29/01/2005

É O CÂNCER QUE ME FAZ SORRIR

Saiu neste domingo, no caderno de ECONOMIA da Folha ("Seu Dinheiro") continho inédito meu. Eles fizeram uma matéria sobre "A Felicidade do Brasileiro" e queriam a versão de escritores sobre o tema. Eu não sei muito bem se era para fazer um conto, mas como eu não entendo nada de felicidade - e sou moço das ficções -caprichei na doença (e eles me puniram trocando uma das letras do meu nome). Chico Mattoso, meu ex-colega de Parati, também está lá, com uma crônica.

Hoje gravei também uma entrevista com o Paulo César Peréio para o programa dele (Canal Brasil). Foi ótimo. Falamos sobre Incubus, Sucubus e cemitérios verticais, além dos meus livros, claro. E eu fui de camisa de oncinha. Deve ir ao ar só em abril ou maio, com meu livro novo já lançado.

Então vamos ao conto da Folha:

"É o câncer que me faz sorrir." Respondi para surpresa do Dr. Robert Robson. O médico esboçou um sorriso, recolheu meus exames, degustou minhas enzimas e declarou: "Não há motivo para alegria."

Por que não, se eu crescera na praia? Pulsava de sol, vivia de brisa, e afundava os pés na lama e na areia. Era o sol, que me fazia franzir. E o sal, para não arder. Virava o rosto, fechava os olhos, escondia o êxtase, mas expunha pele, a pele. A pele que me faz penar.

Com o tempo, vaidade; mais vício do que latinidade. Exercitar os músculos faciais, criar um coringa, proteger minha tela. Sorrindo para não despencar. Marcando o rosto para não me esquecer. "Vaidade, doutor, vaidade. É a vaidade que me faz franzir."

Esticando as rugas para trás das orelhas. Mantendo o sorriso, apesar das olheiras. O câncer foi avançando, sob minha pele cansada. Parecia mais refinado, soando em nasais. Tudo parecia, quando eu provava mais. De Portugal para a Colômbia, minha língua, latina, morta. "Foi o sol, foram as drogas, foi essa vida toda que me entorta."

O doutor escondeu sua alegria. "Enfim, alguém fez por merecer." Se não podia tirar o câncer da minha pele, se não podia tirar o sol do meu sangue, se não podia tirar uma vida de mim, ao menos do meu rosto poderia. Poderia arrancar toda a minha alegria. "É melhor internarmos você aqui em Chicago."
"Não ria, doutor, não ria. Mas a desgraça foi a minha alegria."

"A alegria foi a minha desgraça", ele corrigiu, como se eu não dominasse sua língua. Beijei sua mão e reafirmei, "foi só para rimar, doutor."

Ele então se aproveitou da minha saliva. E umideceu-se com ironia. "Não ria, Sebastian, não ria. Mas não há mais tempo para cirurgia."

Nessa vida de excessos, não há mais tempo para nada. Nessa vida de excessos, não há nem mais tempo pra vida. Mas se ele não podia tirar o câncer da minha pele, se não podia arrancar o sol do meu sangue, se não podia tirar uma vida de mim, ao menos no Brasil eu poderia. Poderia me queimar numa ilha.

"Escute aqui, não há graça nenhuma. Sua doença é grave, séria, não é prosa nem poesia." Ele estava acostumado com lágrimas, enzimas, saliva. Mas meu sorriso automático ia muito além dos exames clínicos. Cínico. Tomava meu rosto como zombaria.

Então pedi desculpas pela minha doença. Pedi desculpas pelas minhas rimas. Pedi desculpas por uma vida de excessos, mas não me arrependo, se a recebi sem filtros ou bloqueios.

"Foi apenas força de expressão, doutor. Foi só a expressão no meu rosto. Não ria, doutor, não ria. Meu erro foi confundir dor com felicidade."


26/01/2005

ROMANCES POR ESPORTE E SEXO POR ARTE

Terminei hoje, na hora do almoço, o romance "Lorde", do João Gilberto Noll. É um livro tristíssimo, muito cruel, desesperançoso e impiedoso consigo mesmo. Um longo delírio de um escritor pelas ruas de Londres. Autobiográfico? Não acredito. Parece ser uma visão punitiva do autor sobre si mesmo. O Noll que eu conheci pessoalmente me passou uma imagem muito mais nobre.

O livro transmite uma percepção bem estranha de tempo, como num delírio psicodélico. Dias se passam em poucas frases, mas os parágrafos são grandes e não há quebra de capítulos. Cada vez que eu voltava à leitura, me pegava verificando se não havia pulado várias páginas. Me perdia.

Sensação parecida eu tive quando comi cogumelos em Amsterdam. Era uma tarde de terça-feira e eu fiquei andando pela cidade, curtindo o efeito nos cenários. A cada metro que eu andava, sentia que havia passado horas. O que me salvou era meu walkman, porque eu conseguia ter uma medida mais real de tempo através da duração das músicas. "Hum, enquanto eu andava por este quarteirão, a música só foi do verso até o primeiro refrão, então está tudo no ritmo certo."

