31/01/2006

ALWAYS CRASHING IN THE SAME CAR

Se o que começou agora foi o Ano do Cachorro, ele deve estar espumando.

Este meu cachorro louco começou com incidentes terríveis que me quebraram em todos os sentidos. Felizmente não deve ficar nenhuma sequela, mas meu lado esquerdo do rosto está tão roxo e inchado que só estou saindo de óculos escuros e a franja de proteção. Me sentiria como Thomas Schimidt, se Michael Jackson não tivesse surgido antes.

Por falar em Thomas Schimidt, ainda tenho "Olívio" pra vender, ninguém mais quer? 21 pila, entregue na sua casa, autografado, é só escrever pra mim no saintdragon@uol.com.br, blablablá... Assim vocês me ajudam a ficar menos quebrado, ao menos financeiramente. Vai mais um trecho grátis:

Olívio era carregado pela manhã como um gato pela nuca. Sem ação, imaginava a vitamina que o levaria para o trabalho. Mesmo que sua consciência sossegasse, a sensação da roupa úmida colada ao corpo não o deixaria. No ônibus, na volta para casa, Olívio não poderia esquecer o quanto estava cansado, e relaxar. Não poderia esquecer o quanto estava atrasado, e correr. Não poderia esquecer.

Encontrei Marçal Aquino semana passada e ele disse que considera "Olívio", meu melhor livro. Bem que ele podia adaptar para o cinema, então, não? O último filme de Beto Brant, "Um Crime tão Delicado", tem novamente o roteiro dele (junto a outros roteiristas). É um filme bem diferente do que Beto Brant andava fazendo e do que se faz no cinema brasileiro hoje em dia. No geral, eu gostei. Causa um estranhamento. Você sai com uma sensação estranha. Bem melhor do que ver pinguins cantando.

E calma, calma, semana que vem já trago mais notícias de "Mastigando Humanos". (Bem, esse "calma, calma" é pra mim mesmo. Alguém está tão ansioso quanto eu por meu livro novo?)

27/01/2006

FAMÍLIA CAMURÇA E MAMÃE URSA.

Ei, neste sábado vou fazer uma das minhas (cada vez mais raras) aparições como DJ. Na verdade, vou substituir um DJ que vai ter de faltar no Dynamite Pub. Como o tema da festa é um "Especial Suede", o Pomba me chamou para quebrar o galho e devo tocar a família toda: Suede, The Tears, Bernard Butler, McAlmont & Butler, David Bowie, Smiths, T-Rex, Pulp e por aí vai...

Devo tocar entre a 1 e 2h da manhã. O Dynamite fica na Cardeal Arcoverde com a Mourato Coelho, em Pinheiros.

Estou fechando o contrato de "Mastigando Humanos", meu quarto romance. Terá ótimas supresas. Como já adiantei na comunidade "Santiago Nazarian" do Orkut, o livro traz diversas citações de personagens e autores já conhecidos. "O Corvo", do Poe, é um dos coadjuvantes. Lorena, de "A Morte Sem Nome", também aparece brevemente. Tem ainda Kafka, Burroughs, Thomas Schimidt, Condessa de Segur, Cyndi Lauper, Mickey Mouse, Godzilla e até Super Mário! Sim, sim, esperem uma psicodelia generalizada, inclusive com ILUSTRAÇÕES.

Logo coloco mais detalhes (inclusive a editora) aqui.

Falando em Orkut, nos últimos tempos surgiu uma avalanche de comunidades relacionadas aos meus livros. Além da clássica "Santiago Nazarian", moderada pelo Thomas, fizeram "Quero Pegar Santiago Nazarian", "A Morte Sem Nome" e "Feriado de Mim Mesmo".

Sei lá se precisa de tudo isso, mas fico envaidecido e agradeço.

Pra terminar, assistam "Um Crime tão Delicado", do Beto Brant. É bem diferente dos filmes anteriores dele. E bem interessante.

Vou nessa.

25/01/2006

Ei, não morri. É que formigas comeram meus dedos.

Estou fechando "Mastigando Humanos", traduzindo dois filmes e me imaginando na Antártida.

Mas logo volto.

18/01/2006

YUMMI.

