29/12/2014

DO QUE MORREM OS ESCRITORES



Aqui: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/12/1567614-pesquisa-informal-mostra-que-poucos-escritores-se-sustentam-pela-venda-de-livros-no-brasil.shtml


A capa da Ilustrada da Folha este sábado foi uma pesquisa que fiz com 50 autores brasileiros sobre venda de livros e renda mensal. Foi aquela velha pergunta: "Do que você vive?", que confirmou a impressão que eu tinha de que os autores estão vivendo de literatura, mas não exatamente da venda de livros. Atividades correlatas, como oficinas literárias, debates, prêmios, venda de direitos etc rendem mais do que a venda de livros em si, a exceção fica para os autores de literatura juvenil, ou de entretenimento.

 A ideia da pauta foi minha - depois de ler sobre a questão da lei de preço fixo para os livros - imaginei que o preço de livro fosse mais uma discussão de livreiros e editora do que de autores. Criei um questionário com perguntas como "de onde vem sua renda principal", "o que acha do preço dos seus livros", "qual está a situação do autor hoje em relação há vinte anos", "qual é a sua ambição como autor". Mandei para 60 autores, 50 me responderam - procurei distribuir em diversos gêneros e me concentrar no autor de público médio (ou seja, que vende a média brasileira); não teria sentido encher de bestsellers/exceções, tampouco lotar de autores desconhecidos.

Os questionários renderam dados sintomáticos e consegui tirar aspas interessantes para as discussão. A queridíssima Raquel Cozer editou. Infelizmente, mesmo sendo capa, é um espaço bem limitado para aprofundar a discussão; pelo menos se estendeu pelas redes sociais e rodas de bar, com os chatos de plantão - que não devem ser nomeados - dizendo que não é bem assim, ou querendo apenas polemizar por terem sido deixados de fora.

Impressionante como qualquer lista envolvendo escritores no Brasil gera birras e inimizades - mesmo uma dessas, em que os autores não ganham objetivamente nada. Eu mesmo não deixo de assumir meu desapontamento em ser deixado de fora de tantas essas, mas não deixo de reconhecer boas seleções que me excluem (como a de Frankfurt e de Paris, ambas que considero bem equilibradas).

É por isso que não fiz minha lista de "melhores do ano" na literatura. Trabalho com isso, li grandes autores que divulguei este ano aqui ou no Facebook, mas ainda estou em dívida com tantos outros que lançaram livros; seria uma lista muito relativa se eu colocasse apenas os que li, prefiro não fazer. (Dia desses vi uma lista vergonhosa de algo como "homossexualidade na literatura contemporânea" que tinha um punhado de autores jovens e excluía gente como Glauco Mattoso, João Silvério Trevisan, João Gilberto Noll, Hugo Guimarães, acho que até o Marcelino Freire entrou no segundo tempo. Se é pra fazer, pesquisa direito, porra.)

Enfim, criar listas e criar inimizades...

Tenho visto BIOFOBIA em algumas seleções de melhores do ano, fico honrado em ser lembrado, mas também são visões muito parciais. Melhor esperar os júris me excluírem ano que vem...


No mais, sigo hoje para a praia, encontrar meu loirin em Santa Catarina. Boas viradas por aí.


26/12/2014

ENTÃO É NATAL


Eu, como um dandizin no fantasma de um Natal Passado. 

Deixei o Natal passar para não ejacular na sua cidra, mas fiquei remoendo aqui as dores e delícias desse feriado tão pouco brasileiro.

A menina se senta no colo do Papai Noel e pergunta: "Papai Noel, você rói unha?" ao que ele responde: "Hohoho." Vamos ao post. 

Eu odeio e amo o Natal... acho que mais odeio do que amo, penso depois de criar esta lista - a segunda foi bem mais difícil - é um segundo inferno astral no ano


Com a rena, em 2012, na Lapônia. 

Não querendo dar uma de Grinch, mas... Bem, vamos lá: 


DEZ COISAS QUE ODEIO NO NATAL:


- Se você vive de frilas, como eu, é um mês perdido... ou um mês e meio. Tudo para. Os trabalhos param. O financeiro entra de férias e só te paga em meados de janeiro. E a esperança do ritmo voltar ao normal é só depois do carnaval.

