30/10/2004

AMOR & HEMÁCIAS

Vocês devem ter reparado que o nome do blog mudou, não? Ou melhor, o blog ganhou o nome. Me toquei quando vi uma matéria do Marcelo Moutinho no site Portal Literal sobre blogs de autores. O meu estava lá, entre os outros, o único sem nome (e com uma descrição não das melhores...). Daí me toquei que precisava batizá-lo.

Ele se chamava apenas "Santiago Nazarian" porque a intenção era que os leitores que procurassem sobre mim na net achassem de cara o blog, que já tem link para as matérias e entrevistas mais importantes. Está funcionando. Além dos comentários que recebo aqui, chegam bastante emails, e algumas pessoas comentam comigo quando me encontram. Mas concordo que o blog ainda precisa evoluir muito.

O nome Amor & Hemácias não precisa ser explicado, precisa? Quem acompanha o blog ou leu "A Morte Sem Nome" entende...

É uma experiência nova pra mim e muitas vezes eu me sinto culpado. Preferia continuar escondido por trás da ficção, que é meu verdadeiro trabalho. Mas tem sido um passatempo divertido, e é uma ferramente importante de divulgação e relacionamento hoje em dia.

Então, resolvi colocar mais um conto no link "Formigas no Açúcar". Não é completamente inédito. Quem foi na minha última palestra no Instituto Cervantes já conhece (ALIÁS, tenho um debate sobre literatura marcado para novembro, depois dou mais detalhes). É um conto de polidactilia, "Seis Dedos Para Contar", tirado do meu imenso estoque de contos inéditos (quem sabe um dia não resolvo publicar uma antologia?).

Espero que gostem. O link está aí do lado - "Formigas no Açúcar". O conto "Depois do Sexo", que havia sido feito para uma antologia da Planeta, continua lá.


26/10/2004

ESTUPRA MAS NÃO MATA

Ah, está chegando Halloween e agora as crianças brasileiras comemoram. Quando eu era uma criança gótica, tudo o que eu queria era que houvesse Halloween por aqui. Cheguei até a convencer um amigo meu de escola a se fantasiar e sair pedindo doces pelas ruas do Jardim América, haha. Obviamente só recebemos o desprezo de empregadas estressadas. Agora também não quero mais...

Esse lado negro da minha personalidade sempre foi muito presente, mas nunca consegui escrever um livro – ou um conto que seja - de terror. ALIÁS, conversei sobre isso com o (cineasta) Guilherme de Almeida Prado, que também adora filmes de terror. Conversamos sobre por que pessoas como eu, o Carlão Reichenbach (outro fã do sinistro) e vários outros artistas não estávamos renovando (ou criando) a produção do terror nacional. Acho que para fazer terror é preciso um talento específico, assim como para fazer pornografia. Ambos precisam lidar necessariamente com alguns clichês, pois são eles que garantem o medo e a excitação do público. Mas, no caso do terror, é preciso saber dosar muito bem o uso desses clichês com a reversão dos mesmos.

Tem também o preconceito, é claro. Muita gente não faz por ser um gênero considerado "menor" pela crítica.
Isso é uma grande bobagem, lógico. Há vários grandes livros de terror que são LITERATURA. Pessoalmente, eu acho DRÄCULA do Bram Stoker, o melhor deles, não só pela repercussão que tem até hoje, mas principalmente porque, apesar de ter uma história/personagem muito bem conhecidos e ter sido escrito há mais de cem anos, ainda consegue provocar medo. Lida com questões arquetípicas bem fortes. E toda aquela primeira parte do Jonathan Harker no castelo é fantástica.

FRANKENSTEIN eu não gosto. Tudo bem, não posso falar que é ruim nem nada assim, mas o livro nunca me despertou grandes emoções. E, INFELIZMENTE, eu posso dizer o mesmo da obra do Edgar Allan Poe. Eu me esforço bastante, tenho as obras completas dele em inglês e vários contos em português. Também não sou louco de criticar, mas nunca me despertou nada.

