16/12/2012

RETROSPECTIVA DO FIM DO MUNDO 




Não deu para ser feliz em 2012. Ano funesto. Nenhuma grande tragédia, mas nenhuma grande conquista, em nenhum campo. Só frustrações, decepções e uma batalha interna para conseguir tirar algum prazer do dia-a-dia, algum prazer da vida, conseguir me arrastar para fora da cama...



Entrando em 2012 num navio, rumo à Suécia, mal-acompanhado. 

Vendo assim, parece lindo, não? Lindo de se ver, quando não se está vivendo. Passei a virada num navio de  Helsinque para Estocolmo, na companhia desse loirinho. Pessoa desagradável, navio divertido. Nem consegui aproveitar pela depressão que me assolava. Tudo o que eu pensava, seriamente, era em pular do navio. Ainda acho que teria sido um ótimo final...




Pronto para pular. 


Fui à Finlândia em outubro de 2011 e fiquei até março deste ano. Uma experiência dolorosa, mas importante. Passar um inverno escandinavo inteiro, praticamente sozinho, não foi fácil. Mas isso é viver, e não dá para querer fugir do sofrimento, é preciso ir atrás do sofrimento, vivê-lo, e se acostumar...





O mais lindo dessa viagem, com certeza, foi o carnaval, que passei na Lapônia, norte do país. Fevereiro é o mês mais frio (cheguei a pegar -25C) mas é bem mais claro do que dezembro, o que já deixa o ânimo mais positivo. Segui o turismo glacial de cruzar o mar congelado, visitar castelos de gelo, buscar (em vão) a aurora boreal. Essa é a parte do país que me deixa com mais saudades.


Fim do mundo.


Viajei bastante pela Finlândia no começo do ano. Minha passagem por Jyväskylä foi especial pelo encontro com um amigo brasileiro. De país novo, em 2012, conheci a Hungria, só Budapeste. Não gostei muito. Achei uma cidade agressiva, suja, e não especialmente bonita. Valeu pela companhia do Gabor, menino querido que também deixou saudades.



Com Gabor, em Buda. 

Em abril já estava na América do Sul e já voltei à Colômbia convidado para a Feira do Livro de Bogotá. Foi especialmente bom para reencontrar os colegas brasileiros, editores, jornalistas. Senti como se eu tivesse há anos fora do mercado, porque há anos me sinto meio afastado. Ainda não sei como me encaixar nesse círculo, mas tudo bem, se o mundo for mesmo acabar...



Debate com Daniel Galera e JP Cuenca, mediados por Mauro Ventura, em Bogotá. 

De volta ao Brasil, consegui ir várias vezes para Florianópolis, o que sempre me traz uma recarga. Estava lendo no livro do Galera: "São Paulo é um lugar agressivo para os introspectivos", e é verdade. Mas minha família está aqui, meus amigos estão aqui, a vida cultural e o trabalho estão aqui, não há muito como fugir. Por isso preciso sempre dar minhas escapadas...




 A vida. 

E a família. Este ano teve o nascimento da minha sobrinha e herdeira, a Valentina. Ainda é bem pequena, ainda tem certo medo de mim, já sou apresentado a ela como "o tio vampiro". E mais do que dar um novo ânimo para a vida, dá uma certa sensação de etapa cumprida (embora eu não tenha responsabilidade nenhuma nisso). Já tenho uma herdeira, a família continua. Agora posso descansar em paz?


Princesa. (Claro que o macacãozinho de Muumi eu que trouxe, da Finlândia.)

De trabalho, 2012 até que foi razoável. Não faltou grana, traduções, roteiros, matérias. Tive aquela coluninha na revista Metáfora, que durou pouco, e pude fazer algumas matérias especiais, como a entrevista exclusiva com Laura Albert (aka J.T. LeRoy), uma querida. 

Louca e fofíssima.  

Se de trabalho até que foi bom, de carreira foi uma porra. Lancei meu juvenil, Garotos Malditos, de qual muito me orgulho, mas que foi recebido com o calculado desdém destinado a um livro juvenil. Também não colhi nenhum fruto com Pornofantasma (lançado ano passado), o que acho um crime. O que melhorou foi o trato da editora comigo, os convites para eventos literários. Isso sim, deu uma certa melhorada.

Debate com André Vianco, Martha Argel, Giulia Moon e Sarah Blakley Cartwright, na Bienal de SP. 

Teve o debate da Bienal de SP, o Ave Palavra em Juiz de Fora, a turnê com Eliane Brum nos Sescs do Paraná, a Feira do Livro de Porto Alegre, a Balada Literária e o Forum das Letras de Ouro Preto, que foi o melhor de todos. Espero que em 2013, os convites se intensifiquem, apesar de eu não estar lançando nenhum livro novo. Sempre gosto de participar desses eventos e, porra, já lancei sete livros, já traduzi mais de trinta, tenho contos e romances publicados em nove países, acho que tenho algo a dizer. E há tantos lugares para onde ainda não fui...



Lindo o público em Ouro Preto. (Debate com Bernardo Azjemberg e Fernando Molica). 



E lindo ver meu filho anunciado nos metrôs. Só não acho o livro nas livrarias...



Mais lindo ainda foi ver Suede em São Paulo. Também teve Pulp. E a beleza acabou por aí. 


Talvez eu não tenha do que reclamar, afinal ainda tenho os quatro membros, ou quatro membros e meio (contando a cauda; não pense bobagem). Você acha que não tenho do que reclamar? Bom, você não sabe os tocos (no mau sentido) que levei em minha vida amorosa em 2012, e isso não posso expor aqui. Mas isso talvez seja o de menos.... é o de menos? Você acha que não tenho mesmo do que reclamar? Quem gosta realmente do que eu escrevo acha que eu eu tenho. E talvez seja melhor o inconformismo do que uma resignação bovina, uma humildade cristã. Para mim, nada nunca será o bastante. Nunca nada será o bastante. E a insatisfação e a inconformidade serão meu combustível. A queixa não esteve sempre aqui (vale rever minha retrospectiva de 2010, por exemplo) e eu não tenho muito o que me queixar do saldo de livros como Feriado de Mim Mesmo e Mastigando Humanos. 

Falando em Mastigando, ruminarei-o em 2013. Finalmente sai na Itália e Espanha, nesse último, inclusive já está pronto. A turnê deve ser em maio; já boas viagens a caminho. 


Quarta capa espanhola. 


Acho triste colocar tanta expectativa - toda uma responsabilidade de ser feliz - na vida profissional. Seres humanos comuns diriam que o trabalho é só uma ponte, mas aonde eu quero chegar? Acho lindo gente como a Andrea del Fuego, que recebe um mega prêmio sem grandes expectativas, porque acabou de ter um filho e sabe o que é a vida de fato. Mas o que é a vida de fato? Para mim, é apenas a morte. Não, é a morte e a solidão. Não, morte, solidão e sofrimento. Hahah. Nah, não querendo ser gótico, o que é a vida para mim, solteiro, sozinho sem filhos? Que função eu tenho - não tenho - nesse mundo? Se eu morrer antes de acordar, saiba que já me dou por satisfeito.

Pois é amiguinho, foi isso que pensei durante todo 2012. E é tão denso pensar nisso como é fútil alguém como eu se lamentar....

Será que agora você me entende um pouco?

Seria eu mais profundo, consistente e sarado sendo feliz?

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...