03/04/2013



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A escrita é uma ocupação nociva. Escrever é uma profissão de risco. Não se pode fazer uma obra consistente sem remoer rancores, frustrações, essas coisas que provocam câncer, tendinite e impotência. Além disso, o escritor é um caçador solitário, sempre sujeito a se perder na floresta. A endorfina do orgasmo, ou apenas o prazer de um abraço são concorrentes de uma escrita produtiva. Não se pode escrever com as mãos ocupadas. Assim, todas as atividades, experiências e sensações que levam a uma vida saudável e positiva estão distantes do escritor. Para ele, os prazeres são apenas orais. O cigarro, a bebida, o café – muito café – enquanto as mãos trabalham. Apenas a boca vaga, a língua a vagar, procurando substitutos para o que não se pode alcançar...
Livros e mais livros, acumulam mais poeira do que sabedoria. Ácaros, mais ácaros do que poesia. Bloqueiam a luz solar, absorvem a luz do sol, provocam sombra, carência de vitamina D. Não que um escritor precise de livros para escrever... Livros acumulam dor nas costas, lombadas, afundam o apartamento piso abaixo, escada abaixo, abrigam parasitas e escondem problemas de encanamento. É só dar uma rápida olhada neste apartamento que fica claro que a escrita não é uma ocupação saudável, não tenho uma ocupação saudável. Não estou fazendo bem em escrever mais um parágrafo já com tantos livros povoando essa casa, nossa casa, planeta terra, com acres devastados...


TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...