conceitual, sobre sua morte.) Ainda que o conceito de Night Thoughts em si não me pareça grande coisa - uma crise conjugal de meia idade não seria  grande combustível para um disco de rock alternativo - é empolgante ver que se tornou um projeto mais ambicioso e "artístico" para a banda

Então vamos ao disco em si.

Night Thoughts já começa chutando a porta, anunciando o tom épico com When We Are Young. O primeiro acorde remete instantaneamente à trilha do filme "Tubarão", então entra a orquestra e em seguida a banda em si, mostrando que a coisa vai ser grandiosa. Impossível não comparar com "Introducing the Band", primeira faixa do Dog Man Star, em intenção, porém musicalmente lembra mais "Unsung", do último disco solo de Brett Anderson. E é igualmente linda. Eles souberam fisgar o ouvinte desde o começo.

Daí já emenda para Outsiders, primeiro single do disco, rockzinho pós-punk divertido, que lembra bem Placebo e, se não se destaca tanto isolado, funciona para dar uma aquecida.

Segue com No Tomorrow, outra das poucas mais "movimentadas" do disco, que também já foi divulgada aí como um pseudo-single, junto a "Like Kids", que tem uma pegada semelhante e, ao meu ver, são as piores faixas do álbum, com um falsete forçado de Brett (que, na verdade, está em quase todas as faixas) e uma urgência fake de fazer um hit.

Mas ouvindo na ordem, de "No Tomorrow" segue para Pale Snow, que estranhamente também já tinha sido soltada pela banda, embora no álbum funcione mais como um belo interlúdio, suavizando o clima para a faixa seguinte. É bonita.

I Don´t Know How to Reach You já tinha sido tocada bastante ao vivo pela banda e já era das minhas favoritas. A versão do disco não se sobressai ao que eles tocam nos shows, mas também não fica atrás. Aqui temos o melhor trabalho de guitarra de Richard Oakes, com um solo fodido logo após o primeiro refrão. Certamente é a espinha do disco, a faixa mais representativa, e a mais longa (com pouco mais de seis minutos).

What I´m Trying to Tell You é outra das minhas favoritas. Para mim poderia ser o melhor single do disco - um cruzamento de "Golden Gun" (um b-side deles que só eu gosto) com "Beautiful Ones" (incluindo um final de lalalás). Eu já tinha ouvido (e baixado) uma versão ao vivo, que talvez eu goste mais, porque tem guitarras mais definidas e pesadas, porém a pegada mais "pop" no álbum é bem bacana. E adoro a letra: I never make the best impressions. And I don´t have the means of expressions to explain my obsessions. É o tema que Brett Anderson já explorou a exaustão - "we are trash" - de ser um ser zoado, sem grandes qualidades, mas isso ser legal. ("Outsiders" é um pouco disso também... e quem quiser mais antigas "Trash", "Lazy", "Cheap", "Lowlife", "Refugees"... que mais?)

Vamos à minha terceira favorita, Tightrope, com a qual confesso que me decepcionei um pouco. É outra das que eles tocam já há um tempo, quase sempre só voz e violão, mas aqui tem um arranjo meio morno com a banda. Talvez eu só precise me acostumar - talvez eu estivesse esperando demais - mas não tem o tom grandioso que as versões acústicas prometiam. Também é uma faixa curta, com menos de quatro minutos. (Essa é das coisas que não entendo no Suede de hoje. Quer ser épico, mas tem medo de fazer faixas realmente longas.) De todo modo, é uma bela música. Espero que Brett consiga manter aquelas notas lá em cima para continuar cantando ao vivo.

Learning to Be era a única de que eu não tinha ouvido nada, nem trecho, nem ao vivo, não tinham soltado no Youtube, e me surpreendeu. É meio um interlúdio, mas ainda é uma bela música... meio creepy. Termina antes do que deveria, daí recomeça com um cântico de mulher, umas crianças, abrindo para...

Like Kids, de que já falei lá em cima. E que será a faixa que ficarei tentado a pular. (Falsa como a "Hit Me" do Bloodsports). Tudo bem, é perdoável. Se esse é o novo Dog Man Star, essa é "This Hollywood Life".

Aparentemente querendo se redimir, eles vão para I Can't Give Her What She Wants, que também já tinha escapado por aí ao vivo. Uma balada total Bloodsports ("What Are You Not Telling Me" é a mais imediata), que não é o melhor que eles têm a oferecer, mas não faz feio.

Emenda com When You Were Young que é outro interlúdio e uma breve reprise do tema de abertura. Funciona para reforçar essa unidade, que talvez precisasse de mais reforço. Night Thoughts é um disco conceitual, mas Bloodsports também tinha um conceito bem forte de "relações amorosas como uma questão bélica", desde o título até as letras, com "barreiras", "fronteiras", "sabotagens", "aviões caídos", "guerra fria" (essa última tirada de uma música que eles nunca lançaram, e que consegui gravar naquele show da Rússia- aliás, sintomático que eles tenham debutado muitas faixas que nunca viram a luz do dia naquele show da Rússia - e que por sorte, na época, eu estivesse morando ao lado, na Finlândia. Enfim, você encontra fácil online [Cold War] [Glavclub] ficam as dicas ;)

O álbum termina com The Furs and the Feathers.. que foi outra semi-decepção. Ouvi uma versão acústica dias atrás. Esperava algo tão glamuroso com esse título... Se esse é o novo Dog Man Star esperava ao menos uma nova "Still Life". Não é. É uma baladinha Bloodsports com orquestra, mas não muito grandiosa. Mas é bonitinha.


VEREDITO: É bem bom. Não é "o melhor disco do Suede" como alguns tem dito por aí. Não tem a consistência do Dog Man Star, me desculpe, não tem uma letra que chegue aos pés de "The Asphalt World", "New Generation". Não consegue ter o apelo pop de Coming Up. Mas se encaixa lindamente na discografia da banda. Não assisti ao DVD/filme ainda, nem estou ansioso, mas isso me pareceu mais uma ideia posterior, pela qual não me empolgo muito. O álbum funciona como álbum tão bem como (quase) qualquer álbum deles. As emendas são "emendas", as faixas não estão interligadas, só foram editadas/mixadas de uma forma que mais ou menos fluíssem, vamos ser honestos. Na verdade são um bando de canções que Brett fez sobre suas questões de pai de família e eles editaram de forma a parecer um "conceito".

Mas é um belo, um belo disco.

O que me faz repensar o que eu mais gostaria de ouvir do Suede no futuro... Seria algo mais experimental, menos lalalá, menos pseudo-hits, deixe as faixas fluirem, seis, sete, doze minutos... "When We Are Young" poderia ter se beneficiado disso, ter sido uma faixa longa. Aproveitando: podiam ter feito várias outras faixas longas, agora que não há mais limitação de espaço (ou se já iam lançar um vinil duplo)...

Enfim, expectativas demais...

Se for para colocar meu ranking deles:

DOG MAN STAR
SUEDE 
COMING UP
NIGHT THOUGHTS
BLOODSPORTS
A NEW MORNING
HEAD MUSIC

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