06/01/2007

"UM MUSEU DE GRANDES NOVIDADES"* OU "NOSTALGIA DA MODERNIDADE"


(de http://www.decereal.blogspot.com/)


Dos arquivos da Folha de São Paulo:

"A Gradiente vai lançar dentro de um ano no país o DVD Player (Digital Video Disc), um toca-disco-vídeo-digital.O novo produto pretende substituir o videocassete, o videolaser, o toca-disco CD e os leitores de CD-ROMs (que reúnem dados, imagens e sons num disco laser)."- 19/04/96

"Entre os destaques tecnológicos da Sanyo, o DVD (Digital Video Disc), que integra CD-ROM, CD de música e videolaser, e a TV que, com auxílio de um óculos especial, converte as imagens para terceira dimensão." - 21/04/96

"A Toshiba lançou em Tóquio um leitor (drive) de DVD-ROM, o videodisco digital.DVD é um novo sistema de gravação com grande capacidade de armazenamento que deve tornar obsoletos os videocassetes, CDs de música e CD-ROMs.O DVD chega ao mercado japonês em novembro por US$ 700."- 9/10/96


''Na verdade, com a nova tecnologia do DVD _que deve chegar brevemente ao público_ o CD pode desaparecer antes do vinil''. – Adriano Rosa (dono da única fábrica de discos de vinil na época, hoje fechada) - 04/02/97

O melhor do DVD é a qualidade de imagem e som, muito superior à da fita magnética VHS comum.Também fascina a possibilidade de ouvir a trilha sonora em até oito idiomas e legendas em até 32 línguas. É engraçado ver Harrison Ford gritando em japonês numa das cenas de "O Fugitivo". (...) Para proteger sua rentabilidade dos abalos da pirataria, a indústria cinematográfica dividiu o mundo em seis regiões de produção codificada dos aparelhos e discos, e para a venda casada dos dois. Significa que quem comprou o toca-DVD nos EUA não vai conseguir fazer funcionar um DVD adquirido no Japão, por serem produzidos em regiões diferentes. Brasil faz parte da quarta região, que abrange América Latina, Austrália e Nova Zelândia. Além disso, embora haja tecnologia para gravar vídeo digital, essa função foi vetada no toca-DVD."- 9/04/97

O mais engraçado não é verificar como o DVD foi recebido, há dez anos, é poder fazer isso com uma simples pesquisa na net., que já estava arquivando o cotidiano bem antes disso.

Outra coisa interessante a notar (mas que não está nos trechos acima) é como o DVD mudou a maneira das pessoas se relacionarem com cinema. Os filmes passaram a ser uma arte que as pessoas adquirem, não apenas assistem uma vez. No VHS isso sempre foi restrito.

Percebi isso ao traduzir o romance "Rosa", do Gus Van Sant, há um ano, para a Geração Editorial (a publicação foi engavetada depois que a Geração foi comprada pela Ediouro - oh, mas eu fui pago por esse sim. De repente o livro ainda será lançado...). Coloco um trecho que trata dessa questão (o romance foi escrito em meados dos anos 90):

Jack, é isso! Como um filme é temporário! Tão temporário como a própria vida! No meu caso, é porque alguém o roubou e o perdeu. Mas certamente há uma expectativa de vida questionável num filme que se perde, é esquecido ou se torna rosa com o tempo. Rosa de novo, Jack. Enquanto que as outras artes, Jack, parecem durar enquanto não são queimadas.

- Marshall McLuhan diz que esses itens de produção de massa se tornam mais raros do que coisas que são produzidas individualmente, porque os produzidos em massa são feitos para serem gastos e jogados fora, Jack. O filme é uma meio de massa e por isso dispensável.

- A forma como um filme é distribuido é perecível. Você já percebeu, Jack? É mantido inicialmente como um grande segredo porque os cineastas não querem que ninguém roube suas idéia, então é distribuido e lançado em todo o país ao mesmo tempo e as pessoas têm grandes discussões sobre ele: o que quer dizer que gostam ou não. Então o filme faz uma rápida aparição (a cortina final) no vídeo. Depois é esquecido e nunca é trazido de volta, exceto por motivos nostálgicos. Simplesmente assista aos American Movie Classics na televisão a cabo e experimente a nostalgia. Isso exclui alguns amantes do cinema, porque para eles os filmes são arte.

Isso, entretanto, me fere profundamente. Meus olhos começam a lacrimejar. – Sim, Jack – eu digo – eu subo no topo de uma montanha e grito "Arte!" Mas para o grande público, o filme é uma peça transitória de entretenimento barato que se focaliza num momento, depois é destruido cruelmente como afogar um cachorrinho com o qual você se cansou de brincar. Uma vez as pessoas têm a chance de vê-lo, depois é adeus. Quantas vezes você disse "eu já vi isso"? O que significa "não quero ver de novo". Pode até ter sido ótimo da primeira vez, mas não se sabe se quer se perder tempo assistindo tudo de novo. O tempo é precioso para as pessoas e eles tentam poupá-lo. Seja o que for que signifique poupar tempo.

- Espero que meu filme não se perca. Mas não tenho cópias que acredito que durem muito tempo. Depende dos distribuidores que pagam por ele tomar conta para que eles não se percam. Acho que os videodiscos fazem com que a gente ache que os filmes vão durar pela vida toda.

Convém lembrar como os filmes do Gus Van Sant são datados... haha.

Bem, espero que uma certa pessoinha leia isso e desista de dizer, sempre que vamos alugar um DVD: "Ah, mas esse você já viu." Quem não é capaz de aproveitar o prazer da repetição não deveria prezar relacionamentos estáveis...

*E que fique claro que DETESTO Cazuza.

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...