09/11/2005

MEMÓRIAS FALSAS DE PUTAS TOSCAS

Recebi esta noite por email do (escritor/cineasta chileno) Alberto Fuguet, um artigo sobre "A Verdadeira Identidade de JT LeRoy".

Segundo o escritor Stephen Beachy, JT LeRoy seria a invenção de uma escritora de 39 anos chamada Laura Albert. Ele coloca diversas evidências, a história é bastante complexa, então quem quiser ler, clique aqui:

http://nymetro.com/nymetro/news/people/features/14718/

Realmente faz sentido, mas tem uma coisa estranha nisso tudo. Eu jantei com o "LeRoy", conversei com ele por horas, minha irmã também, várias pessoas da editora também. O tempo todo ele estava SEM óculos e sem peruca. E, de fato, eu não posso ter certeza de que era um homem... podia ser uma menina de uns... doze anos... parecia ser um menino dessa idade. Agora, uma mulher de 39 anos com certeza não era.

Quem era o pitéu? Ou pitéia?

Engraçado que uma coisa dessas só poderia funcionar nos EUA. Aqui no Brasil, teria sido o contrário. Aliás, vou soltar o boato de que os livros da Lya Luft são escritos por uma menina de 25 anos, tatuada e viciada em crack, haha. Claro, do jeito que a cena literária por aqui é preconceituosa, uma menina com esse perfil só poderia emplacar livros se passasse por uma escritora da terceira idade.

Enfim... acho que isso só deixa a história do JT mais interessante. E os livros têm qualidade. Se toda a história por trás é invenção, sinal de ainda mais talento do autor/autora.

"The Heart is Deceiftul Above all Things", segundo romance do LeRoy, traduzido por mim, já foi entregue à editora, mas acho que só sai no começo do ano que vem (provavelmente com o título "Coração Traiçoeiro" ou "Maldito Coração"). Em português vocês já podem encontrar o primeiro, "Sarah", que eu recomendo e que foi traduzido pelo Flávio Moura, que foi meu colega de escola.

Inclusive, encontrei ele e vários outros coleguinhas numa festa de "10 anos de formatura", final de semana passado. Acho que eu fui para me vingar de todo mundo, tipo Carrie, sabe? Mas acabou sendo gostosinho. Você vê aqueles moleques "primeiros do time", que agora estão barrigudos, bebendo cerveja, vivendo "como os nossos pais". Outros que juram que eram "outsiders", mas eram os mais integradinhos do colégio. E geralmente os nerds, creeps e losers (já que estamos nessa realidade bem americana) é que se tornaram as pessoas mais interessantes. Ah, é clichê, previsível, mas uma delícia ver que ainda funciona...

Como uma menina que estudou comigo e que estava lá. Era um canhãozinho, cara de cucaracha, de óculos, a primeira da classe, cdf de quem todo mundo zombava. Hoje em dia soltou os cabelos, tirou os óculos, virou uma latina caliente... com certeza uma das mulheres mais interessantes da festa. Eu, já num estágio avançado de fritura, tive a pachorra de dizer a ela que era um caso de "Betty, a Feia", hahaha. Tudo bem, ela levou na brincadeira. Afinal, não é toda mulher que pode se vangloriar de estar muito melhor aos 28 do que aos 15 anos. Muuuuuuuito melhor...

Eu também acho que estou bem melhor agora do que quando tinha 15. Mas quando tinha 25 estava melhor do que hoje aos 28...

Quem sabe eu não devesse escrever um livro de memórias toscas/sexuais? Posso não ter sido criado num lar destruído, como o (suposto) LeRoy, mas por isso mesmo tive de me esforçar bem mais para sair da casinha e fugir dos eixos. Haha. Com certeza as histórias REAIS que eu teria para contar também dariam um bom filme... de repente um pornô surrealista?

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...