Não espero que todos vocês entendam. Afinal, só posso descrever experiências sinestésicas como essas com palavras. Sem o devido estimulo das papilas, uma refeição não passa de poesia – ou assassinato. E eu mesmo defendi que o que importa é a fome. Queria que minhas palavras pudessem abrir o espaço vazio dos seus estômagos; lendo tarde da noite vocês pudessem lamber os beiços. Mas nem sei se acabaram de jantar, se são vegetarianos, macrobióticos, se o que apreciam mesmo é um bom filé de rabo de jacaré. Quem de vocês poderia entender a magia que se produz com a língua numa coxa tenra e bronzeada? Quem de vocês preferiria uma galinha morta?

A textura elástica da pele se rompendo com meus dentes. São tantos. Tantos dentes para trabalhar que os centímetros de elasticidade se rompem como a casca de um tomate para revelar uma polpa quente, vermelha, vibrante. Com o coração ainda batendo - acelerado pelo meu ataque - fazendo seu caldo escorrer mais rápido para dentro da minha garganta. Daí a carne doce e macia se misturando ao caldo, se exercitando em sua tentativa de fuga. Os músculos em movimento, minhas mandíbulas. Separando-se dos ossos, dançando no meu estômago. Cálcio no cálcio, meus dentes nos ossos, indicando que cheguei à profundeza máxima de um ser. Ah... Perdoem-me.

Trecho do meu próximo romance, "Mastigando Humanos", a ser lançado no segundo semestre. Aguardem mais detalhes...

16/01/2006

Assistam "Impulsividade" (The Thumbsucker) - um filme independente americano estranhíssimo, em que até Keanu Reeves está bem.

Voltando ao JT LeRoy, estava pensando em quais deveriam ser os próximos passos da autora. Parece que é inviável continuar com a história do garoto abusado. Um próximo livro terá de revelar algo mais, ou as pessoas não darão crédito. O que eu acho que ela deveria fazer:

- Lançar um livro de "A Verdadeira História de JT LeRoy", contando os detalhes todos de como conseguiram enganar tanta gente, as celebridades envolvidas, uma crítica ao culto da imagem, etc, etc. Venderia mais do que os livros do JT.

- Lançar um livro se assumindo como Sarah. Ou seja, a verdadeira autora dos livros é a mãe de JT LeRoy, que fez essa homenagem ao filho morto, desparecido, engolido por um tigre.

- Organizar uma antologia de contos com diversos autores escrevendo em primeira pessoa como JT LeRoy, cada um contando uma lembrança escabrosa da adolescência. Assim o personagem se tornaria uma figura mítica e criação coletiva.

Eles já estão fazendo mais ou menos isso. O site do JT começou a vender camisetas com a frase "I'm the real JT LeRoy". Aliás, segundo o próprio, eu também sou el. Num dos emails que trocamos sobre a tadução ele me disse "obrigado por ser eu, pois é isso que um tradutor deve tentar fazer." Hum, quero minha peruca!

Aproveitando o tema gender/bender, mando um conto bem antigo meu, que vem bem a calhar, especialmente por faltar mar neste meu verão.


Verão nos Pulmões.

Numa noite de verão, o mar reservava seu ouvido esquerdo. Música e gritos reservavam ouvido direito. Murilo seguia em frente, apesar de um pouco torto de álcool. Nas noites de verão, mar e festas sempre reservam os ouvidos, e Murilo tinha certeza de que já tinha passado por isso milhões de vezes, mesmo que não se lembrasse quando. Todos os verões eram iguais, ou deveriam ser, como aquele. Ele aproveitava ao máximo, queimando de dia, fervendo de noite, deixando sol e areia moldarem seu corpo, sua barriga, suas pernas, seus cabelos caindo sobre a testa. Porque sob o sol não era preciso mais nada, o resto se encarregava do resto. Sendo jovem, verão e efervescente, não precisava de nada.

De qualquer forma, mesmo assim, talvez por isso, naquela noite, ele precisava de mais. Tudo o que sempre fora tão jovem agora estava velho e gasto, quase duas dezenas de verões enxaguados. Sentia-se melancólico e preferia andar pela praia, imaginando outras coisas, imaginando novas vidas, imaginando que talvez não tivesse sempre o mar ao lado, ou não precisasse passar todos os verões como sempre. Pés na areia, camisa florida, calção de banho, corrente no pescoço, como tudo deveria ser, até o quiosque.