Outro dia eu estava conversando sobre isso com o Cid Vale Ferreira, um amigo meu da adolescência gótica que se tornou editor e um especialista em literatura do século XIX. Eu dizia que o que eu sentia falta na obra do Poe era aquela sexualidade latente que está presente em toda boa obra de terror. Acho que funciona quase como um paradoxo – associar o sexo com a morte (ALIÁS, eu trabalho essa associação no conto "Depois do Sexo", que está aqui no site, no link "Formigas no Açúcar"). O Cid concordou comigo, mas justificou que a sexualidade na obra do Poe se manifesta de uma maneira muito mais alegórica. Daí ele me deu um exemplo do conto "A Máscara da Morte Rubra", que me pareceu genial – o pêndulo do baile de máscaras como um símbolo fálico e tal. Só que quando fui reler o conto, achei que o Cid tinha exagerado na interpretação, ahah. Enfim, pelo menos é ótimo conversar com alguém apaixonado pelo tema e que tem embasamento.

Dos livros de terror contemporâneos gosto muitíssimo do EXORCISTA, do William Peter Blatty. Li o livro pela primeira vez quando eu tinha cerca de 13 anos – e se me assustou naquela época é porque a coisa é forte mesmo. Reli recentemente. É muito melhor do que o filme. Principalmente porque sempre fica a dúvida se trata-se realmente de uma possessão. A latência sexual está na alegoria da puberdade, mas o livro ainda traz muitas questões teológicas.

E final de semana passado li outro livro de terror do caralho: "RING", do Koji Suzuki. Sim, é o romance japonês da década de 90 que inspirou o filmes japonês, o coreano e o americano "O Chamado". Eu acho a versão americana um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. Muita gente critica dizendo que é mal explicado, mas eu acho apenas que "não é explicado". O filme deixa muitas pontas soltas e essa é a grande sacada. Fora que as imagens são lindas, aquela fita amaldiçoada é um primor do surrealismo, uma maravilha.

O livro também é bem bom. Dá menos medo do que o filme. É bem mais racional e tem menos referências spooky. O autor trabalha o tempo todo com a negação dos clichês e com justificativas científicas para os fatos. Talvez isso tire um pouco o clima, mas continua sendo um grande livro – mais de suspense investigativo do que de terror. O romance também tem uma questão amoral e machista muito forte, que foi suavizada no filme. Para vocês terem uma idéia, no livro o personagem principal (que no filme americano foi vivido por Naomi Watts) é um homem e a pessoa para quem ele mostra a fita para ajudá-lo a desvendar o mistério é um amigo ESTUPRADOR. Haha, isso mesmo, ele mostra a fita pra esse cara porque se o amigo morrer o mundo não vai estar perdendo grande coisa, já que ele é um crápula, haha. Achei isso ótimo. Não vou contar mais nada para não estragar as surpresas, apesar de eu saber que ninguém vai ler esse livro (nem existe versão em português – mas a tradução para o inglês é ótima e a edição da Vertical é um primor).

Outro que eu li de ontem para hoje foi "The Hellbound Heart", do Clive Barker, o romance que inspirou os filmes "Hellraiser". O Barker também tem uma questão sexual muito forte nos livros/filmes dele, associada ao sadomasoquismo. Talvez ele mesmo seja (um sadomasoquista), mas não necessariamente. Ele pode trabalhar essa questão só ideologicamente, como é o meu caso. Muita gente colocou que "A Morte Sem Nome" é um romance sadomasoquista, e eu até concordo, mas confesso que na cama eu sou mais meiguinho, hahaha.

Voltando – The Hellbound Heart não chega a ser um romance, é uma novela, e uma novela que parece já ter sido escrita visando o cinema. Ou seja, não é grandes coisas em termos de literatura. A ação parece se desenvolver muito rápido e sem grande profundidade. Os diálogos são banais e os personagens também. Fora que é uma edição de bolso da Harper Collins, o que torna quase inevitável não acreditar que está se lendo um livro "barato". Se eu não tivesse visto o filme, diria que a novela daria um ótimo filme (mas como eu vi, sei que deu uma merda de filme, hahah). Entretanto, o único ponto em que a novela se torna mais interessante do que o filme é na descrição das torturas e dos Cenobitas. Obviamente, por ser um livro, o autor consegue fazer referências a outros sentidos que não são explorados na tela. O cheiro de baunilha dos demônios, os sons do inferno tocando na cabeça dos personagens. Mas isso acontece em poucas passagens, o resto do livro é fraco mesmo. Enfim, não consigo me acertar com o Mr. Barker - e eu queria tanto...