O walkman salvou novamente minha vida em Amsterdam numa noite que havia me entupido de "E" com um chinesinho. Como aquela cidade é a pior do mundo para se tomar drogas, as boates fechavam as três horas da manhã. E nós dois acabamos loucos na rua, sem ter para onde ir (porque dormíamos em albergue). A solução foi andar pela cidade de mãos dadas, com meu walkman ligado, um fone no ouvido de cada um, até o efeito passar.

Outro episódio "Lordeano" foi quando passei a noite no apartamento de um vietnamita, em Londres. Ele tinha feito bonecos de pano de todos os amigos dele (como bonecos de vodu), para sentir menos saudades. Tinha uma estátua do Buda no quarto e, na hora do sexo, abria um livro da Björk para o Buda ficar lendo e não ver nada do que ele aprontava.

Em "Lorde", há sensações parecidas com essas, e também encontros casuais, porém intensos, como em todos os romances de Noll. Não é o livro dele que eu mais gostei, não me fez muito bem, mas talvez seja o mais forte.

É estranho ler um autor que a gente conhece pessoalmente, não? Principalmente quando seu personagem tem uma realidade tão próxima do autor. Se perde um pouco a liberdade de criar sobre a leitura, mas também se ganha percepções mais profundas...

Um autor muito interessante que conheci há anos foi o Matthew Stadler. É um norte-americano que, aparentemente, só escreve romances gays-pedófilos. Eu não sabia disso quando o conheci. Eu era bem novo e ele estava fazendo o lançamento do seu "Agressor Sexual" (que foi traduzido pelo Daniel Piza) aqui em São Paulo, na Livraria da Vila (onde cheguei a trabalhar alguns meses). Como era lançamento de uma tradução, com autor desconhecido e estrangeiro, não foi ninguém. E eu fiquei um tempo conversando com ele.

Depois de ler o livro é que entendi os olhares "quirquizes" que ele me dirigia...

Anos depois, encontrei o email dele num artigo na internet. Mandei uma mensagem, ele me respondeu, disse que se lembrava de mim e até me mandou uma cópia de seu "Allan Stein" de presente. Esse era um romance sobre um escritor que vai investigar a vida do sobrinho da Gertrude Stein em Paris. Em determinado trecho, uma personagem pergunta e ele mais ou menos assim: "Mas o que esse Allan Stein tem de importante?" E ele responde: "Todos os meninos são importantes." Haha. Michael Jackson que o diga.

Enfim, apesar de doente (e talvez por isso), Matthew Stadler é um bom escritor.

Neste feriado (aniversário de SP) terminei também o "Paraisos Artificiais" (esse nome sempre me lembra mais da música "À Francesa" da Marina, do que do Baudelaire), do Paulo Henriques Britto.

É um livro de contos maravilhoso. Lembra um pouco as coisas mais antigas do Noll. Aquele lance de se começar uma história meio da metade, soltar algumas pontas e não amarrá-las, deixar não apenas sub-textos, mas a certeza de que a certeza não existe em lugar algum. Nesse livro há o excelente "O Companheiro de Quarto", que eu já tinha comentado e colocado um link aqui no blog, além de outras bizarrices. Na verdade, não teve nenhum conto que não gostei.

Só posso terminar com a pergunta que vi numa propaganda de TV em Londres: "Sabia que o carpete da sua casa é dez vezes mais sujo do que o chão da rua?"

É que a sujeira em casa se acumula, enquanto a rua é limpa pela chuva, pelo vento...


24/01/2005

O PÃO QUE A GISELE AMASSOU

Ai, eu preciso escrever sobre assuntos cotidianos, tipo São Paulo Fashion Week ou SPFW?

Sei lá, só fui uma vez. Achei interessante. Mas aquele povo bonito todo me faz me sentir numa piscina com cloro. Arde os olhos, resseca a pele, detona o cabelo...

E não entendo muito bem esse ar de “estou aqui” dos VIPS. Lembro que no SPFW tinha uma padaria VIP. É, uma sala montada como uma padaria, com tudo de graça. Era um tal de gente se entuxando de pão com manteiga no alto do salto. Imagine só. Eu tinha acabado de almoçar, mas não dá pra recusar um pãozinho cortesia, né? Se eu ganhasse na loteria, a primeira coisa que faria seria correr para uma padaria e comer quantos misto-quentes eu aguentasse. Hahah.

Daí um amigo meu me chama pra outra sala: “Tão dando champagne de graça!”

São duas da tarde, mas vamos de champagne.

Bem, bem, VIP por VIP melhor estar na Festa Literária Internacional de Parati. Pelo menos lá eu ainda sou jovem e moderno...

Como diria Adriana Calcanhotto:

Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem...


Pensando bem, essa música podia ser tema da São Paulo Fashion Week, não? Melhor ir de Eduardo Dussek:

Isso é que dá, cê querer freqüentar...

(Estou apaixonado pelo Dussek. Ele é um gênio. A melhor coisa que aconteceu em Taboão da Serra desde a invenção do leite.)