- É um período de festas, então você já está comendo e bebendo há vários dias e não pode ou não deveria se jogar em mais uma.

- É um período de festas, então você já está gastando com as festas e tem de pensar nos presentes, tem de pensar nos presentes, mas gasta nas festas, e viagens e etc; tudo acontece ao mesmo tempo.

- É um período de festas, mas no Brasil é verão, então você não pode se vestir decentemente para as festas.

- É um período de festas, mas a maioria das festas você passa com gente que não vê o ano inteiro, com quem não tem intimidade, então não pode ou não deve afundar o pé na jaca. Tem de sorrir e ser civilizado.

- Você vê gente que não vê o ano inteiro - que vai então dizer que você engordou, ou está magro demais, que está abatido; só com muito esforço vão te achar melhor, porque sem dúvida você estará um ano mais velho.

- É a conclusão do ano. Você tem de dar sorte de esse ser seu melhor mês, porque ficará como um saldo do últimos doze. Se for um mês apertado ou de acontecimentos infelizes deixará a impressão de que foi assim o ano todo.

- Você também precisa ter grandes perspectivas para os próximos meses, o próximo ano, do contrário parecerá o fim do mundo.

- Não importa quão bom seja, não haverá Papai Noel, não haverá a completa satisfação com um simples brinquedo da Estrela. Seu Natal de hoje nunca será como o de ontem.

- E por melhor que seja, mesmo que você seja criança, sempre parecerá uma versão pirata e requentada do “Verdadeiro Natal” com neve. 



Quandos os presentes eram maiores do que eu. 


DEZ COISAS QUE ADORO NO NATAL:


- Os presentes.

- As comidas.

- Você tem desculpa e convites para farrear todas as noites.

- É horário de verão. Então você pode ter passado o dia de ressaca, mas ainda vive com alguma luz.

- Pratos, ingredientes e combinações que são estranhas ao brasileiro o ano inteiro são obrigatórios, tipo peru com fios de ovos, nozes e romã.

- E os Panetones.

- Você pode se permitir relaxar um pouco no trabalho, porque nada acontece (ou é OBRIGADO a relaxar um pouco).

- Apesar do clima sufocante você pode se refrescar um pouco com toda a ideia de neve e renas e bonecos de neve.

- O clima mais tranquilo que a cidade fica entre Natal e ano novo (no caso de São Paulo, claro).

- Por pior que tenha sido, você sente que está chegando ao fim.


Em 2011 fizeram um autêntico gingerbread com meu nome, na Finlândia.
 
No mais, feliz ano novo para vocês. Passei esta semana aqui com minha coelha e passarei a próxima semana de reveillon em Santa Catarina com meu loiro. Bjs 

18/12/2014

PASSIONAIS


A série que escrevi para o +Globosat, Passionais, agora está disponível inteira "on demand" no site, aqui: http://globosatplay.globo.com/globosat/passionais/

Apesar de não ter sido exatamente autoral - foi uma encomenda - gostei bem do resultado. A produtora Pródigo me procurou em meados de 2012, depois de terem lido meu Pornofantasma, e me convidou para desenvolver esse projeto de histórias de crimes passionais, livremente inspiradas em casos reais. Eu já havia trabalhado em alguns projetos de longa, colaborado em alguns roteiros, mas nada que tivesse dado muito resultado, então tinha pouca experiência. Me colocaram em dupla com a Paula Szutan, uma roteirista experiente que eu não conhecia, mas que acabou se revelando a melhor parceira. Criamos todas as tramas juntos. Ela deu muito da estrutura, do andamento, eu contribuí com o universo trevoso e o humor negro dos diálogos. No meio do processo entrou também a queridíssima Mirna Nogueira, que arredondou as versões finais dos roteiros. Os episódios foram dirigidos por Henrique Goldman (de "Jean Charles") e Marcela Lordy.


Com a Paula, no set do episódio da Betty Faria (2). 

A série tem núcleo central com uma história que segue em paralelo (o bar), mas os episódios podem ser vistos de forma independente. (Meus favoritos são o 4, 5 e o 10.) É muito louco você ver frases da sua vida, personagens imaginados por você ganharem vida na tela, às vezes de forma surpreendentemente positiva.


Micro-resenha na coluna da Patricia Kogut no Globo - "roteiros inteligentes", sabe como é.
Destaco algumas curiosidades.

