12/07/2005

TODOS OS PRAZERES SÃO ORAIS. ALIÁS...

Minha vida acaba de mudar completamente. Comecei a tomar café. Tão pensando que é brincadeira? Esses vícios orais modificam não apenas nossa rotina, como nossa fisiologia, psicologia e economia. Veja o caso do chimarrão, por exemplo, que eu tomo há um bom tempo. São 5 reais a mais que gasto quase toda semana. São milhares de litros que eu urino de cinco em cinco minutos, haha. É a pia da cozinha entupida quase toda semana com aquela erva maldita. Mas é também uma sensação de segurança e satisfação...

O chimarrão salvou minha vida!

Vocês sabem como é, aquela coisa freudiana, de fase oral, a perda do seio materno fazendo com que passemos o resto da vida procurando estímulos substitutos (para Freud, era o charuto). Daí se inicia o alcoolismo, o tabagismo, obesidade, a putaria...

Por sorte eu nunca fumei, nem me tornei alcóolatra. Mas tô sempre sentado no computador com alguma coisa na boca... Pode até ser uma vodca ou um conhaque, de leve, mas não dá para exagerar sem se dispersar. O chimarrão é um substituto ótimo, porque não tem calorias, é saudável, limpa o organismo e vem com aquela bomba (o "canudo"). Você fica com aquilo na boca, chupando, chupando, e satisfaz todos seus desejos inconscientes... ou quase.

O problema é só a cafeína contida. Quando tomo chimarrão demais, fico pilhado.

Não satisfeito com minha cuiazinha, hoje resolvi comprar chá e café. Acho que por causa do frio. Daí tomei uma xícara enorme, fiquei bem louco e fui pra academia.

Tô falando sério. Vocês não ficam completamente pilhados com cafeína? Talvez seja a minha falta de hábito, talvez seja resquício das drogas que tomei no passado. Mas hoje eu fui treinar como um renascido do inferno. Agora já voltei, jantei e tô tomando chimarrão...

(O foda do café é o peso que deixa na boca. Aquele gosto que persiste, saca?)

Falando em loucura, baixei e tô ouvindo o cd novo do Röyksopp. Que maravilha. Acho que não existe nada que soe mais "Europa" do que eles. Uma Europa no inverno, na Escandinávia, bem aquela em que eu vivi. Coisa eletrônica, futurista-nostálgica, lounge minimalista psicodélico, hehe, uma uva.

O primeiro cd era mais cool, ambient (ai, não vou conseguir parar com os adjetivos), esse já é mais dançante, um pouco kitsch, até mesmo cheesy, mas a Europa também é isso. As melhores faixas são "Only This Moment" (que lembra "Poor Leno", mas bem mais kitsch) "What Else is There" (completamente goth 80’s fofo, tipo Cocteau Twins) e "Circuit Breaker" (aceleradíssima, neurótica e insana). Só acho que as faixas podiam ser mais compridas. Tipo, uns 15 minutos cada, haha, para ficar decorando a casa enquanto eu tomo chimarrão...

Essa coisa idiota da música eletrônica só faz sentido mesmo para quem se pilha. Para mim, só fez sentido mesmo depois que eu me afundei nos tóxicos. Fiquei meses na Europa, com uma mochila nas costas, morando cada hora num lugar, dormindo em cemitério, onde quer que amigos e rapazinhos bonitinhos me recebessem, e me pilhando pilhando... Um dia eu entrei numa loja Seven Eleven, ouvi Kylie Minogue tocando, e tudo fez sentido. Haha (pior que é verdade).

(Voltando ao Royksopp, me lembro que uma vez escutei o primeiro cd chapado, e tive uma iluminação. Cada faixa contava um trecho da história da "Branca de Neve", de forma fragmentada, hahaah, deve ser um lance tipo "Dark Side of the Moon" com "O Mágico de Oz" - vocês sabiam que o album do Pink Floyd pode ser uma trilha alternativa para o filme, né? casa direitinho)

Hoje em dia, fico só no chimarrão. Tenho de cuidar muito bem dos poucos neurônios sobreviventes. Regar direitinho e deixar florescer...

Pra terminar, queria comentar a repercussão do post anterior. Aliás, já comentei, no próprio "comments" de lá. Só quero enfatizar meu "direito de revolta". É claro que tem muitas coisas boas na minha vida, mas se eu me acomodar com elas, se não continuar lutando e protestando contra problemas reais (como falta de oportunidades profissionais e grana) eu posso me aposentar... e morrer. E claro que sei valorizar os acontecimentos positivos, sempre coloco aqui as matérias legais que saem, bons trabalhos que aparecem, lançamentos que faço... coisas que me deixam feliz.

E podem acreditar que gosto de ler os comentários de vocês. Talvez eu "não devesse me importar", mas me importo. Todo mundo quer ser amado ; )

Então vai aí o comentário que minha mãe (Elisa Nazarian) fez, que me mandou por email e que, como ela mesmo disse, se encaixa bem aqui.

Querido,
Que polêmica que deu o seu último blog!!!
Aquele seu correspondente que fala sobre a Vitae e te faz convites escusos, está desatualizado. A Vitae encerrou as bolsas no ano passado, naquela vez em que eu te avisei. Finito!! Mas devem ter outras bolsas, tem que ter, talvez Itaú Cultural, essas coisas. Mas, no seu caso também tenho minhas dúvidas a respeito de bolsa. Porque resolve só o seu problema imediato, quando o que eu estou sentindo é que tem que se achar uma solução mais a longo prazo, de postura de vida mesmo. Como fazer pra ganhar dinheiro e poder continuar escrevendo. Talvez o negócio das legendas cresça. Parece que anda tendo ótimas possibilidades. É um caminho. Achei lindo o que você diz no final do seu blog sobre a "necessidade de ter sempre que se revoltar contra alguma coisa pra se manter vivo". Acredito muito muito muito nisso. Talvez não bem em se revoltar, mas em manter acesa a capacidade da indignação. E a curiosidade. E a crença em algumas coisas, que já não sei quais são.
Como anda o seu olho? O meu sarou...ou quase...
Parece que estou escrevendo pro seu blog.
' Love You!

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...