08/12/2004

O BOZO QUE VEIO DO INFERNO

A caravana da alegria já passou. Foi só um ataque de serotonina.

Para resgatar as trevas em meu coração, me lembrei dum filme que aluguei outro dia com o Daniel (ok, EU aluguei e o obriguei a assistir). É o “Palhaço Assassino” (“Clown House”) do Victor Salvia.

Calma, calma, leia até o fim, vai ficar bom.

Tudo bem, não é um filme bom (se bem que é capaz de entrar na lista do Carlão Reichenbach como um dos “melhores filmes de todos os tempos”, haha), mas tem algo de bem bizarro nele. A história é aquela coisa que você imagina, um bando de psicopatas vestidos de palhaços invadem uma casa onde moram três garotos adolescentes. A tosqueira é tanta que os garotos se livram dos palhaços em “grand clown style”, ou seja, eles usam truques idiotas de circo para vencer os psicos.

Mas o filme tem um leve toque surreal-onírico que o torna interessante. Eu não sabia exatamente o que era, até ler a biografia do diretor...

Victor Salvia foi preso logo depois de lançar esse filme. Foi descoberto que ele abusou sexualmente dos meninos e filmou tudo. Ou seja, a história dos palhaços em parte era verdadeira. Isso torna “Palhaço Assassino” praticamente um “snuff” lançado comercialmente!

Agora quer o endereço de onde eu aluguei? Haha. Não sei se é fácil de achar. Aqui numa locadora da Peixoto Gomide tem – VHS, claro.

Victor Salvia saiu da cadeia anos depois e voltou ao estrelato com “Olhos Famintos” (“Jeepers Creepers”), filme de terror que foi produzido por Francis Ford Copolla. A metade inicial do filme até que é boa, depois vira uma tosqueira. Ele se esforçou muito para criar um super-vilão como o Freddy, Jason e afins.

Esse filme também é protagonizado por um rapazola petiscável. Depois de amargar na cadeia Victor Salvia passou a trabalhar com “barely legal”.

Sabendo dessas histórias do diretor, os filmes deles ganham uma nova visão. Parecem todos uma grande alegoria de seus próprios desejos, fetiches e perversões. Não que se tornem filmes bons, mas com certeza se tornam mais assustadores.

Nessa etapa da “cruzada da sordidez”, quais são os filmes/livros mais pesados que vocês conhecem?

Filmes é fácil: “Saló” – do Pasolini (que também abusou de jovenzinhos, e foi assassinado por isso), é o principal, não dá para contestar. O filme é um terror terrível medonho, apesar da soberba cinematografia. Vocês sabem, é aquele sobre um grupo de fascistas que leva adolescentes para um castelo e os tortura de todas as formas, de maneira explicita.

Pior que eu fui assistir com uma menina em Porto Alegre que ficou o filme inteiro falando no celular...

Outro é “Requiem para um Sonho”, do Darren Aronofsky Foi o filme que me fez passar mais mal. Ele tem um efeito entorpecente impressionante (ou então eu tive alguma crise psíquica no meio da sessão). É um filme que reproduz no espectador o efeito avançado de drogas como heroína no cérebro.

Em terceiro deve vir “Audition”, do Takeshi Miike (que, ALIÁS, ei vi numa sessão do Carlão Reichenbach, no Cinesesc). Já falei deste filme aqui, não? Durante uma hora e meia o filme é uma comédia romântica super fofinha, depois entra num clima de pesadelo impressionante, daqueles que abre portas do seu inconsciente e coloca um gato miando lá dentro. Eu nunca vi nenhuma obra “carinhosa” ter esse poder.

Será mesmo que só é possível causar um impacto dessa magnitude no espectador com fontes funestas? Ou eu que sou insensível ao canto das cotovias?

Não, eu nunca chorei com E.T.

MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...