09/06/2012

WHEN I'M AN OLD MAN

When I'm an old lady, I'm gonna be his baby. I'm gonna wrap myself around him. And then I'm gonna kiss him. But that's a way down the line. You see for now he isn't mine. But I don't mind waiting. And the long is not aching. ("Old Lady", Sinéad O'Connor)


Quando eu for velhinho... eu não vou ser velhinho. Ao menos, não no diminutivo. Quero ser daqueles velhos de quem as crianças têm medo. Um velho mau. Quando a bola cair no meu quintal.

(Já poderia ser assim, se eu tivesse um quintal...)

Imagino o que pensam os vizinhos...

Eu sou o perfeito psicopata. Eu sou o estereótipo. Sempre de preto, calado, sozinho, não sei o nome de um morador deste prédio (e, ainda que com idas e vindas, estou neste apartamento há 9 anos). Raramente trago gente para cá. Não gosto de receber amigos. Não dou festas. Não gosto de gente na minha casa. Tarde da madrugada, assisto a coisas como Wolf Creek, Rec, 30 Dias de Noite, Morte Súbita, O Massacre Da Serra Elétrica. Imagino o que pensam os vizinhos. Tarde da madrugada, sempre mulheres berrando. Se houvesse uma votação para o psicopata perfeito do bairro, seria eu o vencedor. Só estragou um pouco minhas idas ao Jô. Agora os porteiros sabem quem eu sou. Legitimou a coisa do excêntrico, escritor. Não sou psicótico porque sou famoso.

Passei os últimos 4 dias trancados aqui. Deixando o cabelo crescer, a barba crescer, uma garrafa de Jack Daniels, muito trabalho a fazer. Uma pequena crise.

Os últimos dias também foram matadores no clima, no cinza. Dá para ter uma pequena, pequena, pequena ideia do que foi meu mês inteiro de dezembro em Helsinque. Mas estava esses dias relendo meus posts de lá; parecia uma melancolia tão feliz...

Para não ter de sair, pedi delivery do Sushi Express, Almanara, Ritz. Hoje percebi que não tinha mais papel higiênico em casa, água, coloquei minha capa, chapéu e fui ao mercado (foi quando fiz essa foto). Queria ter também uma bengala. Meu joelho está fodido e estou mancando. Fodi há mais de um ano, no kite... Nah, na verdade caí de um palco, quando estava discotecando numa festa do Fabiano Karvax. E quando já tinha melhorado, fodi de vez no kite surf. Esta semana voltou a piorar. Agora sou um velho maldito completo. Não! Falta a bengala.

Pode ser um personagem. Mas é o personagem que eu de fato sou. É sustentável. E assim me sustento, ainda que manco. Posso estar mancando, mas posso chamar o delivery, será meu mote da vez.

Acho que o tempo está a meu favor, apesar de gay. O tempo é sempre aliado (a pressa inimiga) de um escritor. Me sinto muito mais velho do que eu sou . Ou talvez não, talvez me sinta mais velho do que meus amigos gays de 40 que, como gays, se sentem mais jovens do que são. Velho e cansado. Mas numa boa vibe. Eu sempre pensei que o mais importante era aproveitar ao máximo cada idade, e eu já aproveitei demais. Aproveitei ao ponto de basicamente não ter mais sonhos a realizar. Isso diminui um pouco o ânimo, as vontades...

Isso tudo não é só para dizer que estou apaixonado. Veja só, ainda é possível, na terceira idade. Estou apaixonado, mas estou só.

E isso não é tudo.




MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...