24/05/2005

UM TIRO PARA CAIO FERNANDO

Recebi hoje aqui, da Ediouro/Agir, o livro "Caio 3D – O Essencial da Década de 70" É o primeiro volume de uma série que pretende resgatar a obra de Caio Fernando Abreu, escritor gaúcho que faleceu há quase dez anos, vítima da Aids.

Ótima iniciativa. Porque apesar de Caio ter falecido há pouco tempo, é difícil encontrar seus livros por aí. Algumas coisas a L&PM relançou em pocket, mas a maioria só se encontra em sebo.

Caio tem coisas geniais. Seu (livro de contos) "Morangos Mofados" é um marco na literatura brasileira (e na minha vida literária). Descobri ainda no colégio, quando eu namorava uma menina louquinha, moderninha e muito densa, que me apresentou o livro, a Camila. Era uma dessas meninas que se esforçavam ao máximo para me levar para "o outro lado da força", haha. E conseguiu. Também não precisou fazer muito esforço...

Nem tudo em "Morangos" eu gosto. O livro abre com "Diálogo", um conto que me dá vontade de dar um tiro no Caio. Haha ("Você é meu companheiro?" Que porra é essa?!!). Mas contos como "Pela Passagem de uma Grande Dor", "Além do Ponto", "Aqueles Dois" e "Sargento Garcia" já tornam Caio imortal.

O tema de "Diálogo" se repete em todos os contos. São monólogos afetivos paralelos, de personagens que se cruzam, interagem, mas não chegam a fechar um diálogo, seja por questões pessoais, seja pela interferência do meio social. Hum, mas esse tema não poderia se aplicar quase a qualquer livro? Haha.

Caio tem um certo tom kitsch, principalmente nas referências, que, quando não pesam demais (deixando o texto datado) são deliciosas. Algo como um Almodovar com coração (porque a mim parece que o Almodovar sempre quer forjar sentimentos, nunca são verdadeiros).

Minha edição de "Morangos Mofados" eu comprei num sebo, com dedicatória do próprio Caio: "Pró Duílio com muito Carinho e Morangos. Smack." (um beijinho desenhado, assinatura e data: setembro de 82).

Não chego a ser especialista na obra do Caio (aliás, não sou especialista na obra de ninguém). Mas foi bom receber esse livro, "Caio 3D", (coletânea de contos, poemas, cartas e depoimentos da década de 70), para mergulhar no universo dele. Eu já li também o romance "Onde Andará Dulce Veiga" (que está sendo filmado em longa pelo Guilherme de Almeida Prado) e não gostei. Nem um pouco. Me pareceu um romance tolo, datado e engraçadinho. Enfim, ninguém é infalível.

Tô lotado de livros aqui para ler. Nem sei por onde começar. Ganhei muitos, principalmente da minha mãe, de aniversário:

Auto-de-Fé – Elias Canetti
A Incrível História da Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada – Gabriel García Marquez
O Coração É um Caçador Solitário – Carson McCullers
Vineland – Thomas Pynchon
Calígula – Allan Massie
Partículas Elementares – Michel Houellebcq
Política – Adam Thirlwell
Breves Entrevistas com Homens Hediondos – David Foster Wallace

Preciso começar logo um desses, porque minha mãe vai me trazer o "Contos de Terror do Século XIX". E eu sei que quando chegar eu vou parar tudo para ler. Hehe.

Também preciso pegar mais livros pra resenhar... Preciso comer... Preciso ser feliz... Preciso ver o sol se pondo no Guaíba em seus olhos gaúchos, que são catarinenses, que são dourados e que, quando olham para mim, fazem eu fechar os meus. E me abrir.

Ahhhhhh, e essa chuva que não passa! Já é quase meia noite. Quero ir pra academia. Tô tomando chimarrão e escrevendo há horas. E sempre que tomo chimarrão fico pilhado para fazer exercícios. Ou... SEXO!

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...