15/07/2009

FAQ

Respondendo hoje a uma entrevista, me deparei com uma série de questões de sempre... Resolvi organizar um "FAQ" aqui, tirando de várias entrevistas, (até para eu poder copiar e colar quando elas aparecerem de novo). Pode ser que interesse a você...

Quais eram os autores que você lia na infância?

João Carlos Marinho, Condessa de Ségur, Ruth Rocha, Márcia Kupstas, Andersen, Irmãos Grimm... Adorava também a série “O Pequeno Vampiro”, de uma alemã chamada Angela Sommer Bodenburg. Eu lia muito logo que me alfabetizei, depois parei um pouco e voltei na adolescência.

Começou a escrever com que idade?


Assim, mais a sério, lá pelo final da adolescência, 17, 18... Era muito ruim, mas acho que tinha personalidade. Foi bom porque nunca fui travado para isso, escrevia muito, romances inteiros, horríveis, e passava para o próximo, aos poucos eles foram melhorando. Com 22 escrevi “A Morte Sem Nome”, que foi o segundo que publiquei, com 26. “Olívio” eu escrevi com uns 23, mas publiquei primeiro, com 25.

Sua mãe também é escritora. Foi influenciado por ela?

Minha mãe sempre trabalhou com livros, com traduções, em livrarias, na Biblioteca José Mindlin. E sempre tive a casa forrada de livros. Mas ela só foi publicar mesmo recentemente, se tornou escritora publicada depois de mim; nesse ponto foi um pouco o inverso, eu que a incentivei a publicar, embora ela tenha sempre me incentivado a ler. As coisas que ela me indicava a ler também... para ser honesto, não eram tanto a minha praia. Acho que, como mãe, ela queria me poupar das coisas mais dúbias ou perversas. Uma grande influência que eu tive foi uma namorada do colegial, ela me falava de alguns autores e eu os descobria lá nas estantes da minha mãe – e imaginava por que minha mãe nunca tinha me apresentado esses autores antes: Caio Fernando Abreu, Alberto Moravia, Oscar Wilde... Aliás, apesar da minha mãe também trabalhar com literatura, meu universo temático sempre foi muito mais próximo ao do meu pai, que é artista plástico. Ele pintava mulheres lânguidas se suicidando, a Morte cavalgando; essas imagens talvez tenham tido uma influência maior nos meus temas, mas certamente minha mãe deu toda a estrutura, o veículo.

Você sempre quis ser escritor?

Não. Nunca pensei em ser escritor porque nunca achei que ser escritor pudesse ser uma profissão, que você pudesse viver disso. E ainda não acho. Pegue as orelhas dos livros por aí: “Fulano é escritor e jornalista, médico, carpinteiro, etc.” Ninguém é apenas escritor, só quem escreve porcaria ou que já tem idade para estar aposentado em qualquer outra carreira.
Até meados da adolescência eu queria ser biólogo, estudar répteis – meu tio até me levou ao Pantanal quando eu tinha uns quinze, mas era uma espécie de torneio de pesca, e por acidente acabei pescando um dos maiores peixes e ganhei um troféu -haha. Minhas maiores notas eram em biologia e em inglês. Em português eu era um aluno de 8, 8.5; eu gostava de escrever redações, criar histórias e era criativo, mas tinha uma letra do cão e errava no português. Os professores sempre escolhiam ler as redações das meninas certinhas que escreviam mensagens edificantes à humanidade – e onde estão elas agora, hein, hein? Num laboratório que fiz com alunos da 7ª e 8ªs séries, há alguns anos, a professora me mostrou toda orgulhosa as redações das patricinhas que escreviam corretamente, com uma letra bonitinha, com figuras de linguagem. Mas eu boto mais fé mesmo nos moleques que estavam escrevendo bizarrices numa folha toda amassada. Ao menos, é com eles que eu me identifico.

Você fez faculdade?

Fiz. Publicidade e Propaganda na Faap, mas não me orgulho disso, ok? Pensei que era uma forma de trabalhar com criação, escrever, e ganhar uma boa grana. Teve aquele boom da publicidade brasileira nos anos 90, né? E todo mundo que não sabia o que prestar acabava fazendo publicidade... No começo do curso eu já fui trabalhar numa agência grande, porque um tio meu era diretor lá, foi coronelismo mesmo. No último ano, estava em crise com a publicidade e resolvi prestar Letras na USP. Entrei, mas não segui no curso, já estava terminando a Faap, queria sair de SP um pouco, fiquei com preguiça de começar uma nova faculdade. Também não achava – e não acho – que Letras seja a faculdade ideal para quem quer ser escritor. Contesto essa coisa do escritor como acadêmico...

O que a publicidade trouxe à sua literatura?

Hum, espero que nada... Haha. Não, há um lado positivo da publicidade em tratar a criação de forma mais objetiva, prática. Você recebe um briefing de manhã e na hora do almoço precisa estar com um texto pronto. Na literatura – ou no meio editorial – tudo é tão lento, as coisas são muito mais etéreas... Não é só por uma questão de profundidade, ou de volume de texto, é um ritmo de trabalho mais preguiçoso. A (boa) publicidade também exige um padrão de qualidade gráfico que deveria ser empregado no mercado editorial. Você vê umas capas de livro, uns convites de lançamento... percebe que as pessoas lá não têm a mínima noção do que estão fazendo. Os diretores de arte do meio editorial, em geral, não chegam aos pés dos diretores de arte da publicidade – até pela grana que recebem. Isso foi algo bem positivo que a publicidade me deu, olhar a parte gráfica de um livro e dizer: “Não. Aumente esta fonte, mude essa letra, essa foto vai desaparecer numa roda de livraria.”