Na luz, se viu tentado a pedir mais uma ceveja, água de coco, cerveja, água de coco, alguma coisa para matar a sede. Acabou pedindo mais uma cerveja, uma cerveja que estava bebendo num quiosque na praia, de noite, com violão tocando numa mesa próxima, pessoas cantando, a vida acontecendo e ele esperando a sua começar pra valer. Ou entornar.

Havia um moço ao seu lado no balcão, demorou só alguns segundos para Murilo perceber, olhando em seus olhos. Um jovem não tão jovem, com calção de banho, camisa em mangas curtas, sandália nos pés, mas preto, tudo preto sobre a pela branca. Sorria para Murilo em branco também. Perto demais, branco demais, branco demais para o verão. Preto demais também. Murilo pegou sua cerveja, sentou-se reto no banco, virou-se para o jovem não tão jovem, que se estendeu para ele.

"Meu nome é Serafim. E você?"

Serafim estendia dedos finos e longos. Um longo cabelo negro caindo sobre os ombros, sobrancelhas finas, dentes brancos, um sorriso de quem morde e de quem cospe, de quem cospe antes de engolir. Tragou em seu cigarro.

"Murilo.", apenas.

Serafim riu botando para fora toda a violência de seus pulmões. O que um jovem daqueles fazia na praia? Fumava. Sorria. Bebia Malibu. Estendia dedos finos e fazia sombra. Violência.

"Você parece ser diferente dos meninos daqui." Aquele era Serafim, com dedos, cabelos e cigarro, chamando Murilo de diferente. Murilo era jovem, queimado, moldado pelo sol e pela areia. E se chamava Murilo. O que um Serafim poderia notar de diferente?

"Você também.", respondeu apenas. "Por que está só?"

Estava sozinho porque era branco, e preto, e tinha violência nos pulmões. Era óbvio. Por que Murilo estava sozinho com ele, era a pergunta. Queimado, moldado, integrado, Murilo tinha festas e mar em seus ouvidos, mas não podia evitar de ler os lábios de Serafim.

"Me sinto melhor assim, sinto melhor a noite. A praia também foi feita pra nós, sabia? Por que acha que as ondas ainda batem de noite? Por que o clima é quente mas a brisa é fresca? Por que a lua ilumina pouco mas o suficiente? E agora estou com você. Não estamos sós."

Serafim dizia tudo com voz doce e poética, mas seus olhos insistiam em cinismo, ironia e perversão. Ou talvez fossem os olhos de Murilo, envergonhados, tendendo a baixar. Fixaram-se nos pés de Serafim, brancos, firmes, mas macios e alongados, como seus dedos. Murilo achou que sua franja já estava indo longe de mais e inflou o peito com o verão.

"Você devia tomar sol, curtir o dia, a praia...." e suas reticências denunciaram desistência.

"Não estamos falando sobre isso, Murilo." Serafim sorriu, colocou a mão sobre a coxa de Murilo e se aproximou. Apesar do medo, Murilo não recuou, manteve-se firme e rígido... talvez rígido demais.

"Eu não queria que isso acontecesse..."

"Por que não?" O hálito de Serafim próximo demais para Murilo recuar. Sentiu todo o verão em seus pulmões tirar-lhe a respiração. Fechou os olhos, já não se continha, tremia e lamentava todos os invernos dos quais não pode escapar.

Inevitavelmente, lágrimas em seus olhos, e ele percebeu que nem sob a luz da lua poderia enganar. Teria de ser frágil, entregue, submisso e esperar que Serafim recolhesse todos os cacos caídos na areia.

"Desculpe...desculpe... não posso....nunca fiz isso..."

Eu – Santiago - Murilo e Serafim tentamos ao máximo evitar isso, mas nada mais poderia ser feito. Murilo baixou os olhos, respirou fundo e tentou dar mais dignidade à minha narrativa. Apenas Serafim, Serafim entregava-se ao escárnio.

"Eu não acredito... Murilo, você é uma criança." Esta última palavra foi suave, foi sim, recuperou a doçura no tom de Serafim, mesmo que ele não quisesse. E com os dedos enxugou as lágrimas do rosto do verão.

"Não se preocupe, : ). Eu cuido de você."

"Eu gostaria que isto nunca tivesse acontecido...me desculpe..."

"Mas não aconteceu nada."

"Você sabe, cara, você sabe tudo o que eu sempre preferi não saber."

"Eu não sei de nada."

"Você sabe sim. Mas... preste atenção, você tem que ter paciência..."

"Eu tenho paciência, meu anjo."