Provavelmente um dos primeiros que trabalhou essa questão do sadomasoquismo na literatura foi o Marquês de Sade (afinal, o termo "sádico" veio do nome dele). Mas eu acho que ele exagera, que se preocupava muito em chocar e a trama acaba se tornando uma novelona mexicana (ALIÁS, conversei sobre isso também com o Cid – e novamente ele defendeu o autor). Mas enfim, do Sade eu só li "Les Infortunes de La Vertu" (em francês - o segundo andar da Livraria Cultura/SP, do Conjunto Nacional tem umas coisas boas assim).

E quem mais? Quem mais? Anne Rice não, por favor, acho um horror (no mau sentido. Li "Interview with the Vampire" e alguns contos). Stephen King eu confesso que tem algumas coisas brilhantes (o romance "IT" é uma pérola. O livro de contos "Night Shift" também). O problema dele talvez seja produzir livros a granel, então faz algumas coisas bem toscas. Fora que os finais dele são péssimos. Dean Koontz é tosqueira mesmo, mas me diverti com "The Funhouse" (que inspirou o filme...adivinhem...."Pague para Entrar Reze para Sair", hahahah! Sim, esse filme foi baseado num livro!).

Dos mais antigões, além do "Drácula", eu gostei muito do "The Turn of the Screw" (Henry James) – que também tem a questão sexual relacionada à puberdade e à infância; gosto da novela "Karmilla" (Sheridan le Fannu – com um lesbianismo quase explícito) e de vários contos do Saki (mas ele trabalha mais o fantástico, com um certo humor negro/satírico, não exatamente terror).

De Brasileiro eu ainda não conheci nenhum que prestasse. Tem aquele cara...o André Vianco, que parece que vende horrores de horror. Mas nunca sai resenha de livro dele em lugar algum. O meio literário simplesmente o ignora. Eu preciso ler para ver o que há que há. Sinceramente não conheço.

Ah, enfim, já escrevi DEMAIS e comemorei o Halloween aqui no meu blog. Esse montão de texto era pra assustar mesmo – Boo! Quem quiser me indicar outros livros de horror, é muito bem vindo aí no "vermelho". E para quem acha que eu só leio esse tipo de coisa, tem um link permanente aí do lado – Sugestões de Livros – que eu escrevi pro site "Leia Livro".


23/10/2004

SANTA SANGRE

Levei nesta sexta na (Editora) Planeta as fotos que fiz com o Daniel (Luciancencov) no Lord Palace Hotel. Ficaram ótimas. Conseguimos não só a foto minha para a orelha do próximo livro, como uma foto para a CAPA. Já está aprovada. Logicamente, não é meu rosto nem nada assim, mas segue a linha "body art / auto-mutilação" que eu venho perseguindo desde 96.

ALIÁS, venho fazendo ótimas fotos por esses anos, sem falsa modéstia, graças à parceria de fotógrafos bem talentosos. As primeiras que eu fiz, ainda para o curso de História da Arte da FAAP, foram com o Luiz Venâncio (que hoje toca na banda Pullovers). Fiz também algumas para o curso de fotografia com o Pedro Palhares Fernandez e tive a ótima direção de fotografia do Henrique Rodriguez no meu curta-snuff "Ame o Garoto que Segura a Faca", de 97 (não me peçam para ver esse curta, é tosquíssimo - eu tinha 19 anos - só mesmo a fotografia e a direção de arte que ficaram ótimas).

Para a divulgação de "Olívio" e "A Mulher Barbada", eu fiz as fotos com o Ambooleg. "A Morte Sem Nome" e "Feriado de Mim Mesmo" foram feitas com o Daniel Luciancencov. E infelizmente esses dois desleixados não têm site com os trabalhos deles para eu colocar o link aqui.

Geralmente eu só participo da concepção e produção visual mesmo, mas tenho alguns cliques bons. Apesar de eu ter estudado um pouco fotografia, nunca tive uma máquina que preste, para me dedicar mais. É um hobbie gostoso, e uma forma de ilustrar meu trabalho. Mas FOTOLOG eu acho um pouco além da conta, haha.

E por falar em auto-mutilação, finalmente chegaram em casa os livros do Clive Barker que eu encomendei pela Amazon: "The Helbound Heart" e "Books of Blood 1-3". Para falar a verdade, não sou muito fã do Cliver Barker não. Acho os filmes dele péssimos (assisti "Hellraiser", "Nightbreed" e "Candyman"), todos têm ótimas idéias/conceitos, que são arruinados por uma direção tosca e atores de fundo de quintal. De repente os livros são melhores. A série de quadrinhos "Hellraiser" é maravilhosa (mas também não é assinada por ele, são outros artistas trabalhando o conceito). De livro dele mesmo eu só li "The Great and Secret Show", que começa muito bem, depois se torna tão abstrato que eu larguei.