Como começou a publicar?

Prêmio Fundação Conrado Wessel. Era um concurso para romances inéditos. Já tinha “A Morte Sem Nome” e “Olívio” escritos, guardadinhos. Tinha mostrado para super pouca gente e não tinha tentado realmente publicar porque não achava que nenhuma editora iria ler, e mesmo que fosse publicado, ninguém iria se interessar, não faria diferença. Mas como tinha esse concurso - eu tinha acabado de voltar da Europa, onde trabalhei de barman, estava sem emprego, fazendo todo tipo de bicos, roteirista de disque-sexo, etc, etc – resolvi mandar “Olívio”, que era um romance mais fácil, mais curto, mais narrativo, para ver no que dava. O livro foi selecionado e publicado. Daí resolvi me empenhar para manter a porta aberta, para conseguir publicar o segundo. Fui atrás do pessoal do júri do Prêmio, pedir conselhos mesmo, indicações. Beatriz Resende foi a única que me respondeu, e me indicou para o Paulo Roberto Pires, que estava entrando na (Editora) Planeta. Mandei “Olívio” para ele e uma semana depois ele tinha lido, me escreveu e me convidou para participar de um livro de contos com mais dois autores (Chico Mattoso e João Paulo Cuenca) para ser lançado na 1ª Flip. Fui pra Parati, fiquei vinte dias lá escrevendo, depois participei como convidado oficial da Flip. Foi incrível. Preciso dizer que, na época, eu não conhecia nada, nada, NADA do mercado editorial ou do meio literário brasileiro. Eu não só não conhecia o Paulo Roberto ou o Chico ou o Cuenca, eu não sabia quem eram os críticos de jornal, não lia os blogs, eu não sabia como a coisa funcionava. Eu apenas gostava de ler livros e de escrever – mas até olhava torto para literatura contemporânea, não sabia quem estava publicando, quem eram os autores etc. Caí de pára-quedas totalmente. Lembro de uns papos do Chico com o Cuenca em Parati: “O que você achou do novo livro do André Sant’anna?” E eu não tinha idéia de quem eles estavam falando...


Hoje você vive só de literatura?

Não. E sim. Vivo de traduções. E faço de vez em quando crônicas para jornal, matérias pra revista, uma palestra aqui, avalio livros para editoras, tem a venda dos meus livros, adiantamentos, um roteiro de cinema de vez em quando. Tudo isso somado dá uma renda razoável, quando há tudo isso. Há meses em que tudo some. Mas é bom porque é tudo relacionado com literatura, aprendo muito, e eu faço meus horários, sou meu patrão.

Como é sua rotina?

Atualmente, acordo por volta do meio dia, leio jornais e blogs pela net, respondo emails e começo a trabalhar. Trabalho até umas 5, 6 da tarde, vou pra academia (todo dia, religiosamente), volto lá pelas 8, almoço (sim almoço), volto a trabalhar e vou até meia noite, daí janto; quando tem muito trabalho, até as 2h da manhã. Daí deito para ler e jogar Nintendo DS. Vou dormir lá pelas 5:30. Então quando tem algum evento importante de noite ferra tudo. Procuro sair o mínimo possível durante a semana. Sou super caxias com meu trabalho.

Você fuma unzinho?

Não. Não gosto de maconha. Me dá bad trip. Aliás, quase todas as drogas me dão bad atualmente. Geralmente bebo bastante nos finais de semana. Vodca. Se compro uma garrafa na sexta, ela não passa do domingo, então fico sóbrio de segunda a quinta, hahaha. Até dá para escrever bêbado, mas não dá pra ler.

Quais são seus autores favoritos?

Wilde, Mann, Kafka, Noll, Caio, Lygia, Marcelino, Moravia, Nabokov, Orwell, Tchekov, Mishima, Shakespeare, J.T LeRoy, Saki, Dennis Cooper, Lúcio Cardoso, Mário de Sá-Carneiro, Clive Barker, Stephen King, Bram Stoker, Easton Ellis, Jean Guillou, Burroughs, Gaiman.

E da sua geração?

Ana Paula Maia, Christiane Lisbôa, Paulo Scott, Daniel Galera, Francisco Slade... Eu aprendi direitinho, hahaha. Eu tive de aprender na marra. Quando você começa a publicar por grandes editoras, começa a receber uma enxurrada de livros, daí tem os eventos, Flip, Bienais, vai conhecendo outros autores, fica curioso para saber o que eles estão fazendo, se torna impossível não se aprofundar na literatura contemporânea. Atualmente, eu tenho de me policiar para não ler só isso, porque recebo esses livros diariamente em casa, mas ainda não li muitos dos clássicos, também preciso ler em inglês, espanhol e francês, e ainda deve ter alguma coisa obscura de Oscar Wilde que eu não li...


Dos seus livros, qual é seu favorito?

O próximo. Sempre.

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...