06/09/2007

MACUMBA, TAMBORINS, MACUMBA!





Meu Ipod está possuído pelo demônio.


Sério, eu já achava o shuffle dele meio estranho, meio tendencioso. Sempre tocava certas músicas, desprezava outras, tirava com a minha cara metendo um cinco patinhos foram passear, da Xuxa, toda vez que eu subia na esteira para correr. Mas agora ele anda soltando umas lascas de mensagens subliminares no meio das músicas do Marilyn Manson, no meio das músicas da Sinéad O’Connor. Fora isso, ele ESQUENTA. Sim, meu Ipodzinho oficial, da Apple, comprado em freeshop há apenas três meses, esquenta que nem um videocassete quatro cabeças. Estou pensando em dá-lo de travesseiro para meu iguana, que adora essas coisas quentinhas, mas tenho medo do encosto do Ipod passar para o Araki e ele se transformar no Godzila.

Aliás, meu Ipod nunca mais colocou “Godzila”, da Siouxsie, no shuffle... Ah, meu discman não tinha essas crises espirituais...

Falando em encostos, pomba-gira e o caráleo, ontem fui ver um filme-macumba. Não era um filme sobre macumba, era um FILME-MACUMBA, na sessão “Comodoro”, do Carlão Reichenbach, no Cinesesc (que acontece toda primeira quarta-feira do mês, passando filmes bizarros, sinistros e esdrúxulos). Fazia meses que eu não ia ao Comodoro. Caí ontem meio por acaso e vi um dos filmes mais bizarros de todos os tempos: “Macumba Sexual”, do espanhol Jesus Franco.

O filme não tem história. Mostra basicamente uma vagaba dormindo pelada e tendo pesadelos com uma princesa demoníaca. A princesa é uma transexual negra sósia da Grace Jones, que faz rituais sexuais grupais (e tudo mais) com amuletos de macumba. É só isso. A mulher acorda, dorme de novo, acha que acordada e está dormindo, acha que está dormindo e está acordada, sempre vendo a negona from hell possuindo seu corpo (de todas as formas). A sensação não é nem estar vendo uma sessão de macumba, é estar sendo VÍTIMA de uma. Não deixa de ser interessante. Eu saí do cinema espumando. E com o Ipod quente no bolso.

Falando em Ipod, ontem comprei ingresso para o Tim Festival. Tenho uma preguiça enorme de ir nesses festivais. E o Anthony acabou tão rápido... era o que eu mais queria ver. Mas gosto do Killers, acho uma banda emo honesta, haha (ah, vai dizer que não é emo, aquele drama todo, aquelas letras de ambigüidade sexual e anorexia?) e aproveito para ver a Björk, que é no mesmo dia (apesar de eu achar que Björk é artista de estúdio. Vi um show dela em 97, que foi uma merda...). Talvez eu vá também no Marilyn Manson, se não acabarem os ingressos. Vou deixar para decidir depois. Também já vi show dele e também acho melhor em CD (ou mp3...), mas gostei bastante do último álbum e queria conferir...

De novidades, não tenho ouvido nada. Meu resgate atual é dos meus discos do Jam, banda mod do final dos anos 70, com o chatíssimo vocalista Paul Weller, mas belas melodias e uma guitarrinha que seria posteriormente chupada pelo Johnny Marr (sim, eu gosto mais de Jam do que do Smiths, mas gosto mais do Morrissey do que do Paul Weller).

Paul says: "Olhe bem para meu sorriso que você descobre de que país eu vim..."



E de leituras, estou com uma avalanche. Lendo ao mesmo tempo “Al Diablo la Maldita Primavera”, do Alonso Sánchez Baute, “Fábrica da Violência”, do Jan Guillou e “A Psicanálise dos Contos de Fada”, do Bruno Bettelhein.

“Maldita Primavera” me dá ódio. É um dos livros mais negativos sobre a homossexualidade que já li, narrado por um travesti que conta vida gay de Bogotá. Estou na metade, e talvez o abandone em breve. De qualquer forma, é muito bem escrito, literário, ainda que a serviço do mal. E mostra vários cenários da vida gay de Bogotá que, sem saber, eu conheci (como o Parque Nacional, a Tower Records, o shopping Centro Andino, a academia Body Tech...).

“A Psicanálise dos Contos de Fada” tem análises interessantes. E está servindo como estudo para mim. Mas acho um pouco limitadas as interpretações, e no final percebo que a ficção sempre acrescenta mais sobre um tema do que os livros didáticos...

Por isso “A Fábrica da Violência” é tão bom. Livro sobre a adolescência masculina, que também está servindo de referência para meu próximo romance. Estou no começo, mas tem grandes chances do livro se tornar um dos meus favoritos de todos os tempos. Não sei por que, mas me lembra um pouco “A Montanha Mágica”, do Thomas Mann. E tem um certo exagero, uma certa irrealidade que eu acho deliciosa.

Aliás, estava pensando nisso esses dias, refletindo sobre meu laboratório no ensino fundamental, percebendo que alguns pontos deste meu quinto romance eram bastante distantes da realidade, que algumas questões não faziam parte realmente da idade em que eu estava tratando. Mas vejo que isso não importa, que a realidade de um romance é a que o autor quer mostrar, não necessariamente a que existe lá fora. E afinal, meus personagens sempre são mais arquétipos do que seres reais. Não me importa a realidade, não me importa o que está acontecendo. Me importa o que poderia acontecer.

E ainda tenho uma longa fila de livros latinos aqui para ler. Por isso não me ligue. Não me chame no MSN. Não me mande contos nem me dê o endereço de seu blog.


(Ensaio comigo e com Daniel Peixoto, do Montage, para a nova revista “Junior”, que é lançada este mês. Dei uma olhadinha nas provas e parece estar supimpa. Espero que não tenha festa de lançamento, porque eu não fui convidado...)


PS – Apesar da Macumba, continuo com Jesus no coração, distante dos prazeres da carne e das tentações.

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...