Chegou aqui também "Ring", o romance de Koji Suzuki que inspirou o filme "O Chamado".

E antes que eu me esqueça, segunda-feira vou dar uma entrevista na Rádio Cultura às 10:30 da manhã. Não sei se é ao vivo. Se for, já estão avisados. Fiz uma ótima entrevista lá no ano passado.

21/10/2004

A NOVA NOITE DO MEU BEM

Aos 27 anos, a gente começa a perceber que todo mundo vai se encaixando. Alguns mais tortos, outros retinhos, mas todos vivendo suas próprias vidas, casando, encaminhados nas carreiras, deixando de se perguntar "o que ser quando crescer?"

Duas das minhas ex-namoradas, a Camila e a Fabbie, já se casaram. Ai, ai, ai...

Dos amigos próximos, nenhum escritor, mas muitosDJS e músicos, como o Dan Nakagawa, o Nicolas do Lastpain, a Vanessa do Ludov, o Rangel dos Corações em Fúria. Eu cheguei a tocar teclado numa banda, o "Viva Violet". Era divertidíssimo, uma coisa meio glam, com músicas chamadas "Milk & Champagne", "Are You WildE’nough" e "Blame it to My Vinyl Pants", haaha. Coisa de adolescente. A gente tocou algumas vezes no falecido Retrô.

Graças a Deus livrei o mundo desse zumbido.

Mas o Leandro, que era vocalista, felizmente seguiu em frente. Como ele sempre foi apaixonado por anos 80, acabou fazendo o que há de mais moderno nesses tempos, elektro.

"Multiplex" é o inteligentíssimo projeto dele. Mistura bases eletrônicas com um vocal poderoso, influenciado por Cauby Peixoto, Ney Matogrosso e outros MPBistas glamurosos. As letras também vão nessa linha. O que dizer de um refrão como esse?

"Moderno vai, moderno vem,
como é moderna a noite do meu bem.
Na rua Augusta, Consolação também.
Como é moderna a noite do meu bem."

Ou então:

"Dance comigo,
beba, meu amigo, eu não ligo,
eu não sei o que dizer."

Isso é para quem acha que Elektro é só um bando de garotas lesadinhas maquiadas gritando o nome dos amigos. Entenderam, não é?

Vocês podem conhecer melhor o Multiplex e baixar faixas deles no site da Trama www.tramavirtual.com.br

20/10/2004

QUERO SER PAQUITO.

Ai, ai, ai, lá vem o fantasma da Mostra. Todo ano eu finjo que nada está acontecendo, que a Mostra não me atinge e que nenhum filme me interessa, mas daí acabo vendo um, e descubro outro, e outro, daí se torna inevitável não entrar na maratona e sofrer com filas, com horários trocados e lamentar - principalmente lamentar - todos os filmes que não deu para ver e que sempre alguém fala que eram imperdíveis.

Se alguém postar aqui no meu "vermelho" sugestões de filmes para eu ver na Mostra leva porrada.

Mas como lamentar é viver, eu me lembro aqui de um dos melhores filmes que vi na Mostra (e na vida), em 98 – "Não Viver", do Hiroshi Shimizu. É a história de um grupo de suicidas que compra um pacote turístico de ônibus para ver a morte. Estão todos cientes de que o ônibus sofrerá um "acidente" alguns dias após o início da excursão, para que então – com a morte dos passageiros – as famílias possam receber o dinheiro do seguro. Cada um tem seu motivo para querer morrer e para querer deixar o dinheiro (e são motivos bem nipônicos mesmo). Só que por acaso um dos passageiros não embarca e sua sobrinha adolescente, que nada sabe do combinado, toma seu lugar. O filme é uma comédia de humor negro, mostrando o contraste entre homens deprimidos no final da vida e uma adolescente que leva tudo como uma "divertida viagem".

E esse só eu vi, ninguém mais, ninguém mais, nunca entrou em cartaz.

Ano passado eu vi poucos, mais bons, incluindo um finlandês bem comercial, uma espécie de "E Sua Mãe Também" do Ártico – "Menolippu Mombasaan". O filme até agora não entrou em cartaz no Brasil, mas poderia. ALIÁS, quando eu estava na Finlândia, em 2002, toda hora passava o clip da música tema.

