06/03/2015

IMORTAL DA ACADEMIA

Aos 33, na minha melhor forma...


Se ele quisesse voltar a fazer sucesso era bom cuidar do peso. Os quilos a mais eram a imagem flagrante para os fãs de que ele não era o mesmo – havia fracassado no teste do tempo, cometera o pecado de envelhecer. Mas, porra, não podia nem comer? Então deveria voltar a fumar. Tinha de ficar longe das drogas, evitar a bebida, o cigarro, maneirar na comida – a vida só lhe exigia privação, prender a respiração, para que pudesse continuar respirando. (de BIOFOBIA).


Sempre tentei equilibrar a vida de atleta, junkie, intelectual... Não é uma tarefa fácil. Trabalho em casa, gosto de comer, meu namorado cozinha muito bem, então a academia é uma necessidade diária, para gastar energia, queimar combustível, ventilar a cabeça, conseguir dormir... Apesar de já estar bem distante das drogas, adoro beber, mas aos 37 anos cada gota tem seu preço, e ainda que o álcool ajude a soltar um pouco a escrita, inviabiliza (para mim) a leitura, embaralha as ideias...

Voltei a nadar esta semana. Ano passado inteiro só fiz musculação e fui inchando, inchando... Decidi parar com tudo. Achei que sentiria falta. Não senti. Na verdade, foi um alívio acabar com essa obrigação diária, ter de sair de casa, ver aquele povo de academia, ficar nos mesmos exercícios que faço há mais de uma década...

Mas o corpo exige. Nessa idade não tem jeito...



Mesmo no longo inverno que passei na Finlândia, era assim que ia pedalar todos os dias, a -10C. 


Treinei caratê a adolescência toda, parei na faixa marrom. Malho desde os 25. Com tal dedicação que mesmo em viagens eu procurava uma academia local - já treinei no Japão, Colômbia, Dinamarca, Alemanha, Argentina.... Aos 33 anos, morava na praia, em Florianópolis, fazia academia, kite surfe, scuba dive, corria na praia, pedalava, caminhava horrores todos os dias. Toda minha rotina e meu lazer exigiam intensa atividade física. Era impossível não ficar com meu melhor corpo.

Com minha roupa fetiche de surfista X-man. Queria poder andar assim pelo baixo augusta. 



Em São Paulo é exatamente o contrário. Parece que todas as possibilidades de diversão envolvem comer, beber ou se drogar. Não existe coisa mais deprê do que ir correr no Ibirapuera, sábado de manhã, em fila com a multidão, talvez só pedalar na ciclovia da paulista. Deprê. O paulistano é condenado à academia.

E elas abusam. Dei um giro procurando academia com piscina. Uma grande rede me ofereceu um plano anual de mais de SETE MIL reais, com horário marcado, duas vezes por semana. "E se você precisar de toalha a gente tem pra alugar." (Mercenários da porra. Pagando seiscentos reais por mês o mínimo que eles deviam ter era uma toalhinha cortesia!)

Acabei voltando pra minha antiga, por menos da metade. (E eu daria o nome aqui, se fosse um plano de cortesia...). Foi bonitinho a festa que a instrutora da natação fez. Colocou o CD de músicas kitsch que eu tinha gravado pra ela...

Nadei ontem com palmares, paraquedas, todos os acessórios que criam resistência e exigem mais dos músculos. Achei que estaria destruído no dia seguinte. Não estou. Não sinto dor alguma. Novembro passado, de visita em Florianópolis, peguei a bicicleta para girar pela ilha; achei que eu estaria totalmente enferrujado. Também não estava. Pedalei mais de cinquenta quilômetros num dia. Tranquilo. Acho que o corpo não se esquece tão facilmente de uma vida dedicada.

O mundo literário é um mundo sedentário. Não se leva a sério um escritor com tanquinho. Já o mundo gay é um mundo cruel, beleza é questão de sobrevivência. Volto a buscar um equilíbrio. E acima de tudo,me sentir bem comigo mesmo. Os quarenta estão chegando, nunca serei um imortal, mas ao menos já consegui uma academia com piscina. Não é pouco nesses tempos de seca.


Água tem, mas tá salgada. 



MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...