Mudando de assunto, tive uma enxurrada de novos livros aqui. Ganhei algumas coisas - como (felizmente) sempre ganho - além de uma grana que entrou e me fez varrer os sebos. Estou empenhado na pesquisa de contos gays para a antologia que organizo com o Marcelino (Freire). Quanto mais antigos, melhor. Mas minhas aquisições não foram só nessa tônica. São elas:

- O Diário Cor de Rosa de Lori Lambi, da Hilda Hilst, cuja peça eu já tinha visto há anos.
- Os Melhores Contos do João do Rio.
- Medo de Sade, do Bernardo Carvalho.
- O Obsceno Pássaro da Noite, do José Donoso.
- Maldito, do Barcinski e do Finotti (biografia do Zé do Caixão)
- O Horror em Red Hook do HP Lovecraft
- Confissões de uma Máscara, do Yukio Mishima (edição rosinha, portuguesa, linda)
- Por que a Criança Cozinha na Polenta, da Aglaj Veteranyi (presente e edição do Marcelino)
- Paraísos Artificiais, do Paulo Henriques Britto
- Lorde, do João Gilberto Noll (presente do próprio)

Estou lendo simultaneamente o “Lorde”, “Paraísos Artificiais” e o “Desconsolado”, do Kazuo Ishiguro (que foi presente da minha mãe). Depois escrevo mais detalhadamente sobre eles. Assim que a fila aliviar, quero ler algo em francês, para desenferrujar. E não me chamem de desocupado que estou dando expediente na Abril das 9h às 18h de segunda a sexta. E ainda vou pra academia todas as noites. Dá tempo de tudo. Até escrevi um conto novo: "Rinoceronte". É só não perder tempo falando ao telefone, secando o cabelo ou amando o próximo.

19/01/2005

PRA PORTUGAL DE NAVIO

Algumas pessoas me avisaram e Lu Gastão me mandou o link de matéria do Globo, da semana passada:

  • Prosa & Verso


  • A matéria conta um pouco dos autores brasileiros (eu entre eles) que estão sendo editados em Portugal pela editora Palavra, que inclusive está investindo numa "ampla campanha de divulgação" para que eles vão para lá, fazer os lançamentos. Ray-Güde, minha agente, é que cuidou disso para mim. Agora é aguardar, provavelmente para o segundo semestre.

    E quem sabe teremos "A Morte Sem Nome" em outras línguas ainda este ano...

    Para quem AINDA não leu, vai aí um "trecho de trabalho" do livro, agora um romance internacional.

    Quando me olhei no espelho, já tinha envelhecido trinta e cinco. No canto do olho, atrás de um sorriso, na frente do espelho, uma tristeza a ser escondida. Entre os dentes, as marcas das minhas mordidas. Em meus cabelos, a vida se esvaindo. Penteei fio por fio. Escovei dente por dente. Maquiei olho por olho e me olhei novamente, no espelho.

    Ainda estava lá, por trás de mim, entre os azulejos, jogado no ralo, tudo o que eu não pude esconder. Mofo nas frestas, cabelos na pia, sangue no vaso, sorrindo pra mim. Continuei a esfregar, pensando em branco. E, quanto mais esfregava, mais sangue se espalhava. E de gotas fiz uma poça. E de poças fiz um lago. Do lago fiz um mar, para me afogar.

    Me sentei na sala para fumar. Cigarro. Entre os dedos. Entre os dentes. Manchados de nicotina. Queimando com minha insegurança. Sumindo como fumaça. Cinzas ao chão, entre as frestas. Peguei a vassoura e a ordem, a ordem continuava a fugir de mim.

    Minhas pegadas me seguiam para onde quer que eu fosse. Eu não podia escapar. E minhas impressões digitais manchavam o que quer que eu tocasse. Se tornavam cinzas, pó e mofo. Minhas mãos, meus lábios, meu pescoço e meu coração. A ser esfregada, a ser varrida, a ser escovada, nenhum banho daria conta. Minhas pegadas me seguiam aonde quer que eu fosse e minhas impressões digitais estavam sempre em meus dedos.

    Nos pratos sujos. No garfo e na faca. Na cozinha, meu sangue fresco escorrendo pela pia. Detergente, sabão em pó. Lavei a louça e os talheres. Espalhei milhares de cacos pelo chão. Pela cozinha. Minhas impressões em cada um deles. Minhas impressões no ralo. Minhas impressões na faca. Minhas impressões cortando a linha, em volta do meu pescoço.

    No lixo. Jogada em pedacinhos. Virei os olhos para longe de tudo o que eu não podia mais. Suco de laranja. Ossos de frango. Um coração palpitando. Que pelo menos não vaze pela casa. Que o saco plástico resista ao meu peso.

    No quarto, arrumei a cama. Troquei os lençóis e sacudi meus orgasmos, pela janela. Pêlos ao vento. Sangue no colchão. Fronha amassada. Cada coberta trocada era um vinco a mais em meu rosto. No travesseiro. Me olhei no espelho e já não estava mais lá. Desarrumada. Troquei de roupa. Guardei o sorriso. Fechei botão por botão, cada qual na sua casa. Eu na minha, tentando fechar. Um quilo a mais, um quilo a menos. Pastéis de queijo para rechear. Vaso sanitário para vomitar. Seios pequenos para amamentar.