"Você tem que entender..."

"Eu entendo..."

"Ninguém pode saber."

"Eu entendo."

"Eu nunca tive nada com homens..."

"..."

"Eu nunca quis que isso acontecesse, Serafim..."

Serafim rompeu numa gargalhada que acordou todos do quiosque. Suas mãos decolaram da coxa de Murilo e seu corpo reclinou-se na cadeira. Deu o último gole de Malibu, esforçou-se para não engasgar e levantou da cadeira.

"Desculpe, Murilo. Achei que eu é que tinha bebido demais. Preciso trabalhar."

E quando Serafim levantou-se, quando pagou sua bebida ao garçom, quando beijou Murilo no rosto ele percebeu. Serafim era uma menina.

"O nome dela é Mariana. Escolheu Serafim porque é nome de anjo", disse o garçom. E anjo não tem sexo.
Murilo pagou a cerveja e seguiu em direção oposta, sentindo uma brisa do outono entrar em seus pulmões. Esforçou-se para ouvir mar e festas, mas, em seus ouvidos, só havia uma pergunta.

"Será que vai chover amanhã?"

(01/2000)

12/01/2006

EU VOU VOLTAR PRA CANTAREIRA...

Ai, o que está acontecendo comigo? 5am e eu ouvindo em looping uma versão coquetel de camarão para "Strangers in the Night".

Love was just a glance away, a warm embracing dance away...

11/01/2006

OSSOS OCOS COMO ÁGUA DE COCO

E a novela continua. Todo mundo tem me mandado matérias sobre a farsa de JT LeRoy. Parece que ficou provado mesmo que o pitéu era uma pitéia, ou duas. Quer dizer, os livros foram escritos por uma escritora de meia idade e o "personagem" era interpretado por uma menina adolescente.

Na Folha de hoje saiu uma matéria sobre isso, com algumas declarações minhas. Eu realmente não poderia dizer se a figura com quem conversei durante um jantar era homem ou mulher. Parecia um menino bem novo, ou uma menina. A androginia era que dava toda a graça. Aliás, ainda dá. A história fica mais interessante. Quer dizer que ele era uma mulher fantasiada de menino fantasiada de mulher fantasiada de escritor? Haha. Isso é que é pós-modernismo!

De qualquer forma, o livro existe, o personagem existe e continuo recomendando. "The Heart is Deceiftul Above all Things", que eu traduzi, só sai na Bienal, em março. Mas "Sarah", o primeiro, já tem versão em português (tradução de Flávio Moura) e vale a pena.

Agora, o filme baseado no livro - "Maldito Coração" - que estréia no final do mês, é uma bosta. Daria Argento (diretora e atriz do filme, que faz papel da mãe de JT), é ultra canastrona, parece querer realizar seu sonho de interpretar uma puta (ou fazer a Courtney Love, que aliás é o papel que ela faz no filme "Last Days", do Gus Van Sant). O filme consegue transformar a história louquíssima do livro num drama arrastado, cansativo. Fora que o livro é BEEEEEM mais pesado... Esperem até a Bienal.

Aliás, até Wong Kar Wai anda me decepcionando...

Mas não Scott Walker. Estou baixando tudo (o que eu ainda não tenho) dele aqui no meu PC. Parece que está tendo um revival dele e aproveito para achar novas músicas. Outro dia vi no Grind o performer Christian F. (ex Caio Wolf) fazer uma bela versão de "In My Room", ao vivo. O Leandro, vocalista do Multiplex, também manda muito bem nos shows com uma versão de "I Don't Want to Hear It Anymore" (aliás, Leandro é que me apresentou o som do Scott, lá nos anos 90).

Pra quem não sabe, Scott Walker é um cantor "vozeirão" dos anos 60, que influenciou muita gente do pop britânico, como Bowie, Marc Almond e Pulp (aliás, o último cd deles foi produzido pelo Scott). Mas desde os anos 70 que ele não aparece muito, lança um cd a cada dez anos - cada vez mais estranhos.

Então vai aí uma grande letra dele nos anos 60:

I Don't Want to Hear It Anymore.