- O título original da série era "Amor Mata", mas o produtor achava que criava um cacófago com "a marmota". Após várias discussões ("Entre Quatro Paredes", "Amor e Morte", "Cale-se Para Sempre"), eu sugeri o básico por se tratar de uma série de crimes passionais: "Passionais"; ganhou meu título.

- Procuramos variar o máximo no perfil de casais, novos, velhos, lésbicas, e nas formas de se matar. Havia também um roteiro centrado num casal gay masculino, mas ficou um pouco pesado para o canal e tivemos de adaptá-lo. Acabou se tornando um casal sadomasoquista (episódio 5, dos que mais gosto).

- Aliás, as obras de arte da dominatrix desse episódio (lindamente interpretada pela Rachel Ripani Rachi) são do meu irmãozinho Alexandre Matos, por indicação minha.

- Com uma judia no roteiro (a Paula) e outro na direção (o Henrique), tínhamos de ter um episódio da "colônia". Acabou sendo o do casal de lésbicas, que tem até uma rápida aparição do rabino Henry Sobel.

- Apesar de carregado no humor negro e no tom kitsch do roteiro, muito disso veio da direção, como as máscaras de bicho do primeiro episódio.

- Outro dos episódios de que mais gosto é o da lua de mel no navio (4). Por questões de produção, foi complicado definir o cenário, que passou de navio para resort, de resort para hotelzinho na serra e voltou para navio quando se saiu do realismo e se apostou num ar mais onírico e minimalista.

- Uma das histórias que criamos girava em torno de um casal incestuoso de pai e filha; mas também exageramos um pouco na dose e foi vetado.

- Eu só não participei efetivamente dos últimos dois roteiros, porque já tinha viagem marcada para Espanha para a turnê de lançamento de Masticando Humanos por lá.

Agora já comecei o trabalho no roteiro de BIOFOBIA (que será escrito por mim com supervisão do Marçal Aquino) e tenho outros dois projetos de série aguardando aprovação. Assim vai se abrindo uma carreira paralela que só me acrescenta como escritor.


 Assistindo a um episódio com parte da equipe. 




08/12/2014

O INCOLOR TSUKURU TAZAKI

Assinei mais uma resenha do Murakami, na Folha deste sábado:



Durante a adolescência, cinco amigos inseparáveis definem suas próprias

personalidades através do relacionamento entre eles. Com apelidos derivados de 

seus sobrenomes, Vermelho é o estudioso, Azul o esportista, Branca é a bela e 

Preta a extrovertida. Como uma quinta perna dispensável ao equilíbrio há 

Tsukuru Tazaki, o protagonista, que não tem o nome relacionado há nenhuma 

cor e nem consegue definir sua própria personalidade. É o elemento neutro, 

sobrando entre dois casais, que teme ser expulso do grupo a qualquer momento. 


Isso de fato acontece pouco depois que ele ingressa na universidade. Os 

quatro amigos o rejeitam sem explicações e Tsukuru mergulha numa depressão 

de seis meses, que o leva quase até a morte, seguido de anos de vazio que se 

estenderão até que ele decida resolver seu relacionamento com os amigos, já 

chegando à meia-idade. Para isso, ele volta à sua cidade natal, redescobre quem 

seus amigos se tornaram depois de adultos e chega até uma cidade de veraneio 

na Finlândia, onde um deles reside atualmente.


“O Incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação” é o romance mais 

recente do escritor Haruki Murakami, um dos autores mais importantes do Japão 

atual, que vendeu um milhão de cópias só no mês de lançamento desta obra. 

Escrita numa prosa objetiva com diálogos didáticos, que a assemelha a um fábula 

realista, é digerida facilmente e parece bem menor do que suas trezentas e 

poucas páginas. 


Na história da literatura não faltam protagonistas apáticos – talvez uma 

projeção idealizada de tantos autores emocionalmente derramados – mas o 

“incolor” de Murakami cumpre o seu papel exatamente ao investigar seu lugar e 

sua responsabilidade no mundo. Ao longo da narrativa, nem todas as perguntas 

são respondidas, mas a chave para a conclusão parece estar no próprio título, 

fundamentando a existência do romance durante os anos de peregrinação de 

Tsukuru. Se seus personagens monocentrados só poderiam ter nascido no Japão, 

suas buscas não deixam de ecoar verdades universais. 


