13/07/2008

ENGOLINDO SAPOS, DIGERINDO RÃS





Existe a serpente que passa diante de mim. E existe a serpente que se contorce em meu ser. Mas a serpente que passa perante meus olhos existe. Existe a serpente que passa diante de mim. E por mais que eu me cure, por mais que descanse, por mais que eu respire e repense – que eu afogue em sonhos minha própria serpente - existirá a serpente que circula diante de mim. Existirá o sapo que está ao meu lado. Existirão as formigas que circulam em meus dedos, em meus olhos. Ainda que fechados, existirão os vermes que se alimentarão de mim.

Ah... Como eu me contorço e me repito... Passei mais um final de semana pisando nos mesmos rastros. Depois de ir ao instituto Butantan, fiz um belo jantar de carne de rã com banana e purê de abóbora, assistimos “Alligator” e ouvimos o (novo) cd de Brett Anderson...


Fraco.

Eu não digo que me decepciono porque não espero mais nada dele. E não espero mais nada de Brett Anderson porque acho que ele já me deu o suficiente. Mas não custa sonhar... (E por mais que eu afogue em sonhos minha própria serpente...).



“Wilderness” é um projeto despretensioso, que Mr. Anderson está lançando via Internet, em arquivo digital, e em seguida sairá em cd físico. A mim me parece um cd demo. Só voz, piano, cello. Segue um pouco a linha desses novos cantores – como Rufus, Anthony, Chris Garneau – que se apóiam apenas na melodia, na voz e no piano. Só que Brett Anderson não tem mais tanta voz, nem é tão instrumentista e nem segura mais tão bem as melodias. O resultado é um cd flat.

Mas eu não o culpo nem me decepciono. Já é lucro poder ter qualquer coisa nova dele na minha casa, quando todos meus grandes heróis já deveriam estar mortos.




Falando em heróis bem vivos, ouvi também o novo cd do CSS. Beleza, beeeeeem divertido. Faixas como a de abertura, “Jager Yoga” e principalmente a chiclete “Move” mantém o espírito festivo do grupo e são altamente discotecáveis. Eles viraram profissionais. E talvez o que mais faça falta é o lado tosco de antigamente. Lembro que quando eles lançaram o primeiro álbum alguns fãs reclamaram disso, de estar tudo muito arrumadinho, sem o tom espontâneo e bagunçado das apresentações ao vivo. Bem, agora parece que esse clima ficou ainda mais para trás. O álbum é um álbum pop muito bem acabado e encaixado na onda New Rave mais do que qualquer parentesco elektro ou elektro-funk que possam ter tido no passado. Isso não é ruim. Eles ainda soam como Cansei de Ser Sexy. “Move”, por exemplo, soa bastante como “Lets Make Love and Listen Death From Above”, “Jager” soa como “CSS Sucks”, “Left Behind” lembra “Off the Hook” e por aí vai. Não é tão inventivo (nem tão novidade), mas é divertido. E continua quilômetros melhor do que qualquer banda pop nacional... (Ah, sim, eles ainda são nacionais, não? O produtor é o próprio Adriano, e você até consegue ouvir referências como “Claudia Ohana” escapando das letras em inglês. O que quer mais? Deuses do Candomblé? Eles são filhos da Augusta, você sabe... Acho que esse é o segredo da diferença.)


O segredo da diferença.

Voltando ao mundo mágico da herpetologia (e falando do segredo da diferença), foi engraçado rever esta semana um clássico trash da minha infância - Alligator - e também o King Kong de Peter Jackson. Apesar da diferença de verbas e de época de produção, o jacaré tosco do SBT ainda é mais convicente do que o macaco do Oscar. Por quê? CGC. Hollywood hoje está tão obcecada com a computação gráfica que não consegue enxergar o óbvio. O Kong recente tem expressões incríveis, movimentação convicente, só não convence quando tem de interagir com outros seres humanos. Qualquer figura computadorizada em interação com atores ainda parece simplesmente uma animação. Já o Alligator dos anos 80 foi feito ora por animatronic (ou seja, um boneco eletrônico) e ora por um jacaré de verdade. Melhor impossível. Na verdade, melhor até do que "Pânico do Lago" (que é bem bacana também).



Este...

Versus este (sim, é este o jacaré que aparece de fato no filme, interage com atores, etc. Bem feitinho, fala?)


Eu tinha tanto mais a dizer... Ah... Tanto mais a dizer... Tenho um quadro de recados aqui na minha sala que eu uso para anotar lembretes para mim mesmo, e cada vez se torna mais enigmático. Fora os recados afetivos do Fábio, aparecem de vez em quando, com minha própria letra, mensagens como "Cachorro Morto", "Simão", "Mariana Weickert", "Artista com consciência sobre sua impotência". De tudo isso acho que só consigo me lembrar que percebi (só agora) que o (José) Simão tem meia dúzia de frases prontas e as repete sempre em suas crônicas na Folha. São bordões ou um truque para preencher sem esforço a quantidade mínima de caracteres que lhe é exigida? E o que eu tenho com isso? E como encaixar isso na quantidade mínima de caracteres que me é exigida?

(Caipirinha de frutas vermelhas, arroz, purê de abóbora e carne de rã com banana.)
Melhor eu ir, porque ainda existem formigas que circulam em meus dedos e felinos que se alimentam dos meus sonhos.
Fim por ora.

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...