    Quem pergunta? Quem procura? Entre as pernas, entre os dentes. Mordidas nos seios. Pêlos na virilha. Sangue preso. Fecho solto. Barriga para dentro. Pernas de fora. Unha quebrada. Falta de cuidado. Olhei para o espelho para ver se ainda havia salvação.

    Você se tornou uma bela mulher, hein? O orgulho estapeava meu rosto e deixava marcas. Olhei atrás das orelhas, embaixo do armário. Procurei minhas meias e calcei os sapatos. Um de cada vez. Passo a passo eu consigo. Minhas pegadas ainda me seguiam, mas pelo menos eu estava de salto alto.

    Olhei para o relógio. Era tarde. Mas ainda havia todo o tempo do mundo. A vida não esperava por mim. Lá fora, que o tempo passasse. Lá fora, que o o sol se pusesse. Lá fora, que o mundo acabasse. Eu tinha tempo de acabar com o meu. Fechava as janelas e trancava as portas. Desligava o rádio e o gás. A geladeira. Bebia as últimas gotas de água. Dava a última olhada no espelho. Me sentava na cadeira e esperava. Me sentava na cadeira a esperava. Me sentava na cadeira e esperava. Esperaria o tempo que fosse, o tempo que fosse para a minha morte chegar.

    17/01/2005

    NÃO TENTE FAZER ISSO EM CASA

    Hum, com esse freela novo as coisas melhoraram um pouquinho. Até comprei um pote de sorvete de doce de abóbora. Viu? Não é preciso muito para me fazer feliz.

    Mas no final do ano passado, quando eu tava chupando sacolé, uma amiga me deu a idéia para eu ficar rico: "Por que você não monta uma oficina?"

    Ai, mas eu nem sei onde fica o carburador...

    Gracinhas à parte, não entendo mesmo dessas "oficinas literárias". Quem já fez, me explique: é para aprender, consertar ou só exercitar? Quando eu penso nisso me dá uma artrite nos seis dedos... Só de pensar num monte de gente sentada discutindo seus próprios textos, uns avaliando os outros... ai, ai... Eles acendem incenso também?

    Pior seria eu coordenando esse processo. Imagine, eu dando uma oficina literária? Haha. Não acredito nisso não. Cada um que descubra seu próprio processo, suas próprias doenças e maneiras de lidar com elas. Não quero ser responsável pelo suicídio de ninguém, já chega todos os meus.

    Lembrei disso porque vi hoje um site mongoloidíssimo, que tem pretensas fórmulas para se "publicar o primeiro livro". Não são só dicas de mercado, não. Tem umas coisas imbecis como "o que prende realmente a atenção num livro são os diálogos", "na hora de descrever os lugares, não se esqueça das condições climáticas". Eu me pergunto, que livro escreveu o autor (ou atores) daquela joça?

    Não, eu não vou dar o endereço do site aqui. Como eu já disse, não quero ser responsável pelo suicídio de ninguém.

    Na verdade, eu não acredito muito no processo de ensino em geral não. Sei que isso é uma coisa bem adolescente de se dizer, mas fazer o quê? Principalmente nas áreas de humanas, o conhecimento acaba sendo apenas a opinião alheia, pois a verdade mesmo não existe. Ë bom saber o que os outros pensam, mas daí a aceitar como regra ou instrução...

    E os professores sempre são tão vaidosos, não é? Tão certos do que estão passando. Ou do que ‘Focault" disse.

    (ai, será que alguém vai me matar antes de se suicidar?)

    O que importa é o pipoqueiro, que eu vi descendo a rua, no final da tarde de ontem.

    Claro que tive uma relação de amor e ódio com todos meus professores. E (com apenas a exceção de uma professora de história que eu tive) nunca nenhum deles acreditou que eu seria escritor. Nem achavam que eu "escrevia bem". Achavam apenas que eu era "criativo", me davam nota 8. E dez para a menininha de caligrafia bonita, que hoje está estudando sociologia.

    Mas o que importa é o pipoqueiro que eu vi descendo a rua no final da tarde de ontem.

    Lembro uma vez que eu cabulei a aula de português do professor Carlos Emílio Faraco e deixei uma placa na minha mesa: "Em manutenção." Quando eu voltei pra classe, umas duas horas depois, tinha um bilhete dele: "Não tem mais conserto. Tá na garantia?"

    Sério, entendo porque alguns grandes escritores dão oficinas literárias, todo mundo precisa de sorvete de doce de abóbora. Mas por que alguém FREQÜENTA uma oficina literária? Isso é uma pergunta, não uma
    condenação. O processo de escrita é algo muito particular, como se divide isso com os outros?

    Talvez um dia até eu descubra minha fórmula para dar uma oficina, mas, enquanto eu estiver com tudo em cima, acharei mais digno posar pra G Magazine.

    Bem, bem, se é para eu dar minhas dicas, elas seriam as seguintes:

    1) Escreva, mané, escreva. Não fique pensando no livro maravilhoso que você gostaria de fazer. Em pensamento, todos os livros são maravilhosos. Escreva, mané, escreva. Não é isso que você gosta de fazer?

    2) Não se obrigue a ler ninguém. Nenhum. Nem Machado nem Clarice nem ninguém. Leia só o que você quiser, quem você quiser e quando você quiser. E, se você não quiser, por que escrever?