Também no ano passado vi o "Adeus Dragon Inn", do Tsai Ming Liang, que já falei aqui no site. E alguns outros que já entraram em cartaz, então nem vou citar.

Só consegui mesmo ver muuuuuuita coisa na Mostra em 97, quando trabalhei de monitor. Mas não tenho saudades...

ALIÁS o que eu queria mesmo era que estreasse o remake de 2003 do "Massacre da Serra Elétrica". Mas, ai, qual é o point desse post de hoje?

17/10/2004

O HOTEL DE JOÃO GILBERTO NOLL

Quando eu morava em Porto Alegre, eu e o Jaspion costumávamos procurar o prédio amarelo da rua Riachuelo que era descrito no romance "Rastros do Verão", de João Gilberto Noll. Não me lembro se a gente chegou a encontrar, mas não faz diferença. Pois apesar do Noll trabalhar muito cidades específicas em seus romances - Rio de Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis, Londres - essas cidades sempre aparecem em suas narrativas com uma força mítica particular. Um pouco como minha relação com a cidade de Lorena...

Sempre fui avesso aos regionalismos (e essa foi minha maior dificuldade no "projeto Parati"). O que importa mesmo é o cenário interno. Por todas as paisagens que passei, as imagens que ficaram foram de pessoas. Talvez por isso Lorena tenha se transformado numa mulher (assim como "Lusiânia"). Vira e mexe eu sonho que estou voltando lá, sempre com o mesmo sentimento de platonismo, mas o cenário sempre diferente...

Voltando ao Noll, é isso o que eu mais amo nele, essa capacidade de criar cenários literários, uma Londres que não foi a minha, uma Porto Alegre que eu não conheci. Eu gostaria de me hospedar lá, no mundo mágico de Noll. E nesses dias cheguei perto.

Eu e o Daniel (Luciancencov) fomos hoje tirar umas fotos no Lord Palace Hotel, conhecem? É um hotel construído no centro de São Paulo, no final dos anos 50, que vai ser demolido mês que vem. Por enquanto, ainda está em perfeito estado de conservação. Recebia hospedes até bem pouco tempo e tem uma decoração totalmente 60. Neste mês eles abriram os quartos e os transformaram em instalações de arte. Claro, tem muita coisa tola, mas algumas legais.

O mais interessante é o clima "nolliano" do lugar (não apenas pelo nome/título do hotel/livro), que permanece intacto, com os corredores vazios, os quartos abertos. Nós fomos vagando como num hotel fantasma, vendo o que sobrou, o que foi assombrado. Fizemos uma visita semana passada e marcamos de voltar hoje para as fotos. Levei para lá também dois livros. Um do João Gilberto Noll, outro meu, logicamente. Deixei em dois quartos, para o fantasma que quiser pegar e levar. De repente, você ainda acha os livros lá.

Em um dos quarto também há uma gravura do meu pai – Guilherme de Faria – que ALIÁS fez a ilustração da capa de "A Morte Sem Nome". A gravura não é muito diferente da capa do livro, uma mulher de costas...

O Lord Palace Hotel se encontra na rua das Palmeiras, 71 e fica aberto de quinta a domingo das 11h às 19h, até comecinho de novembro. Quem quiser os livros, também pode encontrar nas boas casas do ramo, haha. As fotos vão ser usadas na divulgação do meu terceiro, "Feriado de Mim Mesmo".

13/10/2004

ACABOU A LUZ E PERDI A VOZ

Já fui adorador de Björk. ALIÁS, começou com o Sugarcubes. Mas depois de vê-la ao vivo, no Freejazz, em 97, perdi um pouco o tesão.

Apesar disso, achei “Vespertine”, o penúltimo cd dela, bem bom. Também adorei “Dançando no Escuro”, o filme do Lars Von Trier. Então aos poucos ela foi recuperando minha confiança.

Agora baixei “Medulla”, o último CD dela, pelo Soulseek. Os fãs se dividem, uns metem o pau, outros mostram a cobra (hohoho). Eu aperto as glândulas e tiro soro anti-ofídico. É bom, bem bom, apesar das excessivas “bjorkisses”.

