20/08/2007

RUMINANDO UNS MANOS


Hora de fazer as malas novamente...



Acabou hoje meu estágio/laboratório. Vou sentir falta da petizada, conheci uns personagens incríveis. Um amigo meu disse ontem que acha a ordem toda errada, que a gente devia ir para a escola agora, que pode aproveitar realmente as aulas de História, de Geografia... Não sei se concordo com ele – acho que seria um caos se eu tivesse de obedecer novamente o sistema de ensino - mas fiquei pensando em como eu odiava a escola, como tudo o que eu queria era sair de lá. E agora que eu voltei, parece muito mais divertido. Claro, eu estou vendo de fora, não tenho função lá, nem como professor nem como aluno. Talvez se eu tivesse de realmente dar aulas todo os dias, os alunos não me parecessem tão engraçadinhos. Certamente não pareciam engraçadinhos quando eram meus colegas...

Também me faz pensar em como nossa vida é restrita. Só temos uma oportunidade de sermos adolescentes, uma oportunidade de sermos adultos, uma vida de cada vez. Talvez seja um pouco por isso que eu escrevo, para poder ampliar minhas experiências. E talvez seja por isso também que eu viva intensamente, que eu tenha tido tantos empregos diferentes, que eu me jogue tanto no mundo. Há tanta coisa acontecendo, tanta coisa que eu poderia ser neste exato momento, e temos de nos limitar, focar, esperar...

Enfim, esse é papo pra botequim.

De qualquer forma, ainda voltarei às aulas para dar palestras sobre “O Senhor das Moscas”, para sétimas séries. E semana que vem encontro alunos de Passo Fundo...

Isso, agora volto para a estrada. Começo a viajar esta semana. Não sei se é o melhor momento, eu ando tão fechado, tão centrado e tão focado no meu próximo romance.
Recentemente conquistei um equilíbrio tão bom aqui em casa. Claro, um equilíbrio frágil. Eu imagino que se você soprasse aí na rua, eu despencaria da minha poltrona, mas por enquanto estava tudo bem, e eu nem sentia necessidade de te encontrar. De qualquer maneira, é impossível manter a ordem sem mudá-la de lugar... ela empoeira, enferruja, descarrega... E se não fosse um puxão externo a me motivar, eu teria de me lançar, de qualquer maneira...

Então sigo para a Colômbia, para participar do “Bogotá 39”, com jovens escritores de toda América Latina. Não sei muito o que esperar do evento, ninguém me conhece por lá, ninguém nunca me leu, quem vai querer ouvir o que eu tenho a dizer? Também nem sei em que língua, se falo em português, em inglês ou espanhol (que não domino tanto quanto as outras duas).

Só sei que já mandei alguns contos, trechos de livros, e tenho dado várias entrevistas por email a jornalistas de lá. Esses dias me escreveu Gaston Garciam, um jornalista da Espanha, que provavelmente nunca leu livro algum meu, mas conseguiu fazer as melhores perguntas sobre meu trabalho.

Mando algumas (traduzidas):

- Que pergunta prefere responder, “quem é Santiago Nazarian” ou “quem é Thomas Schimidt”?

- De onde vêm suas cicatrizes (além da adolescência gótica)?

- Para onde você levaria Oscar Wilde em São Paulo?

- Como enfrenta seu próprio futuro?

E algumas das minhas respostas (para outras perguntas):

“Autores de literatura são covardes. Eles querem ser respeitados, aceitos como “elite”, então têm medo de usar elementos que pertencem à literatura pop ou que não sejam exatamente de bom gosto. Os autores jovens, por exemplo, cresceram com cultura pop, mas negam isso em seus textos porque querem escrever como “velhos autores”, querem ser aceitos por eles, não se arriscam a trazer algo novo. Eu mesmo tinha esse preconceitos; meus três primeiros romances são bem trevosos e depressivos, e eu achava que literatura de respeito deveria ser assim. Mas comecei a mudar meu ponto de vista quando escrevi “Mastigando Humanos”, comecei a ver que eu poderia fazer mais como “autor jovem”, podia trazer algo novo, não devia negar meu repertório pop. Então coloquei Godzila ao mesmo tempo em que coloquei o corvo do Poe no meu texto, por exemplo. Acho tolo um autor jovem querer escrever como um “senhor autor”. Eu vou ser velho num minuto, neste instante, eu devo tentar outras coisas.”

“Quando você é um adolescente gay, você não se encaixa realmente. Você não se identifica sexualmente com comerciais, novelas, quadrinhos, seus amigos, com nada. Você nem mesmo se identifica com os poucos personagens e personalidades conhecidos como gays, porque geralmente eles estão lá só para serem gays, não são pessoas normais que por acaso gostam de alguém do mesmo sexo. É sempre uma questão. Então acho que é difícil para o adolescente se ver e se aceitar como gay.”

“Eu vejo a literatura mais como uma maneira de mostrar a beleza das minhas feridas do que curá-las. Já vi também como uma maneira de tentar ferir o mundo, como uma agressão. Não mais. Acho que essa revolta adolescente já passou.”


Logo em seguida de Bogotá, tem a Jornada Literária de Passo Fundo. Tenho dois eventos lá, um na Jornada em si, dia 30/08, às 14h30 na parte de Conversas Paralelas, um bate-papo entre leitor e escritor. E no dia 31/08, às 14h participo da Jornadinha, com alunos do Ensino Médio que leram “Mastigando Humanos”. Já aviso que vou fazer chamada oral (ops!).

Depois disso tudo dou uma esticadinha rápida em Porto Alegre. Mas antes disso eu apareço aqui, pra contar da Colômbia.

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...