    3) Não faça nada que você não queira. Não se sinta obrigado a nada. No seu livro, eu quero dizer. Se você não quer dar nome pro personagem, não dê. Se você não quer descrever a casa dele, não descreva. Não escreva nada que você não queira escrever, do contrário ninguém vai querer ler. É como aqueles filmes pornográficos que ficam perdendo tempo com história. Por que não coloca só um monte de cenas de sexo de uma vez? Liberdade! Liberdade!

    4) Hum, ai, sei lá. Viu como não dá certo minha oficina?


    15/01/2005

    PULSO FIRME EM BATIMENTOS IRREGULARES

    Seguinte, seguinte, já vou divulgando para depois não ter desculpa. Marquem na agenda.
    Lançamento de "Feriado de Mim Mesmo":

    Em SP - Dia 29 de Março, na Casa do Saber.
    Em Porto Alegre – 9 de Abril, provavelmente no Botequim das Letras.
    No Rio de Janeiro – 13 de maio, na Bienal.

    No Rio, fui convidado também para participar de uma mesa sobre "Vanguarda Literária" na Bienal. Vai ser ótimo, e meu aniversário. Muita gente me escreve do Rio, e vou cobrar a presença de todo mundo no lançamento, hein? Mais ainda, vou cobrar passeios e baladas pelo fim de semana, porque faz tempo que não vou ao Rio.

    Vai aí mais uma palhinha do livro (e não posso dizer de que parte é):

    Fazia quase um ano que moravam naquela cidade. E quase um ano que moravam juntos. Sem experiências maiores, apenas mais restritas, aceitavam a vida ali como a melhor que poderiam ter. E a melhor que poderiam ter juntos, no inverno, verão e intermediários. Jamais tinham saudades de como fora antes, e mal se lembravam. Mas ainda lamentavam a sorte como irreparável. Não poderia ser de outra forma. Um no outro. No mesmo apartamento. Dividindo o mesmo espaço, a cama e o oxigênio. Comendo do mesmo prato e mastigando um da boca do outro. Alimentando o mesmo corpo. Aquecendo-se com um abraço e um olhar, em verde e dourado. Um beijo apaixonado. Era triste, mas era inevitável. Como deveria ser. Era amor.

    Sexta tive um jantar maravilhoso em que conheci um de meus maiores ídolos vivos, João Gilberto Noll.


    13/01/2005

    ONDE ANDA OLGA DEL VOLGA

    Assisti outro dia, no Canal Brasil, o filme "Onda Nova" , de José Antonio Fernandez Garcia e Ícaro Martins. É um filme nacional tosquíssimo de 1983, sobre um time de futebol feminino. Não tem muita história. Parece apenas que os diretores quiseram retratar o povo moderrrrrrrno dos 80 e todos seus fetiches. É divertidíssimo, datadíssimo e com um povinho gostosinho. Tem mina com mina, mino com mino, mina com mino e, no meio disso tudo, Patrício Bisso.

    Alguém lembra dele? Um precursor cult das drags, que criou a personagem Olga del Volga, uma sexóloga neurótica. Ele fez também "O Beijo da Mulher Aranha", do Babenco. E tenho gravado uma música antiga dele que é ótima:

    Guitarra elétrica, geringonça tétrica
    Se lembra da sanfona da Adelaide Chiozzo, que cafona.
    Violão acústico, que trambolho rústico.
    Deixa que a Agnalda toca o piano de calda.


    Hehe, ok, isso é só um trecho. No "Onda Nova" ele interpreta uma mãe moralista, com aquele sotaque argentino dele, peruca e tudo. Fui pesquisar por onde anda o Patrício.

    Na Internet consta que ele vai dirigir um filme sobre a Olga del Volga com um elenco de estrelas. Rita Lee (como Evita Peron), Agnaldo Rayol (como Stalin), José Wilker (como Freud), além de Fernanda Montenegro, Hebe Camargo e Regina Duarte. Como ele vai pagar todo esse povo?

    Ai, ai, e hoje em dia temos Bianca Exótica no poder...

    Outro filme igualmente absurdo, que eu vi semana passada é "O Filho de Chucky". Foram um pouco além da conta, mas vale só pela Jennifer Tilly gorda interpretando ela mesma em fim de carreira. Ela até transa com um rapper para conseguir o papel de Virgem Maria num filme, haha. Quem está em fim de carreira mesmo é o Chucky. Tinham de colocar ele pra lutar com o Freddy, o Jason e o Michael Myers. Podiam fazer um vale tudo dos monstros, não? Aliás, imagine isso em videogame, ia ser ótimo...

    E de "O Grito" não vou nem comentar, porque sou fiel à Samara.

    11/01/2005

    MEU INGRESSO PARA 2005

    Legal, várias pessoas me passaram o texto da revista "Quem", que fala do meu livro. São dez dicas de livros pelo escritor Luís Antônio Giron. Sobre "A Morte" ele fala o seguinte:

    "É um livro excelente, romance de choque desse jovem escritor paulistano. Escreve frases cortantes, mas sem ser pobre. Conta a história de uma "serial suicider" que, ao longo do romance, tenta se matar. A sensação do leitor é de entrar em um inferno aparentemente descrito com conhecimento pelo autor."

