04/07/2012

O QUE ANDA LENDO?
Charly Braun, cineasta. 


Nazarian: Charly, bora? O que anda lendo?

Braun: Agora estou lendo Argentinos, de Jorge Lanata, um grande jornalista do país hermano que é uma espécie de Michael Moore e consegue ser uma das poucas vozes ativas de peso contra o atual (e catastrófico) governo de Cristina Kirschner.

Nazarian: Hum, eu li o recorte de jornal que você postou. Está preparando algo sobre o tema ou é curiosidade de cidadão mesmo?

Braun: Eu sou metade argentino e esse livro na verdade é um livro muito mordaz que conta a história do país desde o seu início. Decidi conhecer um pouco mais, pra tentar entender esta minha outra metade. Confesso que a história deles é bem mais trágica do que a aparente elegância de Buenos Aires pode insinuar.

NazarianAchei que você era metade uruguaio...

Braun: Sou 50% brasileiro, 30% argentino, 10% Uruguaio e os outros 10% não decidi....

Nazarian: Paraguaio que yo sei...

Braun: Hahahahaha...  Na verdade, avô inglês e outro chileno, avó gaúcha e a outra uruguaia. Pai argentino, mãe brasileira e nascido no Rio. É complexo! Mas queria falar também do livro anterior que li a algumas semanas atrás. Retrato de um Viciado quando Jovem, Bill Clegg. 

Nazarian: Hum, é não ficção, não é? Que tal?

Braun: Um daqueles livros que você não consegue largar! Visceral, uma autobiografia fascinante sobre a descida ao fundo do poço de um jovem agente literário de sucesso.

Nazarian: "Jovem agente literário de sucesso" me parece um paradoxo...

Braun: Sim, mas falamos de América, terra onde essas coisas são possíveis... rs. Mas é curioso como cheguei nesse título. Tenho um amigo, o cineasta Jonathan Nossiter, que me indicou um filme de um amigo dele que estaria no Festival de cinema de Tribeca, em NY. Chama-se Keep The Lights On. Fui sem muita expectativa e o filme é muito bom. Conta a história de um relacionamento, ao longo de dez anos, que termina porque um jovem agente literário de sucesso não consegue conter seu vício (crack). No bate papo após a sessão o diretor contou que era um filme autobiográfico, sobre a história dele. Descobri depois que seu parceiro era o Bill Clegg, que havia contado a sua versão da história, mas falando menos da relação e mais do vício. Comprei o livro e não consegui parar de ler. Uma história assustadora, muita bem escrita, de uma franqueza assustadora.O livro foi editado em português pela Cia. da Letras. Espero que alguém traga o filme também porque é muito bom!

Nazarian: Eu estava conversando com a Tatiana Salem Levy esses dias sobre isso, sobre esses livros de DROGAXX, que mesmo quando mostram o lado sórdido e verdadeiro acabam gerando uma curiosidade, uma vontade... Não é assim?

Braun: Sim, geram isso sim, ainda mais neste caso. Um cara jovem, bonito, educado, com uma profissão de sucesso, que joga tudo pela janela: carreira, dinheiro, amor, família, tudo. É uma loucura!

Nazarian: Mas não entendi direito, o filme é baseado no livro?

Braun: Não. Pelo que entendi o Bill escreveu o livro antes, e depois o Ira fez o filme. São duas obras bem diferentes, mas ao mesmo tempo muito complementares.

Nazarian: Ah, então os dois eram um casal, isso?

Braun: Sim, eram. O filme é uma grande e trágica história de amor, no fundo.O livro já vai mais pro lado do vício e seus psicologismos.

Nazarian: (Você tem que me explicar, que não estou acostumado com esse mundo de homossexualidades. Para mim "parceiro" é tipo brother, brow, haha)

Braun: Hahahaha

Nazarian: Mas enfim, o cara é jovem, bem sucedido, tem um período viciado em crack, escreve um livro, tem adaptação para o sistema, é traduzido em diversas línguas... Acho que não é das piores propagandas do crack.

Braun: Não, porque ele consegue sair do vício. Mas no caminho põe seus anos de ouro a perder.

Nazarian: EU TENHO PASSADO UM INFERNO MAIOR COM NUTELLA!

Braun: Ele chega no fundo do poço mesmo, quase morre. É muito triste.

Nazarian: Vou comprar... Embora eu tenha um pouco de medo de ler essas coisas, ando tão purinho...

Brau: hahahaha

Retrato de um Viciado Quando Jovem foi lançado no Brasil pela Cia das Letras. 

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