Avaliação: Ótimo.

01/12/2014

O ANO DO COELHO


Tirando coelho do chapéu. 

2014 foi um bom ano. Não foi incrível, o dinheiro foi apertado, não teve nada de sensacional, mas tive algumas conquistas importantes e consegui movimentar novamente minha vida profissional e literária.

Ascendendo sem entusiasmo. 


Demorou a começar, é verdade. Até maio praticamente nada aconteceu, eu segui nas traduções, resenhas para a Folha, nas preparações para o lançamento de meu oitavo livro.


Nas gravações do trailer, com Murilo, Marcelino e Mutarelli. 

BIOFOBIA saiu no começo de maio, sem grande alarde, repercussão limitada, mas boas críticas, muitas entrevistas, um lembrete do que faço de melhor, de que ainda estou no jogo, não entreguei os pontos nem fiquei relegado à literatura juvenil.


Gravando ótima entrevista no Metrópolis. 

Os lançamentos em São Paulo, Rio e Florianópolis foram os mais bacanas, pela quantidade de público e o carinho dos leitores. Consegui também viajar bastante para festivais literários, dos quais destaco o Fliaraxá, o Flu de Uberaba e o encontro com leitores no Festival de Extrema; Minas Gerais foi mesmo o palco mais frequente neste ano, por algum motivo aleatório.

Com Murilo, em Punta. 


Tive também duas viagenzinhas internacionais (mantendo minha média anual) e consegui cumprir a meta de conhecer um país novo por ano. O deste foi o Uruguai, que há tempos era uma carta na manga. Viajei com Murilo para Cabo Polônio, Punta e Montevidéu, que foi bem gostoso, ainda que não exatamente surpreendente.


Fervendo no México. 

Voltei ao México em outubro, convidado da Feira do Livro de Zócalo, na Cidade do México. Fui muito bem recebido, pude debater bem minha obra por lá com pesquisadores, tradutores e estudantes que já conheciam o que faço, e acho que mantive portas abertas para um futuro próximo. Mas também não foi uma viagem de grandes surpresas ou cenários.


A pré-equipe do filme de BIOFOBIA. 

Agora em novembro tive a melhor notícia do ano: a aprovação do projeto de BIOFOBIA para o cinema. Já começarei o ano fazendo o roteiro para o filme, com Marçal Aquino, Renato Ciasca e Beto Brant. A série de TV que escrevi ano passado - PASSIONAIS - foi finalmente ao ar no +Globosat e, ainda que com ressalvas, gostei bem do resultado. É muito louco você ver frases da sua vida, personagens da sua história transformados e reproduzidos no ar. Tem sido gostoso e importante me desenvolver como roteirista. Parece que é um caminho viável para minha sobrevivência como autor.


Entrevista com o Dr. Kurtzman, no Canal Brasil. 

Mas a grande novidade de 2014 com certeza foi a chegada de ASDA, minha coelhinha que adotei no final de abril.

Com Murilo, no dia em que chegou em casa, ainda bebê. 

Há anos não tinha um animal de estimação (o último tinha sido um iguana, que não é lá um bicho muito "companheiro"); Asda exigiu que eu reorganizasse minha vida, desorganizasse a casa, me adaptasse para cuidar dela. Coelho é um bicho muito carinhoso, limpo, apegado, mas dá trabalho. Eles roem tudo o que vêem pela frente. E ela roeu tudo o que encontrou no meu apartamento: livros, fios, móveis, rodapés... parede! Gastei bem mais do que havia previsto, mas não sei se poderia dizer que fiquei no prejuízo. Ter um bicho desses em casa realmente muda o clima, o ânimo, hoje já não posso mais pensar em ficar sem a Asda aqui.

Agora, já mocinha. 

Tenho boas expectativas para 2015. Não haverá livro novo (graças!), mas o trabalho no filme já está garantido, e tem também a peça de teatro e outras possibilidades para cinema e TV. Também já está certa uma grande viagem ainda no primeiro semestre, que fará parte da pesquisa para meu livro novo (que ficará para 2016... 2017...). Então está tudo certo. O importante é o movimento. E a vida segue.

Com jovens leitores em Extrema. 

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...