    As outras indicações dele são Nilza Rezende, Carlos Trigueiro, Wilson Bueno, Jhumpa Lahiri, Santiago Kovladloff, Paulo Henriques Britto, Yasunari Kawabata, Fabrício Carpinejar e Letícia Wierzchowski. Essa edição também tem mais dez dicas de Frederico Mengozzi. Vocês podem ler o texto integral no:

    http://revistaquem.globo.com/Quem/0,6993,EQG886260-2157,00.html

    Hoje estou com febre, passei a noite tendo delírios com contas a pagar e o Leatherface me cortando com a motossera. Mas acho que o pesadelo já passou (por hora). Quando eu estava com a corda no pescoço, Jesus Cristo me salva novamente. Amanhã começo outro freela na Abril. Viva!


    08/01/2005

    EU SOU CONSTRUTOR!

    "No que você trabalha", perguntou ela num só gole inconseqüente. Foi só então que olhei para o bar onde estávamos, para ela, para mim mesmo e comecei a narrar a longa seqüência de frustrações que terminaria, quem sabe, num conto. Mais um, sobre a tristeza da minha vida. E o vazio das minhas paixões, parágrafo após parágrafo, acento após acento, tentando dar um sentido. Sorri, para depois descrever com ironia e respondi entre orgulho e incerteza. "Eu sou escritor."

    Trechinho de um conto antigo, esse, "Do Alto do Meu Cavalo", que escrevi em 2001, antes de ter publicado. Aquela coisa, ninguém precisa estar publicado para se considerar escritor, mas faz toda a diferença lidar com a "máquina poética", o meio literário, a editora, a imprensa, os colegas, os agentes, os ninjas apicultores.
    Odeio quando me fazem essa pergunta numa festa. "O que você faz?" Porque se eu começar a dizer, não vou conseguir parar. E ninguém se contenta só com a resposta "sou escritor".

    "Mas escreve o quê? Contos, crônicas, poesia?" Me tiram para jornalista, publicitário, revisor. E quando eu não quero responder, olham para minhas tatuagens, minha academia (que está longe de ser imortal) e concluem em silêncio: "Ah, ele é michê."

    E geralmente quem me pergunta está é louco para me dizer: "Eu sou ator." Haha.

    Quando eu era bem pequeno, disse para meu pai que "queria ser pianista". Ele me disse que então eu tinha de começar a estudar imediatamente. E eu, como sempre tive nojo de estudo, desisti. Só fui estudar piano mesmo uma década depois, e nunca aprendi grande coisa.

    Por essa falta de talento, fui estudar publicidade (haha), um curso genérico que me concede cela especial. Em crise ideológica, no meio do curso prestei letras na USP e entrei. Mas desisti. Fiquei com o cárcere da publicidade mesmo.

    Mesmo assim, não me arrependo. O que eu poderia ter feito? Não quero ser analista, analítico e professor para estudar Letras. Não quero ser jornalista, jornalítico e nem comentarista para estudar outra coisa. Sou um desocupado produtivo. Então, publicidade.

    Me lembro de um encontro em Parati, que eu, Chico Mattoso e João Paulo Cuenca tivemos com o Millor Fernandes em frente às câmeras do Jornal Nacional. O senhor escritor perguntou aos petizes:

    "O que você estudou, meu filho?"

    Chico Mattoso respondeu: "Letras, meu mestre."

    "Hum, muito bom, muito bom. E você, meu jovem?"

    João Paulo Cuenca respondeu: "Economia, professor."

    "Hum, interessante, interessante. E você, rapaz?"

    E eu respondi: "Publicidade, tio."

    E o Millor quase entrou em convulsão: "Ah, não, não, isso não!"

    Haha, pior que essa história é verdade, mas graças a Deus não chegou a ir ao ar. O Millor ainda acrescentou que quem faz publicidade "não tem comprometimento com a verdade." Concordo com ele. E por isso mesmo repensei minha própria ojeriza ao curso. Afinal, EU NÃO QUERO SABER DA VERDADE. A VERDADE NÃO EXISTE. Não entendo os escritores que dizem tratar "da verdade", "da realidade". Eu só quero a ilusão.
    E conheci gente boníssima na publicidade, artistas de verdade (assim como existem tantos "publicitários não formados" trabalhando como jornalistas, escritores, ninjas...).

    Agora, que eu vivo de brisa, escrevo livros, faço traduções e passo fome, o que posso dizer? Me formo como escritor. E até os publicitários me olham desconfiados.

    E ainda tem os próprios escritores (gente legal, como o Marcelino) que dizem que "o escritor tem de descer do pedestal". Que pedestal? Eu quero é subir! Subir! Afinal, tem arte menos glamurosa do que escrever? Eu bem que queria que fosse diferente. Ter cabelos longos e ser pianista virtuoso! Ah, mas troquei de teclado...