In my neighbourhood, where folks don't live so good
The rooms are small, most of building's made of wood
I hear the neighbours talking about you and me
Yes, I've heard most every word 'Cause the talking's loud,
and the walls are much too thin

"She don't really love him" Oh, that's what I heard them say
"She sure wasn't thinking of him today"
"I saw her in the courtyard", said that girl in room 1-49
"Talking to a boy I've never seen before
And standing there together, don't you know they looked so fine"

No, I don't want to hear it anymore I don't want to hear it anymore
'Cause the talk just never ends And the heartache soon begins
The talk is so loud and the walls- they're much too thin

"Lord, ain't it sad", said the woman across the hall
"That a nice boy like that falls in love Hey, it's just too bad that he had to go and fall
For a girl who doesn't care for him at all"

No, I don't want to hear it anymore I don't want to hear it anymore
'Cause the talk just never ends And the heartache soon begins
Oh, they talk so loud And the walls are much too thin

Oh, I wish they wouldn't talk so loud And expose my heartache to the crowd
These walls around me are so thin
(Sometimes I think they're moving in)

E aliás... CHEGA DE ALIÁS. .

05/01/2006

VERÃO VINDO ABAIXO

Estou tentando escutar Brian Ferry, mas meu aparelho de som se recusa. Ele tem cerca de sete anos, comprado naqueles multilets de chineses que não pagam imposto e que atualmente são perseguidos pela polícia. Têm minha simpatia, são meus piratas modernos - ou "Robins Hoods" - e eu gostaria de vê-los pegando na espada. Seria lindo, imagina só, a polícia de cacetete em mãos e os chinas de espada em riste liderados pelo filho bastardo de Lao Kin Chong (é assim que se escreve?). Eu poderia ser o traidor ocidental que se alia a eles, armado com minha pistola...

Mas enfim, meu refrigerador não funciona. Ultimamente só toca o cd do "Cansei de Ser Sexy", que já está me cansando, mas ainda fica entre os melhores do ano (passado, que ainda não passou).

Tenho ido dormir todo dia as 6 da manhã. Antes, acendo as luzes UVA/UVB, acordo o Araki, coloco ele no meu colo e fico partindo as acelgas e os almeirões e as couves e as escarolas. Ele fica me olhando com aquela cara de cobra sem língua - como nos preenche o amor dos filhos, não? - daí come sua salada, escala os troncos e começa seu dia. Eu termino o meu.

Acordo à uma da tarde e está sempre chovendo, nublado, King Kong destruindo os prédios. É esse o começo do ano ou final do mundo? Eu pedi Godzilla, Jesus, Godzilla, não King Kong. Se é para sermos esmagados pelo peso de uma pata gigantesca, que seja a sangue frio.

(É mais ou menos sobre isso que será minha peça, se eu conseguir terminar de escrever).

Ganhei uns livros interessantes nesse final/começo de ano. Até uma versão de "Budapest", do Chico, em inglês, vejam só. Eu nem li em português, deve ser mais exótico ler um livro chamado "Budapeste", escrito por um brasileiro e traduzido para o inglês, não?

Daí acho esse trecho de um roamnce antigo, que eu mesmo escrevi mas nunca publiquei:

Quis ligar o rádio para saber a temperatura. Faltava pouco. A primavera já preparava seus fogos de artifício para esconder as estrelas no céu. Esconderia as estrelas em seus olhos e silenciaria as batidas do seu coração. Um suspiro perdido na orquestra. Mas manteve silêncio. Seu amor ainda dormia. E fazia o dia mais quente e verdadeiro. O sono de um amor estirado. Preenchendo o quarto com um aroma doce e o ruído tranqüilo. Da respiração. Do Gás carbônico. Partindo de seus pulmões e envolvendo-o num triste carinho. Partindo ao meio. Apertando a garganta, roubando o oxigênio, sufocando até a morte, de tanto amar. Ele morreria. E ainda, diria alguém, amaria outra vez.

Não está bom, eu sei, ao menos não tudo. Por isso não publiquei. Mas alguns trechos foram espalhados por aí. É o livro secreto de Thomas Schimidt, que está no "Feriado". Olhou pela janela e só viu o inverno...

Hum, Brian Ferry desemperrou finalmente. Está cantando Dylan:

Oh, where have you been my blue-eyed son?
Where have you been, my darling young one?
I've stumbled on the side of twelve misty mountains
Walked and I've crawled on six crooked highways
Stepped in the middle of seven sad forests
Been out in front of a dozen dead oceans
I've been ten thousand miles in the mouth of a graveyard

And it's a hard rain's a gonna fall

Por hoje tá bom.

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...