10/01/2013


PARA QUE SERVE UM BLOG


Parece que o povo esqueceu. Eu sei que não é mais o formato da moda. Mas para que manter um blog? Para o que o povo anda usando atualmente?

O blog lá no final dos 90 começo dos 2000 era um diário, desabafo, mural de jovens em crise existencial. Bacana. Legal que jovens em crise existencial tivessem um mural. Isso depois foi diluído nas redes sociais e essa função perdeu muito de sua função. Mas para mim, o blog ainda arquiva melhor os momentos importantes, as datas significativas.

O blog sempre foi um mural democrático para o usuário registrar sua opinião – sobre a vida, um filme, um livro, um evento. Servia aos críticos amadores e aos protestantes de ocasião. Um espaço para se expressar uma opinião às massas sem precisar passar pela edição de um jornal, de uma revista. Neste ponto é que eu acho que os blogs continuam mais vivos.

Os blogs continuam vivos atrelados a jornais, como colunas opinativas. Perdem um pouco do seu caráter independente. Mas ninguém quer mesmo estar sempre independente, sozinho, alheio...
Eu tenho este blog ultra independente há NOVE anos, veja só. A Raquel Cozer  (Folha) já tirou sarro por ser um blog 2.0. “ultrapassado” – hohoho – mas não é essa a graça? Para mim, a maior graça é essa de ser o mesmo blog há tanto tempo, por eu mesmo poder revirar o arquivo e achar tantos registros antigos, tantas impressões estranhas. A graça é eu poder fazer tudo sozinho (bem, com a ajuda de poucos amigos, como Alê, que deu um tapa no layout há 4 anos) . CONTINUAR é que me dá mais força, como um registro pessoal mesmo.

O blog não tem comentários porque eu não quero. Já teve. Na época, eu era um autor emergente e o anonimato fazia com que o povo aloprasse. Eu ficava mega, mega deprimido. Era muito trabalho filtrar os comentários. E hoje já há tantas outras opções para comentar. Não é necessário.

Já pensei em terminar várias vezes, é claro. E muito pelas pessoas que escrevem: “Adoro o que você escreve. Nunca li nenhum livro seu. Mas amo seu blog.” As pessoas se contentam com isso. Nâo que sejam coisas concorrentes, mas eu vejo meu blog como... como se eu fosse um massagista. E tivesse um blog. Daí escrevo sobre meu dia-a-dia de massagista no blog, sobre minha vida, daí o povo vem falar que é meu fã sem nunca ter sido massageado? Eu não entendo.

Não, o que eu escrevo aqui não é o que eu escrevo nos meus livros. Eu escrevo ficção. Não tem nada a ver com isso. É outra coisa, é outra linguagem, completamente diferente. Aqui não é trabalho, eu não tenho tanto cuidado, não estou criando personagens, não estou criando histórias, não estou fazendo literatura. Às vezes escrevo bêbado, não me preocupo tanto com o resultado final.

É esse povo que se diz “fã do meu blog” que me faz querer acabar com tudo de vez, admito. Posso estar sendo injusto. De repente minha ficção é insignificante, como vou saber?  De repente sempre sofri de um mau marketing/distribuição dos meus livros.  Mas sempre esperei que o blog fosse um veículo de leva-e-traz com minha obra impressa.

Porém... Porém o que me deixa mais frustrado é ver como hoje estou numa cruzada solitária entre os blogs de autores. ONDE ESTÃO? PARA ONDE FORAM? É claro que ainda há escritores com blogs por aí, mas fazendo o quê?

Eu quero saber suas opiniões, como escrevem, o que estão lendo. Quem está escrevendo isso?

Especialmente:

 Michel Laub:  devia tomar uma surra por postar aquelas coisas: “Um livro. Um restaurante, Um filme.” Isso interesse a quem, Michel? Que informação mão-de-vaca é essa? Você não é capaz de escrever uma linha sobre um livro, um restaurante, um filme que você gostou?

Ivana Arruda Leite: tomou meio a linha do Michel, só diz o que leu e gostou, mas sem dar resenha nenhuma, e posta dúzias de fotos de almoços (que também não são muito atualizados). Se vai indicar um livro: ESCREVA sobre o livro.

Marcelino Freire: já teve um blog que era uma agenda dos lançamentos literários da cidade. Agora fica no discurso “eu te amo periferia” que não comunica nada além de uma voz consciente pessoal. 

Ana Paula Maia: Optou pelo silêncio e só posta seus novos lançamentos. Se eu fosse esperto, aprenderia com você, Ana Paula, como não sou, estou aqui reclamando.

Nelson de Oliveira: fingiu que morreu e adotou um pseudônimo.

Sério, isso é um protesto. Onde estão os blogs de escritores? Nenhum escritor hoje pensa? Lê? Resenha? ESCREVE?! (Provavelmente vão me mandar os que ninguém conhecem... mas ok).  Me ajudem.  Sei que há um punhado de jovens seguindo com a bandeira, mas é só um punhado. 

E não me venham dizer que é férias - "que os blogs voltam em março?". Vão tomar no seu cu. Quem precisa tomar férias de blog é quem não merece os dedos que tem para escrever.

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...