    Só posso encerrar com um trecho de um livro infantil do Patrick Mayers, "Eu Sou Construtor" (pena que não dá pra mandar as ilustrações), sobre um menino que constrói castelos com blocos de madeira, e eles sempre vêm ao chão:

    E agora, o que farei?
    Será que devo chorar?
    Será que devo gritar?
    Será que devo chutar os blocos?
    Será que devo pedir à mamãe pra fazer de novo o meu castelo?
    Ou será que não devo ligar?
    Não!
    Vou construir meu castelo de novo.
    Um castelo igual ao de um rei,
    E tão alto que chegue no céu.
    Pois eu sou construtor!


    06/01/2005

    LÁGRIMAS POR BRETT ANDERSON

    Acabo de baixar da Internet o primeiro show inteiro (em MP3) do "The Tears" (eta nomezinho tosco para uma banda).

    Esse é o novo projeto de Brett Anderson e Bernard Butler, respectivamente vocal e guitarra do (falecido grupo) Suede. Eles começaram a tocar juntos no começo dos anos 90, na inglaterra, influenciando todo o movimento Britpop, que surgia resgatando os "valores nacionais", os sotaques britânicos pesados, as influências clássicas (como Beatles, Bowie e Smiths) e o "brit way of life", como uma forma de se afastar do grunge americano que dominava a mídia naquela época.

    Aqui no Brasil, o Suede atingiu a molecada "alternativa" que assistia programas como "Lado B" da MTV e ouvia o Kid Vinil na Brasil 2000. Eu era um desses. E com certeza Suede foi a trilha para uma série de descobertas do final da minha adolescência...

    Eu e a Camila, minha namorada do colegial, éramos apaixonados pelo Brett Anderson, pela sua figura andrógina, sua performance altamente sexual. Era tudo o que eu queria ser (e acreditava que estava me tornando). Eu, um gótico nerd cucaracha, descobria minha própria sexualidade e (como diz a letra de "Animal Nitrate") "the delights of a chemical smile", passando os finais de semana na casa imensa da Camila no Morumbi, vendo clipes do Suede, ouvindo Cure, aprontando com meninos e meninas e sofrendo de apendicite. "We’re so young, and so gone, let’s chase the dragon from our home", parafraseando Suede mais uma vez.

    Só fui conhecer a banda mesmo em 2002, quando eu morei em Londres. Eu trabalhava de barman para o pessoal do Popstarz, que organizava festas e shows com bandas da cena brit. Vi dois shows do Suede. O primeiro até que foi bom, porque eles tocaram com uma orquestra, mas o Brett Anderson já não tinha mais nada de andrógino, nada de voz e nada de Bernard Butler, que já tinha saído da banda faz tempo, deixando lugar para um guitarrista bem tosco, o Richard Oakes.

    O segundo show então estava fraquinho, mas fui em seguida para uma festa onde conheci a banda. Dei um "oi" para o Brett e conversei bastante com o Simon, baterista.

    Mas o melhor foi conhecer o Bernard, algumas horas antes de um show dele com David Mcalmont no Cherry Jam. Ele foi simpatissíssimo, até me deu um compacto autografado. Tem uma foto minha com ele no meu album do Orkut. O show também foi ótimo. Ele manda bem demais, meu guitarrista favorito. Gosto praticamente de tudo o que ele fez, incluindo os albuns solo.

    O Suede acabou em 2003. E agora acontece o que todo fã antigo deles sonhava, Brett Anderson volta a tocar com Bernard Butler.

    Bem, bem, não posso dizer que é uma decepção. As músicas parecem bem melhores do que as últimas coisas que o Suede fez. Mas não chega nem perto dos primeiros albuns...

    Vocês podem baixar e tirar suas próprias conclusões aqui:

    http://www.torr.org/blog/2004/12/download-tears-first-ever-gig.html

    Quem não conhece Suede, recomendo procurar alguma coisa dos primeiros discos deles, antes de ouvir "The Tears". Mando aí meu top 10:

    So Young
    Sleeping Pills
    New Generation
    The Asphalt World
    Lost in TV
    Picnic by the Motorway
    Another no One
    Animal Nitrate
    The Power
    Still Life

    E, mudando radicalmente de assunto. A Mara comentou aqui no blog que viu meu livro entre os dez mais na revista "Quem" (ui!). Eu não vi, nem sei o que saiu escrito. Alguém viu/tem, pode me contar mais?

    05/01/2005

    SANGRE FRIO E LÍNGUA BIFURCADA

    Li recentemente a reportagem vencedora do Prêmio Esso 2004. "A Tragédia de Felipe Klein", de Renan Antunes de Oliveira. O Felipe era um garoto de 20 anos, filho do ex-ministro Odacir Klein, adepto da "body modification" e que se suicidou no começo de 2004.

    Apesar do detalhamento da reportagem, achei-a extremamente moralista e conservadora, como é comum nas reportagens que tratam de body art.

    "Ele tinha tudo para ser feliz. Juventude, saúde, talento, dinheiro, o amor de belas garotas. Mas Felipe construiu para si um mundo dark e animal. Tatuou demônios no peito - e foi vencido por eles."

    Coloca as tatuagens e as modificações corporais como "o mal que afligia Felipe", e não como manifestações de suas verdades (ou contradições) internas. É claro que alguém que, como ele, coloca próteses de chifres na cabeça, bifurca a língua como a de um réptil, entre outras coisas, não tem uma mente exatamente saudável, mas até aí, quem tem? É como dizer que a pintura foi a loucura de Van Gogh (guardadas as devidas proporções).

