01/04/2007

“QUE FATALIDADE, MEU PAI!”*

(Foto: Ambooleg/2003 - De quando eu ainda era um jovem que sangrava...)


Oh, eu estava tão em paz com meus ursos polares...

Sentado em frente ao computador, de bermuda e regata, com minhas tatuagens devidamente hidratadas, consegui levar esse verão inteiro acreditando que nada estava acontecendo...

Até quando saía na rua, em pleno almoço tardio, em direção à academia (porque eu praticamente só saía de casa para gravar meu programa e ir à academia), o sol me parecia saudável e, nos dias em que eu saía um pouco mais tarde, me queixava comigo mesmo das sombras já formadas pelos prédios nas ruas - sombras típicas de final do horário de verão - que impediam que eu me bronzeasse...

Mas nos meus raros contatos com os seres humanos, fui ouvindo queixas frugais do calor dos dias, e aos poucos aquilo foi me convencendo de estar um grau (Celsius) acima de simples papo de taxista.

Faz tanto calor assim ou são vocês?

E depois da última quinta-feira, quando mais um jovem escritor da Geração Noventa ousou sentar-se diante do meu computador, quando ele reclamou do calor em meu apartamento, quando me indagou ostensivamente por que eu não colocava afinal o computador mais perto da janela, passei a sentir o calor como todos os outros homeotérmicos deste país tropical.

Tchau, meus ursinhos polares...

E eu, que me sento na frente desta máquina, nesta casa, nesta posição, há mais de três anos, fiquei me indagando se não deveria realmente modificar a mesa do computador de posição, para perto da janela.

Não.

Porque próximo da janela posso me distrair com a realidade...

E o sol entrará com mais violência....

E as pessoas verão o que estou fazendo...

Além de que, meu iguana poderá escalar o rack e pular lá para baixo.

Precisamos sempre nos manter longe de janelas abertas, nós, animais tropicais.

Então não me preocupo com a posição do meu computador, mas me preocupo agora por não ter me preocupado, todas essas semanas, com o calor da estação. Serão problemas hormonais, endócrinos, neurológicos? Não, IDEOLÓGICOS! Porque, vejam só, desde quando, desde quando, me pergunto, desde quando aceitei o calor em meu coração? Desde quando deixei de me importar? Mais ainda: desde quando, passei a amá-lo, desejá-lo, persegui-lo por entre as sombras metropolitanas?

Eu sei bem. Desde quando passei a criar répteis, tanto nos braços como no apartamento. Agora já recebo o inverno com um arrepio...

“Ter um filho muda tudo...”

Assim, tentando recuperar um inverno ao menos ideológico, voltei a revirar os textos de Álvares de Azevedo, Isidore “Lautréamont” Ducasse e Mário de Sá-Carneiro. Esses jovenzinhos românticos que morreram antes de mim, em tempos em que a juventude (e a imaturidade) fazia sentido e podia ser apreciada como valor literário.

Para autores como esses, faz sentido o rótulo de “jovem escritor”. E lendo-os se percebe coisas tão incríveis que só podem ser feitas na imaturidade literária... Uma ingenuidade poética. Uma convicção apaixonada. Uma audácia admirável. Oh... Sabe-se lá mais o quê.

Eu, que me aproximo dos trinta, já não posso morrer de tuberculose, mas tento irrigar a juventude produtiva que me resta, para que ela me traga belos frutos, antes que eles finalmente venham ao chão com o inevitável (e detestável) rótulo de “autor maduro”.

Para terminar o post de maneira mais objetiva: “O Cheiro Ralo”. Bem interessante. Um clima bem particular. Com atores que já são praticamente personagens. Fotografia espetacular. Finalmente um diretor – Heitor Dhalia – que vem fazendo coisas realmente diferentes no cinema nacional. É um diretor para se acompanhar, principalmente porque pelos seus filmes tem-se a impressão de que ele é ligeiramente doente, o que para um artista é mais do que saudável.


A frase título do post foi a última frase de Álvares de Azevedo antes de morrer. Depois, tem a história que o cemitério onde ele foi enterrado foi inundado pelo mar, perderam-se as tumbas, mas puderam encontrar o local onde ele estava enterrado graças a seu cachorro "Fiel", pelo faro. Ohhhhh...

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...