É tudo vocal. Só há instrumentos em duas das catorze faixas. Isso não quer dizer que seja um cd "a capella". Na verdade, essa história de “100% orgânico” é mais uma jogada de marketing (esperta- que logo madonna vai tentar copiar, haha), porque os arranjos são formados por tantas camadas de vocais processados, beatboxes e overdubs que soa praticamente como se fosse feito por sintetizadores. Sim, é mais um disco “eletrônico” da Bjork.

Mas isso é bom, porque ela descobriu uma nova maneira de continuar sendo ela mesma. Além do mais, assina a produção, que é certamente o ponto alto do disco. Fico me perguntando se ela compôs e arranjou as músicas todas no gogó ou se começou com um sintetizador.

Faixas como “Oceania” (o primeiro single), “Pleasure is All Mine” e “Triumph of a Heart” são perfeitamente acessíveis. ALIÁS, essa última é uma das melhores coisas que ela já fez. Outras já descem mais quadrado. E não foi sempre assim com Björk?

Enfim, é de se admirar que alguém venda milhões fazendo arte.

Testado e aprovado, vou comprar oficialmente. Para vocês verem como essa coisa de MP3 pode funcionar a favor do artista.

11/10/2004

XUXA MEETS NOBUYOSHI ARAKI

Muita gente já ouviu falar daquele filme da Xuxa em que ela literalmente dá colo a um baixinho. Eu aluguei nesta véspera de feriado de dia das crianças: "Amor Estranho Amor", do Walter Ugo Khouri. Conta a história de um menino que é deixado pela avó para morar com a mãe prostituta num bordel de luxo. Lá dentro ele é assediado por todas as meninas, inclusive pela rainha dos baixinhos, e vive um relacionamento edipiano com a mãe, interpretada pela Vera Fischer.

Claro que aluguei só para ver a Xuxa fazendo travessuras, mas me surpreendi. O filme é beeeeem bom. Tem algumas tosqueiras e putarias, mas o som é ótimo, com uma trilha sonora praticamente ininterrupta que vai de Silvio Caldas à Traditional Jazz Band ecoando pelos salões do casarão. Vera Fischer está fabulosa e até a Xuxa está melhor do que quando enfrenta o Baixo Astral. ALIÁS, a melhor cena é quando ela dança jazz vestida de urso; vira praticamente um filme surrealista.

ALIÁS, me lembrou esta foto aqui: http://www.studium.iar.unicamp.br/10/araki/images/15_deathelegy-4.jpg, que o Daniel (Luciancencov) me mandou na semana passada, bem dia das crianças. É do Nobuyoshi Araki, fotógrafo japonês contemporâneo. Ficaria ótima como capa do romance que estou escrevendo agora...

(Sim, comecei um quarto romance. O que esperavam? Terminei "Feriado de Mim Mesmo" há mais de um ano. "A Morte Sem Nome" é de 2001. Até agora estou vivendo das glórias do passado...)

09/10/2004

MELANCÓLICO QUERIDINHO

A Editora 7 Letras teve a ótima iniciativa de criar no ano passado a coleção Rocinante. Eu ainda não entendi muito bem qual é a proposta da coleção, já que engloba desde Goethe até Clarah Averbuck, mas a maioria dos títulos é de autores estreantes, e isso é o que importa. Recebi vários (livros da coleção) aqui em casa. A maioria dos volumes é de contos curtos de "realismo orgânico", característico da atual geração. Talvez o aspecto negativo é que muitos desses livros, mesmos os mais consistentes, acabam desaparecendo em meio à enxurrada de novos contistas que seguem esse formato (e a capa, e o projeto gráfico...). Por isso gostei muito de "Domingo", um romance do Francisco Slade, que tem história pra contar e não tem pressa para isso.

Entre os de contos que recebi, um dos mais interessantes é o "Contogramas" do Flávio Viegas Amoreira. Como eu sou meio burrinho, lesadinho e criado a Condessa de Segur não entendi quase nada -haha. Mas pesquei algumas idéias interessantes. Principalmente porque ele tem um conto sobre "Rufus Wainwright" (o "Melancólico Queridinho" do post de hoje).

Para quem não conhece, Rufus é um cantor-compositor-pianista que mistura pop, folk e jazz. Homossexual assumido, ele tem letras bem interessantes – às vezes um pouco pernósticas – fazendo referências a ópera, literatura e cultura pop. ALIÁS, mais ou menos como o livro do Flávio Amoreira.

