12/02/2012

COMO FODER UM TURISTA

"Fuck me! I'm famous!"

Nah, esse devia ser o título do post anterior. Minha questão de hoje é como um turista pode se foder caindo de paraquedas, equivocado. Como o mundo recebe o turista...

Budapeste.

Estou em Budapeste, tornando a Hungria o 23o país que eu visito. Vim só por 5 dias, porque a passagem de Helsinque estava barata e eu queria há tempos conhecer o país. Como de costume, estou fazendo turismo, e não estou lá me empolgando tanto pela cidade. Quero dizer, é uma cidade linda, na parte turística ao redor do Danúbio, mas também está bem dilapidada, suja, não passa uma sensação muito segura e você tem a impressão constante de que estão tentando te foder... no mau sentido.

O Danúbio (semi) congelado.

Ouvi muito falar para ficar esperto em restaurantes, para tomar cuidado com os taxistas, que estão sempre tentando cobrar a mais, e é uma realidade. Isso parece mais flagrante aqui do que no Brasil (onde ao menos em restaurantes "errar" na conta e cobrar acima dos 10% do serviço não é uma prática habitual). Vendedores, garçons e "cafetões" também têm uma abordagem bastante agressiva, interpelando os turistas nas ruas, praticamente puxando para dentro das lojas, você não consegue olhar uma vitrine sem alguém vir te encher o saco; sem falar nos pedintes nas ruas. Depois de uma longa temporada na Escandinávia, isso tem me incomodado bastante.

De cima.



Nessas horas também sempre penso em como se recebe o turista no Brasil. Que o brasileiro é simpático e gosta de (ou paga pau para) estrangeiro é incontestável, mas falta tanta estrutura, informação, preparo para se receber o turista (sem falar em segurança). Além do fato de ninguém falar inglês, não há informações escritas em outras línguas, mapas fixos nas regiões centrais... Bom, não existe transporte público! Acho que eu entraria em pânico sendo um turista gringo em SP.

Claro que sempre ajuda quando se conhece um morador local. Mas, seja no Brasil, seja em qualquer parte do mundo, em geral as pessoas não sabem auxiliar um turista. Se você pede a dica de um bom restaurante, vão te indicar algo internacional, não as comidas típicas. Se você quer uma balada, vão te indicar o lugarzinho posh, da moda, não um lugar mais pitoresco com "gente do dia-a-dia". Eu mesmo tenho de dizer que não saberia conduzir um gringo a um sambão em São Paulo.

Verdade que o turismo, os programas turísticos, o que o turismo oferece está muito longe da realidade do país, mas até aí, o que é a realidade do país? A realidade não existe! Se eu oferecer a minha realidade paulistana a um gringo que visita o Brasil, ele vai ter uma mínima noção do que o Brasil oferece? A realidade de um brasileiro "padrão" é atraente (e culturalmente rica) para alguém? Será que os programas turísticos não estão mais próximos da verdade? (A verdade não existe!). Talvez a "realidade turística" seja apenas um "menu degustação" mais acessível.

Eu tive essa nítida impressão pela primeira vez quando fui ao Deserto do Atacama (em 2007). "Não gosto de fazer programas turísticos" é uma frase tão comum do bom senso e do senso comum, mas lá, no meio do deserto, fiquei pensando se "programas turísticos" não seriam a única forma de relação com o local. Se eu não quisesse fazer turismo, o que poderia fazer? Experimentar a vida local garimpando em minas, ordenhando lhamas e... trabalhando para o turismo?

Então acho que não se deve desaconselhar, combater, confundir o turismo. Se você vai para uma cidade nova, faça turismo. Vá aos pontos turísticos - caminhe na Paulista, visite o Cristo. Se puder ir além disso, ótimo. Mas Paulista/Cristo/Samba/Acarajé/Sexo! é indispensável.

Com Gabor.

Tenho compreendido muito o turismo... Tenho compreendido tantas coisas... Tenho compreendido tanto o turismo e acho que deviam me chamar para escrever um guia relatando a verdade. Tenho achado que estão me desperdiçando tanto. Talvez a verdade assuste. Bah, mas a verdade nem existe...

Gabor intimidado pelo garçom.

Em Budapeste, deu bem para eu me divertir. Tive uma ótima companhia, conheci o piteuzinho do Gabor, e além dos pontos turísticos, pude conhecer barzinhos pitorescos e a noite de Budapeste. Queria muito ter ido ao museu do Liszt, mas estava em reforma. Só consegui tirar uma foto na frente da estátua.


Liszt fazendo minha cabeça.


Me lembrei também do Kertes, tradutor húngaro que traduziu um conto meu, que foi publicado numa antologia de autores latino americanos aqui (que foi difícil de encontrar nas livrarias, mas acabei conseguindo). Lindo ver que meu nome está de alguma forma entre as prateleiras desta cidade, que eu posso tocar de outras formas Budapeste.

Kertes com o livro, que aqui se chama: A Jövö Nem a Miénk.


Escrevi para ele que estava na cidade, e tivemos uma ótima tarde de domingo com discussões literárias regadas a bebidas locais.

Dos melhores pratos que comi aqui: fígado de ganso com pêssegos.


Such a tourist.



Amanhã estou de volta a Helsinque, por algumas semanas. É uma vida boa? Claro, é uma vida boa. Você, que vê de fora, vê que é uma vida boa; e é claro que é uma vida boa. Mas é uma vida difícil... ou não, não é uma vida difícil... Talvez seja uma vida... uma vida triste. Bem, não é tão triste, mas você entende que não é tão simples essa vida em que você está sempre em movimento, suas relações/amigos/amores são sempre novos, você nunca conhece alguém realmente, é tudo sempre passageiro, superficial e perecível. Enfim, uma vida turística.


Sorria! Saia bem na foto!

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...