    Por que esse povo tem sempre de julgar a estética alheia?

    Eu conheci o Felipe quando morei em Porto Alegre. Fomos amigos próximos por um tempo, mas ele era bem mais novo do que eu e muito obsessivo/depressivo. Eu, que estava "descobrindo a luz", não tinha mais muita paciência com o povo gótico, e me afastei daquela turma. Mas posso dizer que o que movia/motivava o Felipe era esse trabalho estético. Inclusive ele trabalhava fazendo tatuagens e piercings, ou seja, esse era o lado prático e produtivo da vida dele.

    Minhas "incursões" na body art foram muito mais sutis e esporádicas. Apenas fotos com alguns cortes reais (algumas delas inclusive estão nas orelhas dos meus livros). O povo mais radical dizia que "aquilo não impressionava", que eu deveria pegar mais pesado. Os jornalistas e outros "alistas" por aí criavam um grande alarde. Cheguei a ser capa da Ilustrada, em 97, por causa disso. Mas minha intenção é apenas fazer um trabalho estético com uma simbologia por trás. Não é prazer, não é dor, apenas beleza. Qualquer um que se corta fazendo a barba não cria grande alarde por causa disso, e a intervenção física é a mesma.

    Mas eu acho interessante quem realiza intervenções mais radicais, embora nem sempre eu goste do resultado. Como a artista francesa Orlan, que faz operações plásticas sistemáticas para reproduzir fragmentos de obras de arte em seu corpo, "a testa da Mona Lisa", o "queixo da Vênus de Botticelli, e por aí vai.

    Outra amiga minha que passou por isso (e não sei onde parou) foi a Priscila Davanzo, a "mulher-vaca", que tatuou manchas bovinas pelo corpo e pretendia colocar chifres também. Eu questiono alguns de seus argumentos, mas o que eu não entendo mesmo é por que isso agride tanto os outros, a ponto deles agredirem a Priscila de volta. A discussão sai de uma questão estética para virar ofensa pessoal.

    Outra coisa que eu não entendo é a "polêmica das tatuagens". Não vejo o menor sentido naquela pergunta, "e se você enjoar". Tenho tatuagens que fiz há dez anos, e talvez hoje elas não tenham mais tanto significado pra mim, mas já fazem parte do meu corpo. Eu não as questiono. Depois de um tempo elas simplesmente se tornam parte de você, não fazem tanta diferença, só para os outros.

    Mas é um saco sempre ter de explicar o que elas significam. E olha que eu tenho onze, ainda que pequenas...

    Well, well, vocês podem ler a matéria sobre o Felipe Klein aqui:

    http://www.jornalja.com.br/indx_detalhe.asp?cod=148


    03/01/2005

    A REALIDADE É MEU GODZILA

    Quando eu estava fugindo para Juqueí, na quinta, o porteiro do prédio me deu um envelope com o jornal "Metrópole da Amazônia", enviado pelo jornalista Mozart Lira.

    Ele fez uma matéria de página inteira sobre meu trabalho. Fala de "Olívio", de "A Morte Sem Nome" e já adianta a trama de "Feriado de Mim Mesmo". Além disso, dá um ótimo panorama da minha trajetória profissional, minhas experiências como barman comentando inclusive minha participação no programa da Monique Evans (ai, ai, que foi um horror, no começo de 2003, para promover "Olívio").

    Agora fico esperando surgir o convite para eu fazer alguma coisa lá pela região...

    Em Juqueí, não fiz muito além de tostar ao sol e balançar na rede. Meus serviços de barman também foram requisitados pela família Luciancencov, que me recebeu com toda a hospitalidade. Foram muitas caipirinhas, mas eu mesmo segurei a onda e poupei meu fígado...

    Por falar em segurar a onda...

    Alguém aqui conhece Juqueí? Praia lindíssima, chiquérrima, coisa fina de butique. Eu e o Daniel varremos o lugar à procura de um quiosquezinho na praia, um boteco à beira mar ou coisa assim, mas nada. O lugar só tem bistrôs, creperias, nem sorveteria tem, só "gelateria". O povo que circula também é uma intersecção de Capricho com Caras, jovens bonitos e bem nascidos, com seus pais barrigudos e bem nutridos. Enfim, foi uma boa virada, talvez me traga mais dinheiro nesse novo ano...

    Pois não é que eu volto pra casa e o tsunami invadiu meu apartamento, passando por baixo da porta, me afogando em contas e mais contas para pagar? Ai, ai, a realidade é que me mata. Outro dia sonhei que o Godzila estava destruindo São Paulo, e eu estava super feliz, porque com uma catástrofe dessas eu não teria de me preocupar com coisas pequenas, como em pagar o aluguel.

    Não é egoísmo não, é sonho.

    Por falar em tsunami, o que eu posso acrescentar que já não tenha sido dito? Uma tristeza, mas ao menos desta vez foi uma intervenção superior... O saldo que fica é que a natureza sabe o que faz, e nós não temos a mínima idéia do que fazer.


    TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

    (Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...