Uma das minhas letras favoritas (do Rufus) é "Last Cup of Coffee", na qual ele lamenta esperar por seu amor num café onde só toca música grunge. "Os cafés não são mais o que costumavam ser, mas pelo menos eu estou lendo Proust", diz ele. Hahhaha. Eu não levo a sério. E adoro. (Denny, você conhece? Cafés, Proust, você iria adorar, eheh).

ALIÁS, tenho um amigo que já ficou com o Rufus e conta coisas terríveis dele....Mas nada que me surpreendesse.

Vocês podem saber mais sobre o Rufus no: http://www.rufuswainwright.com/, mas o site não é nada demais.

E por falar em queridinhos melancólicos e links, Ronaldo Estevam, amigo meu do Real Madrid (a banda), me passou o link deles no site da trama: http://www.tramavirtual.com.br/ (entre com o nome da banda e você encontra várias músicas para download).

Eles fazem um som ótimo, melancólico, sem pressa, uma coisa easy-listening retrô do novo milênio (hum?). Minha faixa preferida é "Sun Francisco", que parece trilha de abertura de programa de socialite – tipo Estilo Ramy – na madrugada. Isso se esses programas fossem kitsch por esperteza, e não por incompetência.

ALIÁS, a falta de pressa do Real Madrid talvez esteja mais próxima da falta de pressa do Tsai Ming-Liang do que do Francisco Slade (e do que a minha). Essa coisa de ficar horas e horas no mesmo plano (ou no mesmo riff). É um talento precioso na neurose destes tempos.

Mas como não se apressar quando um queridinho melancólico nos espera? Tchau!

08/10/2004

QUANTO DE VERMELHO HÁ EM MIM?

Quem leu "A Morte Sem Nome" reconhece essa frase. Ela também está presente em "Olívio" e em "Feriado de Mim Mesmo", com uma pequena variação. Quando eu a escrevi em "A Morte", aos 23 anos, não tinha expectativas de publicação. Escrevia apenas por prazer (ainda que mórbido), nem cheguei a mandar o livro para as editoras; tanto que minha publicação só foi acontecer 3 anos depois, em 2003, por um "acidente" (o Prêmio Conrado Wessel), que acabou tirando "Olívio" do armário.

Nos dedos de Lorena, "não preciso que diga o quanto de vermelho há em mim" era a expressão do seu desprezo pela opinião alheia, pelas avaliações dos psicólogos, dos legistas, dos transeuntes que apontavam sua hemorragia. Ela parece ser consciente de suas virtudes e doenças, "o vermelho que há nela", o que corre em suas veias, o que vaza pelas ruas.

Nos meus dedos, era uma forma de auto-afirmação, de mostrar que "não me importava a opinião da crítica", que eu não precisava que ninguém lesse e ninguém comentasse, eu tinha consciência da minha densidade.

Hoje isso faz sentido em Lorena, não em mim. Pois acabei publicando e vi que, por menor diferença que isso faça na vida dos outros, fez na minha. Eu conheci pessoas maravilhosas, fiz viagens, amigos e, ainda que de maneira indireta, é disso que eu vivo hoje em dia.

E a opinião de críticos, leitores e amigos é uma maneira de entender melhor as conseqüências e potencialidades do meu trabalho literário.

Por isso hoje resolvi também colocar "comments" no meu blog. Para quem quiser xingar e para quem quiser aplaudir. Acreditem ou não, conto nos dedos de uma das mãos do Presidente as críticas negativas que recebi. Talvez os amigos não tenham coragem, os leitores anônimos não queiram se expor e a crítica literária não perca tempo em publicar comentários negativos de um escritor em começo de carreira. Então, só chegam a mim elogios (e não posso reclamar da quantidade de emails, resenhas de jornais/revistas e elogios ao vivo que tenho recebido).

Aqui pode-se comentar sobre meus livros e sobre meus posts (que logicamente têm linguagens e finalidades completamente diferentes). De repente ninguém quer falar sobre meus livros, mas alguém tem algo sobre Tsai Ming-Liang. Acho ótimo. Estou fazendo tudo sozinho (neste blog). E apesar do design ainda ser precário, tem sido interessante ir conhecendo a linguagem html. Eu praticamente vou colocando a mãos nos fios para ver qual dá choque.

