13/03/2007

ASSASSINATO CRÔNICO DA CASA


(foto: Ambooleg)


Nunca faz frio o suficiente para eu usar as roupas certas.

E o chuveiro nunca funciona na hora de enxaguar as lágrimas.

A casa vai se quebrando, as paredes se esfacelando e o chão todo se cobre de uma cal que me lembra dos papelotes mais antigos, jogados atrás da estante, atrás de instantes, distantes...

(Queria completar a frase de cima com “elefantes”)

Cada taça com que brindamos, se quebrará com o tempo.

E ainda que restem cacos, você sabe, nunca penetrarão meus cascos.

A bucha e a areia que me esfoliavam suavemente, hoje cobrem meu corpo com uma casca. E então não há mais nada dentro.

E então não há mais nada dentro.

Olho pela janela e não vejo nem mais o inverno. Minha felicidade se espatifaria lá embaixo como garrafa d’água, de gelo, mas os vizinhos têm um quintal logo abaixo e tenho vergonha de expor meus sentimentos. Então entro.

E então não há mais nada dentro.

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...