29/12/2011

...E EM 2012...


De dentro do cano de esgoto saltou o enorme crocodilo em direção ao bombeiro desavisado. Pobre coitado. Havia entrado apenas para checar uma denúncia anônima, mal sabia que seria o almoço de um réptil desgarrado...

Hehehe. Brincadeira. Isso não era filme algum – que eu saiba –, era apenas mais uma maneira impactante de começar um capítulo. Era também mais ou menos com o que eu estava sonhando. Não que estivesse sonhando com algo mais ou menos parecido, era que eu estava mais ou menos dormindo mesmo. Sabe como é, quando a gente já acordou, mas quer continuar dormindo, daí fica pensando em coisas bacanas para tomar como sonho. Às vezes funciona. Eu tentava sonhar assim, com crocodilos assassinos. Mas minha mãe logo entrou no quarto e me puxou novamente do sonho.

– Ludo, não vou falar de novo, levanta. Está na hora de ir pra aula.

Se ela não vai falar de novo, melhor. Me deixa dormindo.

– Ludo, levanta!

Ah, muito bem. Ela não vai falar de novo, vai gritar, acender a luz, me sacudir, ameaçar. As mães são sempre assim, não? Minha mãe é sempre assim. Poxa, primeiro dia de aula, escola nova, ela queria que eu saltasse todo animadinho, “oba, vou fazer novos amiguinhos”? Dá um tempo. Outra coisa é que não entendo – nunca entendi – por que um adolescente precisa acordar praticamente de madrugada para ir estudar. Como alguém pode estar com a cabeça desperta e antenada às sete da manhã? De repente, se fosse no final do dia, de noite, sei lá, eu poderia estar mais interessado. Ficaria o dia inteiro de bobeira, daí lá pelas sete da noite pensaria: “ah, tá, escola, whatever, não tem nada melhor pra fazer mesmo.” Daí até poderia ir pra escola com certo ânimo. Mas assim, acordando tão cedo...

– Bom, existe escola de noite, sim, é claro – dizia minha mãe dirigindo o carro já a caminho do colégio. – Mas geralmente quem estuda de noite é quem trabalha o dia inteiro, sabe?

– Por quê? – perguntei.

– Por que o quê? – disse ela.

– Por que só estuda de noite quem trabalha de dia?

Ela tentou me lançar um olhar de obviedade, mas como não dirige muito bem, manteve os olhos no trânsito.

– Porque quem trabalha de dia só tem tempo de estudar a noite, é óbvio.

– Ah... – Ela não havia respondido minha pergunta – eu queria saber por que eu podia estudar de manhã sem ter de trabalhar de tarde e não podia estudar de noite sem ter de trabalhar de manhã –, mas tudo bem. Era muito cedo ainda, e eu não queria entrar em toda aquela discussão. Nem sei como minha mãe tinha energia pra acordar assim, já toda acordada.

– Não está animado pra sua escola nova?

Eu dei de ombros.

Ela bufou.

– Eu nem me importo, Ludo. Sei que você fica fazendo esse ar blasé, mas vai acabar gostando. O Colégio Pentagrama é bem sua cara. – Nesse ponto ela parou num semáforo e olhou para mim, segurando o riso, como se estivesse contando uma piada. Continuou: – Eles são bem liberais. Têm um perfil mais alternativo. Foi uma sorte termos conseguido matricular você nesta altura do ano. Você sabe, encontrar uma escola que seja, ao mesmo tempo, consistente e liberal não é fácil...

– Sei bem – provoquei. Minha escola anterior era das melhores da cidade, e das mais caretas também. Crendiospaia. Não tem ideia de como eu sofri lá. Sorte que meus pais também sempre acharam a escola muito rigorosa. Mas tinha essa coisa, ensino de qualidade. Acharam que valia a pena. Só consideraram me mudar para outra quando não tiveram alternativa...

– Ludo, por favor, se esforce para se enturmar, ok? – Minha mãe disse olhando para mim. – Não vai ser difícil. Procuramos bem uma escola que tivesse a ver com você. Mas você precisa ter boa vontade...

O semáforo abriu e minha mãe continuava ali, parada, falando comigo.

– Promete que não vai chegar lá cheio de resistências...

Os carros atrás começaram a buzinar.

– Promete que vai ser simpático e tolerante com seus colegas, por mais limitados que eles sejam...

Aquilo estava me irritando.

– Mãe, anda com esse carro, o sinal abriu faz tempo!

Minha mãe suspirou e olhou para a frente, engatando a primeira.

Vixe, depois falam que é preconceito que mulher não sabe dirigir. Tudo bem que eu também não sei nem dar partida num carro, mas nem quero, não serei eu mais um a emperrar o trânsito desta cidade.

Trechinho de Garotos Malditos, que será minha SÉTIMA publicação, um livro direcionadamente juvenil, sem grandes pretensões literárias, apenas contar uma história divertida para moleques despirocados do mundo real.

Ludo é um adolescente meio "indie", fã de rock alternativo e filmes de terror, que vai estudar num colégio só para monstros - vampiros, zumbis, lobisomens - e tem de decidir se vai para o "lado negro da força" ou corre para a luz.

O livro terá ilustrações do J. Lestrange. E eu só pude viabilizar um projeto desses com o patrocínio da Petobrás e, principalmente, com o selo da Editora Record, novamente, uma editora que entende que um livro para adolescentes pode (e deve) chutar o balde.

Não, não é LITERATURA, é literatura juvenil, mesmo, de entretenimento. E ainda assim pode ser inteligente. Para mim, como escritor, foi um novo desafio, um aprendizado. Eu já disse isso aqui, acho que se você se considera um "escritor profissional" não pode querer apenas falar com sua própria voz, contando a SUA história. Um "escritor profissional" é aquele capaz de criar histórias para públicos específicos, criar, criar personagens, tramas - o talento de contador de histórias deveria ser algo óbvio, mas é tão raro na literatura brasileira atual, que não tem trama ou que se baseia basicamente numa observação perspicaz do cotidiano (tantos cronistas, tão poucos ficcionistas). É preciso narrar. Narrar em terceira pessoa, em segunda, em primeira pessoa masculina, feminina, adolescente, jacaré. É o desafio que eu sempre proponho a mim em cada livro. E se não houver nada de novo a fazer... não há nada de novo a fazer.

O livro já está entregue e deve sair na metade do ano. Quanto aos livros "adultos", ainda não tenho nada de concreto - mas tenho seis livros já publicados e tenho certeza de que você ainda não leu todos. Vou dar tempo para você se atualizar.


MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...