Não quero dominar o mundo. Sei que sempre haverá mais fãs de "É o Tcham" do que da minha escrita. Talvez esse meu coments – Quanto de vermelho há em mim? – seja basicamente para ouvir desaforos. O pior que pode acontecer é eu descobrir que ninguém se importa mesmo e ninguém quer comentar (ou talvez quem odeie meus livros não perca tempo de entrar no meu blog). Faz diferença sim, pode ter certeza de que cada crítica negativa me atinge e me faz sangrar. Mas também tem seu lado positivo. Muitas vezes é preciso cair da escada para receber o colo da mãe.

07/10/2004

TSAI MING-LIANG ME VISITOU.

Esses dias fui acordado com uma enorme ressaca pelo zelador do prédio no interfone falando de um "vazamento do meu apartamento". Já imagino os pedreiros quebrando o chão e perfurando minha paz. Não adianta trancar a porta, ligar a secretária eletrônica, pagar as contas em dia e ser um bom menino. Sempre surgem novidades. E novidades cotidianas são como pequenas tragédias para mim.

ALIÁS, "Feriado de Mim Mesmo", meu próximo romance (ou novela), é sobre isso.

E sobre isso também são muitos dos filmes do Tsai Ming Liang (principalmente "O Buraco" - a imagem de uma vida vazando sobre a outra...) Eu acho muito mais poético ver na tela do que no meu apartamento. Quem quiser saber um pouco mais sobre ele, pode checar no:

http://www.sensesofcinema.com/contents/directors/03/tsai.html

Meu filme favorito dele (e um dos meus favoritos de todos os tempos) é "Adeus Dragon Inn", que eu vi na Mostra do ano passado. É basicamente a última sessão de um cinema tradicional em Taiwan. Não tem muita história. É você sentado no cinema vendo os atores sentados no cinema, um exercício extremo de metalinguagem. Na sessão que eu fui, muita gente saiu no meio, muita gente ria de nervoso, principalmente pelos planos longuíiiiiissimos do diretor (que nesse filme vão ao limite). Ah, mas eu gosto. E é o tipo de coisa que só faz sentido ver no cinema mesmo.

Para quem acha que basta ter olhos puxados para o filme já ser "de arte", mostro mais uma prova ao contrário que tive nesta semana. Fui ver "Passagem Azul", no Cinesesc. Não entendi muito bem o que o filme fazia lá. É um draminha teen nada artístico, bem tolinho, embora tenha coisas bonitinhas...Se os atores abrissem mais os olhos, poderia ser um filme independente americano. E independência não é sinônimo de arte, nem morte. Mas enfim, eu prefiro ver teens de olhos puxados mesmo...

E (felizmente) como não são só vazamentos que chegam ao meu apartamento, recebi esta semana pelo correio dois livros do Rio. "Prosas Cariocas" – enviado pelo Flávio Izhaki – e "Memória dos Barcos" – do Marcelo Moutinho (que ALIÁS assinou hoje no JB uma matéria sobre "a nova prosa", com foto minha e tudo). Agradeço em público. Sempre adoro quando me mandam livros.


04/10/2004

AMIGUINHOS SUPERPODEROSOS

Nesta quarta (06/10) tem show de lançamento do cd do meu grande amigo Dan Nakagawa. Ele faz uma MPB moderna e bizarra, com ótimas letras. Eu vou estar lá, botando som antes do show, numa de minhas raras aparições como DJ, a partir das 21h. O local:

Octo – Inácio Pereira da Rocha 351

Vocês também podem vê-lo na telinha, participando do "Sítio do Pica-pau Amarelo" como um samurai, ou algo assim.

ALIÁS, meus amiguinhos estão mesmo no poder, hein? Nesta terça (05/10) o Ludov concorre em três categorias do VMB da MTV, inclusive Escolha da Audiência. Ainda dá pra entrar no site e votar. Façam isso.
www.mtv.com.br

O Ludov é uma banda mais do que talentosa, que só pode fazer o bem para nossas rádios e TVS. Eu os acompanho desde antes do início. ALIÁS, a Vanessa (vocalista) foi que me apresentou em 97 para a Fabbie, minha eterna ex-namorada que, ALIÁS, está se casando este mês.

Vocês podem saber mais sobre o Ludov no site deles: www.ludov.com.br

Eu, há muito que não sento num piano, o único instrumento que tentei tocar. Mas o mundo não está perdendo nada.


01/10/2004

Não curto botecos. Não freqüento barzinhos. Alguém poderia organizar uma antologia com escritores que vão à sorveteria?

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...